A Linguagem do Arcadismo

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

A Linguagem do Arcadismo é racional, clássica e sem rebuscamento, ou seja, adota um vocabulário simples.

Em oposição ao período anterior, o barroco, os escritores árcades propõem o equilíbrio clássico e a clareza das ideias. Os escritores do arcadismo negam, portanto, a provocação, rebeldia e dúvida expressa na linguagem utilizada pelos artistas barrocos.

Outra grande diferença entre a linguagem do barroco e do arcadismo é que, enquanto no barroco o uso de figuras de linguagem é recorrente (antítese, hipérbole, paradoxo, etc.), no arcadismo, os autores pouco utilizam, aproximando-se, assim, da linguagem denotativa.

Importante notar que os escritores árcades prezavam pela simplicidade da linguagem, expressa, sobretudo, nos sonetos (forma fixa literária muito utilizada por eles) de versos decassílabos (dez sílabas poéticas).

Além disso, eram chamados de “Poetas Fingidores”, porque utilizavam pseudônimos (nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina) em suas obras. Desta forma, os poetas simulavam sentimentos, bem como imitavam os clássicos renascentistas.

Lembre-se que o Arcadismo (também chamado de Setecentismo ou Neoclassicismo), de influência Iluminista, representou um movimento artístico-literário que vigorou no século XVIII no Brasil e no Mundo.

Lembre-se que o Iluminismo francês possuía três pilares que influenciaram a maneira de se expressar dos poetas árcades: natureza, razão e verdade.

As principais características do arcadismo são:

  • retorno ao clássico (cultura greco-romana);
  • bucolismo;
  • pastoralismo;
  • idealização amorosa;
  • escolha de temas cotidianos e relacionados com a natureza.

Tendências do Arcadismo

As tendências árcades estão relacionadas aos conceitos expressos em latim:

  • Fugere Urbem: Fuga da cidade, ou seja, expressa por uma vida simples, bucólica e pastoril no campo, em detrimento de uma vida urbana e materialista.
  • Locus Amoenus: Lugar ameno e agradável, ou seja, um lugar para viver que seja longe dos centros urbanos, onde reina a paz.
  • Aurea Mediocritas: Equilíbrio de ouro, ou seja, expressa a tranquilidade e a paz, rica em aspectos espirituais, donde se idealiza a vida mais simples no campo.
  • Inutilia Truncat: Cortar o inútil e buscar o equilíbrio, ou seja, denota a simplicidade da linguagem árcade em contraposição à linguagem rebuscada e culta do barroco.
  • Carpe Diem: Aproveite o momento e a vida, ou seja, termo expresso para indicar a efemeridade do tempo.

Arcadismo no Brasil

O Arcadismo no Brasil tem início em 1768 com a publicação de “Obras Poéticas” de Cláudio Manuel da Costa.

Além dele, os escritores árcades que tiveram destaque no país foram: Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Para compreender melhor a linguagem do Arcadismo segue abaixo um dos sonetos de Cláudio Manuel da Costa:

Ninfa cruel, que derramando agora
Vens o líquido orvalho cristalino,
Não confundas o pranto matutino
Co'as lágrimas gentis que Nise chora.

Não despertes, repousa, ó bela Aurora,
Que no berço em que alegre te imagino
Te acompanha outro amante peregrino,
Que Aurora mais feliz em ver-te adora.

Ela, porque seus raios vê diante,
O rosto banha em fúnebre lamento,
Sendo força deixar a Fábio amante.

Que direi desse ingrato movimento
Senão que foi vingança, ó Ninfa errante,
Da inveja que te deu seu luzimento.

Arcadismo em Portugal

O Arcadismo em Portugal começou em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana. Sem dúvida, Manuel Maria Barbosa du Bocage foi o que mais se destacou.

Além dele, outros autores árcades portugueses que merecem destaque são: António Dinis da Cruz e Silva, Correia Garção, Marquesa de Alorna e Francisco José Freire.

Para compreender melhor a linguagem do arcadismo português segue abaixo um soneto de Bocage:

Auto-Retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.