Crônica Argumentativa

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

A crônica argumentativa é um tipo de texto que funde aspectos da crônica e dos textos argumentativos, aproximando-se do artigo de opinião.

As crônicas são curtas, utilizam linguagem simples e abordam temas relacionados ao cotidiano. Os textos argumentativos apresentam o ponto de vista do autor e, assim, tentam persuadir o leitor.

A crônica argumentativa é muito utilizada pelos meios de comunicação, sobretudo os jornais e as revistas.

Como fazer uma crônica argumentativa?

crônica argumentativa

Para elaborar uma crônica argumentativa, primeiramente escolha um tema contemporâneo que queira abordar. Alguns exemplos são: a fome no mundo, o aumento do preço da gasolina, a economia brasileira na atualidade, uma briga entre vizinhos, o aumento do trânsito nas grandes cidades, dentre outros.

Feita a escolha, leia sobre o assunto, organize suas ideias e selecione argumentos.

Lembre-se que a crônica argumentativa tem que apresentar argumentos, senão trata-se de um texto meramente informativo.

Uma importante característica das crônicas é o teor crítico acentuado, com presença de humor, ironia e sarcasmo. Portanto, seja criativo!

Note que a crônica narrativa argumentativa narra uma breve história, com personagens, tempo e espaço. Ela pode conter diferentes tipos de discursos:

  • discursos diretos, com marca da fala dos personagens, por exemplo, o uso de travessão
  • discursos indiretos, com palavras dos personagens proferidas pelo narrador, ao invés de utilizar as marcas pessoais
  • discursos indiretos livres, que é a fusão dos dois tipos de discursos: direto e indireto.

Principais características da crônica argumentativa

As principais características de uma crônica argumentativa são:

  • Argumentação e persuasão;
  • Linguagem coloquial, simples e direta;
  • Textos relativamente curtos;
  • Temas cotidianos e polêmicos;
  • Crítica, humor e ironia;
  • Induz a reflexão;
  • Subjetividade e criatividade;
  • Fusão do estilo jornalístico e literário;
  • Poucos personagens, se houver;
  • Tempo e o espaço limitados;
  • Caráter contemporâneo.

Exemplo de crônica argumentativa

Segue abaixo um exemplo de crônica argumentativa. Nessa crônica, o autor apresenta um texto crítico e humorístico sobre o excesso de controle pelo qual as pessoas estão sujeitas na sociedade contemporânea.

Tem alguém aí?

Cheguei para uma reunião de trabalho um pouco antes do horário combinado e a secretária da autoridade pôs uma caixinha de madeira sobre a mesa, e avisou: é para deixar o telefone quando entrar. Na hora não entendi, mas um companheiro mais escolado me socorreu. “É para evitar grampo”, disse. “Medo de ser gravado”.

Eu sempre penso em mim como um sujeito de confiança. É uma das minhas raras virtudes, acho eu. Só falo mal de pessoas que merecem espinafração. Mas na antessala daquele gabinete, a autoridade deixava claro que não confiava em mim; mas antes que eu começasse a ficar amuado, fui me lembrando que, na verdade, eu sou suspeito.

Afinal, só um suspeito é vigiado 24 horas por dia, sete dias por semana, como acontece comigo. Não há um lugar em que eu vá que não tenha uma câmera acompanhando meus movimentos e agora sei como se sentia Ubaldo, o Paranoico, personagem das tirinhas do Henfil, que tinha certeza que estava sendo vigiado.

Encerrado o assunto com a autoridade, não resisti a um chiste quando ele perguntou se eu havia entendido a nossa conversa. “Está tudo gravado”, eu disse. Antes que ele tivesse um sobressalto, apontei para a cabeça. “Aqui”. Deixei escapar um sorriso, mas ele não pareceu entender. Depois me caiu a ficha: eu não havia gravado nada, mas não tinha tanta certeza de não ter sido gravado por alguma câmera escondida.

Saindo dali fui à farmácia depois de ter passado por uns três pardais de trânsito; lá dentro havia o cartaz – “Sorria, você está sendo filmado”. Embora o cartaz estivesse escondido atrás de uma estante, pelo menos era um aviso. No supermercado não vi aviso, mas tinha câmera; até ajeitei a camisa dentro da calça.

O fato é que dá saudade dos tempos em que as únicas câmeras escondidas eram as dos programas de televisão que mostram pegadinhas, para flagrar incautos em situações constrangedoras. Hoje todo mundo é um potencial espião – e, ao mesmo tempo, está sendo vigiado – como aquele velho quadrinho da revista Mad: Spy vs. Spy.

Na Feira do Paraguai tem botão de camisa que grava até duas horas de vídeo de boa qualidade, microfone disfarçado de brochinho e ligado a um gravador fica nas costas ou no bolso, captadores de som do tamanho de uma unha que pode ser deixado num canto da sala e transmitir para um gravador colocado fora do ambiente, relógio que filma sem atrasar as horas e mais um bocado de tralha para vigiar a vida alheia.

No mundo virtual é pior. Consultar ou comprar pelo computador equivale a entregar um pouquinho da nossa alma. Comprei o livro Trinta Segundos Sem Pensar no Medo, de Pedro Pacífico, e no mesmo momento em que fechava a conta, me ofereceram cinco outros livros que “poderiam interessar” a mim. Estou fichado. No fim, resta um consolo: pode ser que eu não me conheça direito, mas o computador da Amazon sabe exatamente quem sou e o que quero. É o meu analista.

(A Tem alguém aí, de Paulo Pestana, foi publicada no Correio Braziliense em 8 de outubro de 2023)

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Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.