Carlos Lacerda

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

Carlos Lacerda (1914-1977) foi um escritor, empresário e político brasileiro.

Orador brilhante e opositor ferrenho de Getúlio Vargas sofreu um atentado que precipitou o suicídio do presidente.

Fundou o jornal "Tribuna da Imprensa" e a Editora Nova Fronteira.

Biografia de Carlos Lacerda

Carlos Lacerda nasceu no Rio de Janeiro, mas acabou sendo registrado na cidade de Vassouras, no mesmo estado.

Sua família era ligada à política. O pai, Maurício de Lacerda, foi prefeito de Vassouras em duas ocasiões e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O avô paterno, Sebastião Lacerda, tinha sido ministro do Supremo Tribunal Federal e Ministro dos Transportes do governo de Prudente de Moraes.

Carlos Lacerda
Carlos Lacerda

Carlos Lacerda cursou Direito na UFRJ, mas envolveu-se em política nos centros acadêmicos e não concluiu o curso.

Nesta época, defendia as ideias comunistas e em 1934 leu o manifesto de fundação da Aliança Nacional Libertadora (ALN).

Esta organização congregava militantes do PCB e pessoas insatisfeitas com o modo que a Revolução de 30 estava sendo conduzida.

Mais tarde, romperia com as ideias comunistas e o partido. Tornou-se, então, uma das vozes contrárias ao Estado Novo e atacava Getúlio Vargas com sua oratória ferina.

Com a renúncia de Vargas em 1945 e à convocação de eleições, elege-se vereador. Posteriormente, seria deputado estadual pela União Democrática Nacional (UDN).

Em 1949, funda o jornal “Tribuna da Imprensa”, no Rio de Janeiro, dedicado a fazer oposição a Getúlio Vargas, que anunciara sua candidatura à presidência.

Com a vitória de Vargas, os ataques ao governo continuaram com mais vigor e Lacerda passa a receber ameaças de morte.

Atentado da Rua Tonelero

No dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda sofre um atentado na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro.

Lacerda se encontrava acompanhado do major da Aeronáutica, Rubens Vaz, que fazia parte do grupo de seguranças voluntários que protegiam o político. O major morreu e Lacerda recebeu um tiro de raspão no pé.

Insatisfeita com o regime de Vargas, a Aeronáutica fez a sua própria investigação, no que foi conhecido como a República do Galeão.

Carlos Lacerda atentado
Capa do jornal Tribuna da Imprensa pedindo a renúncia de Vargas

A polícia, por sua vez, prendeu os suspeitos que confessaram agir de acordo com as ordens de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas.

Aproveitando a indignação popular, Lacerda escreveu continuamente na Tribuna da Imprensa editoriais que exigiam a renúncia de Vargas. Com o ultimato das Forças Armadas, Vargas prefere suicidar-se a sair do Palácio do Catete.

Entretanto, o suicídio de Vargas causa uma enorme comoção nacional. Lacerda não esperava que a população se voltasse contra ele e seu jornal é atacado.

Decide sair do país e só retornaria durante a posse de JK, o qual tentou impedir de assumir a presidência com um fracassado golpe de Estado.

Lacerda torna-se, então, um dos principais críticos da construção de Brasília.

Governador do Estado da Guanabara

Em 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, são criados dois estados:

  • o estado da Guanabara, que correspondia à antiga capital ou a atual cidade do Rio de Janeiro;
  • o estado do Rio de Janeiro, cuja capital era a cidade de Niterói.

Carlos Lacerda candidata-se e vence a eleições para governador do Estado da Guanabara. Durante seu mandato, realiza importantes obras de remodelação urbana na Zona Sul, como o túnel Rebouças, o parque da Catacumba e o Aterro do Flamengo.

Igualmente, construiu a Universidade Estadual da Guanabara (UEG), que posteriormente se tornaria a UERJ, e a estação de tratamento de água e esgoto do Guandu.

No entanto, seu governo foi marcado por ações controversas como a remoção de favelas e o deslocamento de seus habitantes para zonas afastadas e sem infraestrutura da cidade. Esses conjuntos habitacionais deram origem à Cidade de Deus e à Vila Kennedy.

Também a polícia militar foi acusada de assassinar mendigos e jogar os corpos no rio da Guarda, com a anuência do governador e da então secretária de Serviços Sociais, Sandra Cavalcanti.

Diante da polêmica, Lacerda demitiu o Secretário de Segurança Pública, mas nunca ficou provado o envolvimento dos dirigentes da corporação.

Ditadura Militar

Anticomunista histórico, Carlos Lacerda foi um dos articuladores civis do Golpe de 1964. Inclusive, deu uma série de entrevistas nos Estados Unidos defendendo as Forças Armadas.

Ele declarou que a Revolução de 64 havia devolvido ao Brasil à normalidade e à ordem. No entanto, mudaria de opinião dois anos depois, quando o mandato do general Castelo Branco foi prorrogado e se instalaria a Ditadura Militar no Brasil.

Assim, reúne seus antigos desafetos, Juscelino Kubitschek e João Goulart, na Frente Ampla, que reuniria os descontentes com os militares.

Morte

Devido às mortes dos seus principais membros, a Frente Ampla não chega a concretizar suas ações. Lacerda morre em 1977, no Rio de Janeiro, vítima de um infarto.

Curiosidades

  • Devido a sua oposição aos presidentes que estavam no poder, Lacerda ficou conhecido como “Demolidor de Presidentes”.
  • O proprietário do jornal “A Última Hora”, Samuel Weiner, adversário e concorrente de Lacerda, pediu ao cartunista Lan que o desenhasse como um corvo. O desenho e o apelido foram usados largamente pelos opositores de Lacerda.
  • Carlos Lacerda teve suas condecorações restituídas, post-mortem, em 1987. Também dá nome a avenidas, escolas e ruas por conta de suas atividades políticas e literárias.

Frases de Carlos Lacerda

  • "O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar."
  • “O futuro não é o que se teme. O futuro é o que se ousa."
  • “A impunidade gera a audácia dos maus.”
  • “Quem não foi comunista aos dezoito anos, não teve juventude, quem é depois dos trinta não tem juízo."
  • “O momento culminante da minha vida pública foi chegar ao poder. O poder é muito bom. Não adianta querer enganar”.
  • “Não gosto de política... gosto é do poder. Política para mim é um meio para chegar ao poder.”

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.