Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Discurso Direto, Discurso Indireto e Discurso Indireto Livre são tipos de discursos utilizados no gênero narrativo para introduzir as falas e os pensamentos dos personagens. Seu uso varia de acordo com a intenção do narrador.

Discurso Direto

No discurso direto, o narrador dá uma pausa na sua narração e passa a citar fielmente a fala do personagem.

O objetivo desse tipo de discurso é transmitir autenticidade e espontaneidade. Assim, o narrador se distancia do discurso, não se responsabilizando pelo que é dito.

Pode ser também utilizado por questões de humildade - para não falar algo que foi dito por um estudioso, por exemplo, como se fosse de sua própria autoria.

Características do Discurso Direto

  • Utilização dos verbos da categoria dicendi, ou seja, aqueles que têm relação com o verbo "dizer". São chamados de "verbos de elocução", a saber: falar, responder, perguntar, indagar, declarar, exclamar, dentre outros.
  • Utilização dos sinais de pontuação - travessão, exclamação, interrogação, dois pontos, aspas.
  • Inserção do discurso no meio do texto - não necessariamente numa linha isolada.

Exemplos de Discurso Direto

  1. Os formados repetiam: "Prometo cumprir meus deveres e respeitar meus semelhantes com firmeza e honestidade.".
  2. O réu afirmou: "Sou inocente!"
  3. Querendo ouvir sua voz, resolveu telefonar:
    — Alô, quem fala?
    — Bom dia, com quem quer falar? — respondeu com tom de simpatia.

Discurso Indireto

No discurso indireto, o narrador da história interfere na fala do personagem preferindo suas palavras. Aqui não encontramos as próprias palavras da personagem.

Características do Discurso Indireto

  • O discurso é narrado em terceira pessoa.
  • Algumas vezes são utilizados os verbos de elocução, por exemplo: falar, responder, perguntar, indagar, declarar, exclamar. Contudo, não há utilização do travessão, pois geralmente as orações são subordinadas, ou seja, dependem de outras orações, o que pode ser marcado através da conjunção “que” (verbo + que).

Exemplos de Discurso Indireto

  1. Os formados repetiam que iriam cumprir seus deveres e respeitar seus semelhantes com firmeza e honestidade.
  2. O réu afirmou que era inocente.
  3. Querendo ouvir sua voz, resolveu telefonar. Cumprimentou e perguntou quem estava falando. Do outro lado, alguém respondeu ao cumprimento e perguntou com tom de simpatia com quem a pessoa queria falar.

Transposição do Discurso Direto para o Indireto

Nos exemplos a seguir verificaremos as alterações feitas a fim de moldar o discurso de acordo com a intenção pretendida.

Discurso Direto Discurso Indireto
Preciso sair por alguns instantes. (enunciado na 1.ª pessoa) Disse que precisava sair por alguns instantes. (enunciado na 3.ª pessoa)
Sou a pessoa com quem falou há pouco. (enunciado no presente) Disse que era a pessoa com quem tinha falado há pouco. (enunciado no imperfeito)
Não li o jornal hoje. (enunciado no pretérito perfeito) Disse que não tinha lido o jornal. (enunciado no pretérito mais-que-perfeito)
O que fará relativamente sobre aquele assunto? (enunciado no futuro do presente) Perguntou-me o que faria relativamente sobre aquele assunto. (enunciado no futuro de pretérito)
Não me ligues mais! (enunciado no modo imperativo) Pediu que não lhe ligasse mais. (enunciado no modo subjuntivo)
Isto não é nada agradável. (pronome demonstrativo em 1.ª pessoa) Disse que aquilo não era nada agradável. (pronome demonstrativo em 3.ª pessoa)
Vivemos muito bem aqui. (advérbio de lugar aqui) Disse que viviam muito bem . (advérbio de lugar )

Discurso Indireto Livre

No discurso indireto livre há uma fusão dos tipos de discurso (direto e indireto), ou seja, há intervenções do narrador, bem como da fala dos personagens.

Não existem marcas que mostrem a mudança do discurso. Por isso, as falas dos personagens e do narrador - que sabe tudo o que se passa no pensamento dos personagens - podem ser confundidas.

Características do Discurso Indireto Livre

  • Liberdade sintática.
  • Aderência do narrador ao personagem.

Exemplos de Discurso Indireto Livre

  1. Fez o que julgava necessário. Não estava arrependido, mas sentia um peso. Talvez não tenha sido suficientemente justo com as crianças…
  2. O despertador tocou um pouco mais cedo. Vamos lá, eu sei que consigo!
  3. Amanheceu chovendo. Bem, vou eu passar o dia assistindo televisão!

Nas orações destacadas os discursos são diretos, embora não tenha sido sinalizada a mudança da fala do narrador para a do personagem.

Exercícios de Vestibular com Gabarito

1. (Fatec-1995) "Ela insistiu: - Me dá esse papel aí."

Na transposição da fala do personagem para o discurso indireto, a alternativa correta é:

a) Ela insistiu que desse aquele papel aí.
b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali.
c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí.
d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí.
e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.

Alternativa e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.

2. (Fuvest-2000) Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando.

(Graciliano Ramos, Vidas secas)

Uma das características do estilo de Vidas Secas é o uso do discurso indireto livre, que ocorre no trecho:

a) “sinha Vitória falou assim”.
b) “Fabiano resmungou”.
c) “franziu a testa”.
d) “que lembrança”.
e) “olhou a mulher”.

Alternativa d) “que lembrança”.

3. (Fuvest-2003) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e… O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas.

Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás. O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!

(Luís Fernando Veríssimo, Comédias para se ler na escola)

O discurso indireto livre é empregado na seguinte passagem:

a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo.
b) Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena.
c) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade.
d) O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente.
e) O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta.

Alternativa a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo.

4. (Fuvest-2007) “‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.”

Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria:

a) gostasse.
b) gostava.
c) gostou.
d) gostará.
e) gostaria.

Alternativa c) gostou.

5. (FGV-2003) Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto.

a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho.
b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino. Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela.
c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas?
d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na secadora.
e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso.

Alternativa a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho.

Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.