Cabanagem

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História

A Cabanagem ou a Guerra dos Cabanos foi uma revolta popular extremamente violenta, ocorrida de 1835 a 1840, na província do Grão-Pará.

A rebelião envolveu diferentes setores da sociedade. De um lado, a elite formada por fazendeiros e comerciantes tinha por objetivo garantir o poder político da província e assegurar seus interesses, que acreditavam ameaçados desde a Independência.

Por outro lado, a população pobre se rebelara contra a violência e as condições de trabalho, que muitas vezes os submetiam a condições semelhantes à escravidão.

Contexto histórico e político

Nos anos de 1835-1840, o Império do Brasil vivia o período regencial.

Dom Pedro I havia abdicado em favor do seu filho que tinha apenas cinco anos. Por isso, foi instituída a Regência, período entre 1831 e 1840, no qual o Brasil foi governado por lideranças políticas da capital do império.

Contudo, várias províncias não estavam satisfeitas com o poder centralizado e desejavam ter mais autonomia. Algumas, inclusive, queriam separar-se do Império do Brasil.

Insurreições como a Farroupilha, Balaiada e Sabinada, explodiram em todo território brasileiro.

Província do Grão-Pará

Grão Pará
Mapa mostrando a província do Grão-Pará, em vermelho

A província do Grão-Pará compreende os atuais estados de Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia.

Ao longo do período colonial, o Grão-Pará tinha mais contato com Lisboa do que com o Rio de Janeiro. Por isso, foi uma das últimas a aceitar a independência, passando a fazer parte do Império brasileiro em 1823.

A Revolta da Cabanagem teve um alcance considerável e se espalhou pelos rios Amazonas, Madeira, Tocantins e seus afluentes.

O nome do movimento faz alusão à moradia típica da população pobre da província, formada por ribeirinhos de origem indígena e negra, habitantes de cabanas construídas sobre palafitas às margens dos rios. “Cabanos” era o nome dado aos moradores dessas habitações e, por extensão, aos participantes da revolta.

Principais causas da revolta da Cabanagem

Dentre as principais causas da revolta podemos apontar:

  • As disputas políticas e territoriais entre as elites do Grão-Pará;
  • A ambição das elites locais em tomar as decisões político-administrativas da província;
  • O descontentamento com as decisões do governo regencial;
  • Os cabanos, por sua parte, queriam melhores condições de vida e trabalho.

Vale citar que, sobre isso, as referidas elites tomaram proveito da insatisfação popular para sublevar as populações contra o governo regencial.

O desenvolvimento da revolta (principais eventos e confrontos)

Desde a independência do Brasil, em 1822, as elites do Grão-Pará se ressentiam com a presença dos comerciantes portugueses na província.

No governo de D. Pedro I, os proprietários e comerciantes estavam insatisfeitos com o tratamento recebido por parte do governo central.

Além disso, sofriam com a repressão do Governador Bernardo Lobo de Sousa desde 1833, que ordenou deportações e prisões arbitrárias para quem se opusesse a ele.

Assim, em agosto de 1835, os cabanos se amotinam, sob a liderança dos fazendeiros Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre, culminando na execução do Governador Bernardo Lobo de Sousa.

Em seguida, indicam Malcher para presidente da província. Na ocasião, os revoltosos se apoderaram dos armamentos legalistas e se fortaleceram ainda mais.

Contudo, Malcher foi considerado um traidor pelo movimento, por atender as exigências do governo imperial e tentar reprimir os revoltosos, mandando prender Eduardo Angelim, um dos líderes do movimento. Após um sangrento conflito, Malcher é morto pelos “cabanos” e substituído por Francisco Pedro Vinagre.

Em julho de 1835, o então presidente da província recém-conquistada, aceita sua rendição mediante a anistia geral dos revolucionários e por melhores condições de vida para a população carente. Contudo, é traído e preso.

Cabangem
A luta na praça da Sé foi uma das mais sangrentas da Cabanagem

Inconformado, seu irmão, Antônio Vinagre, reorganiza as forças militares da cabanagem e ataca o Palácio de Belém, conquistando-o novamente em 14 de agosto de 1835.

Na ocasião, Eduardo Angelim é feito presidente de um governo republicano independente. No entanto, o desacordo entre os líderes do movimento enfraquece a revolta e facilitaram o contra-ataque legalista.

Assim, em 1836, enviado pelo regente Feijó, o Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa, comandante mor das forças regenciais do Grão-Pará, autoriza a guerra total aos cabanos. Ele ordena o bombardeio à Belém e aos assentamentos da cabanagem.

Desse modo, com a ajuda de mercenários estrangeiros e soldados imperiais, a revolta é sufocada. Eduardo Angelim é capturado e enviado ao Rio de Janeiro.

Por fim, em 1840, a maioria dos revoltosos já havia se dispersado ou tinham sido presos e mortos, devido às perseguições, que seguiram mesmo após 1836.

Com a ascensão de Dom Pedro II ao trono, em 1840, os prisioneiros foram anistiados.

Quem foram os líderes da Cabanagem

Entre os principais líderes destacam-se:

  • Félix Malcher: Inicialmente um dos líderes da revolta, chegou a ser presidente da Província do Grão-Pará após a tomada de Belém. Sua gestão, contudo, foi breve e marcada por divergências internas, levando à sua deposição e posterior execução pelos próprios cabanos.
  • Francisco Vinagre: Assumiu o controle após Malcher, mas sua liderança também foi curta devido a conflitos internos e descontentamentos.
  • Eduardo Angelim: Talvez o mais conhecido dos líderes cabanos, destacou-se por sua persistência e resistência, mesmo frente às adversidades e à intensa repressão imperial.

Consequências da Cabanagem

Embora a perseguição tenha sido violenta, alguns revolucionários conseguiram escapar e fugiram para a floresta, o que permitiu a sobrevivência dos ideais da cabanagem mesmo após sua derrota.

A Cabanagem deixou uma carnificina de mais de trinta mil mortos, cerca 30% a 40% da população da província à época. Dizimou populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas, bem como membros da elite local.

Também desorganizou o tráfico de escravos e os quilombos se multiplicaram na região.

Curiosidades

  • As mulheres foram fundamentais na Cabanagem, pois eram elas que levavam informações e comida para o bando revoltado.
  • A Cabanagem foi uma das poucas revoltas do período regencial que congregou várias classes sociais.
  • Em Belém existe o Memorial da Cabanagem que abriga os restos mortais dos líderes da revolta.
  • Em 2016, a Cabanagem inspirou um musical, escrito por Valdecir Manuel Affonso Palhares e com música de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage.

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Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.