Reforma Protestante

Thiago Souza
Revisão por Thiago Souza
Professor de Sociologia, Filosofia e História

A Reforma Protestante ocorreu no XVI e resultou na divisão do Cristianismo no Ocidente. Esse movimento foi liderado por Martinho Lutero e outros reformadores, que questionaram e criticaram práticas e doutrinas da Igreja Católica.

Assim, surgiram novas ramificações do cristianismo, tais como o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo, que se separaram da autoridade papal e adotaram uma abordagem mais aprofundada na Bíblia.

No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou na porta da igreja do Castelo as 95 teses que criticavam certas práticas da Igreja Católica. Este fato é considerado estopim da reforma que mudaria para sempre o cristianismo.

Atualmente, luteranos de todo mundo comemoram neste dia o "Dia da Reforma Protestante".

Estátua de Martinho Lutero em Wittemnber, na Alemanha, segurando uma Bíblia nas mãos
Estátua de Martinho Lutero, localizada em Witenberg, na Alemanha

Como se iniciou a Reforma de Lutero

A Reforma Protestante foi iniciada por Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano alemão e professor da Universidade de Wittenberg. Ele negava algumas práticas difundidas pela Igreja.

Em 1517, revoltado com a venda de indulgências realizada pelo dominicano João Tetzel, Lutero escreveu em documento com 95 pontos criticando a Igreja e o próprio papa.

Estas 95 teses de Lutero teriam sido pregadas na porta de uma igreja a fim de que seus alunos lessem e se preparassem para um debate em classe.

Alguns estudantes imprimiram e leram para a população, espalhando as críticas à Igreja Católica.

Em 1520, o papa Leão X redigiu uma bula condenando Lutero e exigindo sua retratação. Lutero queimou a bula em público, o que agravou a situação.

Já em 1521, o imperador Carlos V convocou uma assembleia, chamada "Dieta de Worms", na qual o monge foi considerado herege.

No entanto, Lutero foi acolhido por parte da nobreza alemã, que simpatizava com suas ideias e refugiou-se no castelo de Wartburg.

Ali, se dedicou à tradução da Bíblia do latim para o alemão, e a desenvolver os princípios da nova religião.

Seguiram-se guerras religiosas que só foram concluídas em 1555, pela "Paz de Augsburgo". Este acordo determinava o princípio de que cada governante dentro do Sacro Império poderia escolher sua religião e a de seus súditos.

As causas que originaram a Reforma Protestante

O processo de centralização monárquica que dominava a Europa desde o final da Idade Média, tornou tensa a relação entre reis e Igreja.

A Igreja - possuidora de grandes extensões de terra - recebia tributos feudais controlados em Roma pelo Papa.

Com o fortalecimento do Estado Nacional Absolutista, essa prática passou a ser questionada pelos monarcas que desejavam reter estes impostos no reino.

Parte dos camponeses também estava descontente com a Igreja, pois eles também lhe deveriam pagar taxas, como o dízimo.

Em toda Europa, mosteiros e bispados possuíam imensas propriedades e viviam às custas dos trabalhadores da cidade e dos campos.

A Igreja condenava as práticas capitalistas nascentes, entre elas a "usura" - a cobrança de juros por empréstimos - considerada pecado; e defendia a comercialização a "justo preço", sem lucro abusivo.

Esta doutrina estava em contra as novas práticas mercantilistas do fim da Idade Média e freava o investimento da burguesia mercantil e manufatureira.

No entanto, a desmoralização do clero, que apesar de condenar a usura e desconfiar do lucro, veio com a prática do comércio de bens eclesiásticos.

O clero fazia uso da sua autoridade para obter privilégios e a venda de cargos da Igreja, uma prática chamada de "simonia". Igualmente, muitos sacerdotes tinham esposas, apesar do celibato obrigatório, numa heresia conhecida como "nicolaísmo".

O maior escândalo foi a venda indiscriminada de indulgências, isto é, a remissão dos pecados em troca de pagamento em dinheiro a religiosos.

O que foi o Calvinismo e a relação na Reforma

A revolta e os ideais de Lutero se espalharam pelo continente europeu. Em cada região, o Luteranismo assumiu características diferentes, pois muitos religiosos passaram a estudar os escritos de Lutero e propor a renovação da Igreja.

Por outro lado, na França e na Holanda, os princípios de Lutero foram ampliados por João Calvino (1509-1564).

Pertencente à burguesia e influenciado pelo Humanismo e pelas teses luteranas, Calvino converteu-se em ardente defensor das novas ideias.

Escreveu a "Instituição da religião cristã", que veio a ser o catecismo dos calvinistas. Perseguido, refugiou-se em Genebra, na Suíça, onde a Reforma havia sido adotada.

Dinamizou o movimento reformista mediante novos princípios, completando e ampliando a doutrina luterana.

Determinou que não houvesse nenhuma imagem nas igrejas, nem sacerdotes paramentados. A Bíblia era a base da religião, não sendo necessária sequer a existência de um clero regular.

Para Calvino, a salvação não dependia dos fiéis e sim de Deus, que escolhe as pessoas que deverão ser salvas (doutrina da predestinação).

O Calvinismo expandiu-se rapidamente por toda a Europa, mais do que o luteranismo. Atingiu os Países Baixos e a Dinamarca, além da Escócia, cujos seguidores foram chamados de presbiterianos; na França, huguenotes; e na Inglaterra, puritanos.

Contrarreforma ou Reforma Católica

Por muito tempo se ensinou que a Contrarreforma foi o movimento que surgiu na Europa em consequência da expansão do protestantismo.

Atualmente, contudo, os historiadores preferem o termo Reforma Católica. Afinal, vários teólogos católicos como Thomas Morus e Erasmo de Roterdã já haviam escrito sobre a necessidade de mudar certos aspectos da Igreja, muito antes do próprio Lutero.

Desta maneira, a Igreja Católica acelera a tomada de uma série de providências para conter as ideias protestantes.

Uma delas foi apoiar a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros, conhecidos como jesuítas, tinham total confiança do papa e buscavam combater o protestantismo por meio do ensino e expansão da fé católica.

O que foi o Concílio de Trento e sua importância

Em 1545 e 1563, realizou-se o Concílio de Trento, com representantes da Igreja Católica de toda a Europa. Igualmente estavam presentes membros da igreja luterana e da ortodoxa.

Vejamos as principais decisões:

  • o clero regular, deveria estudar nos Seminários, caso quisessem tornar-se padres;
  • os párocos foram obrigados a morar em suas paróquias e dar atenção especial à pregação doutrinal;
  • proibiu-se a venda de cargos religiosos;
  • foi criado o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos pela Igreja, incluindo livros científicos de Galileu, Giordano Bruno, entre outros.

Leia também: Reforma e Contrarreforma e Renascimento

Questões de vestibular sobre a Reforma Protestante

1. (PUC-MG) Em 1517 começa, no Sacro Império Romano-Germânico, o movimento de reforma liderado por Martinho Lutero, que defendia:

a) a fé como elemento fundamental para a salvação dos indivíduos.
b) o relaxamento dos costumes dos membros da Igreja daquela época.
c) a confissão obrigatória, o jejum e o culto aos santos e mártires.
d) o princípio da predestinação e da busca do lucro por meio do trabalho.
e) o reconhecimento do monarca como chefe supremo da Igreja.

a) A fé como elemento fundamental para a salvação dos indivíduos.


2. (UEL) Dentre os fatores que contribuíram para a difusão do Movimento Reformista Protestante, no início do século XVI, destaca-se:

a) o cerceamento da liberdade de crítica provocado pelo Renascimento Cultural.
b) o declínio do particularismo urbano que veio a favorecer o aparecimento das Universidades.
c) o abuso político cometido pela Companhia de Jesus.
d) o conflito político observado tanto na Alemanha como na França.
e) a inadequação das teorias religiosas católicas para com o progresso do capitalismo comercial.

e) A inadequação das teorias religiosas católicas para com o progresso do capitalismo comercial.

Confira mais questões com gabarito comentado em Exercícios sobre a Reforma Protestante.

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Referências Bibliográficas

Delumeau, Jean - La Reforma. Col.Nueva Clio - la historia y sus problemas. Barcelona. Editorial Labor: 1985.

Thiago Souza
Revisão por Thiago Souza
Graduado em História e Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.