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Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim: — Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem. Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
SABINO,F. Folha de S.Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que
o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.
o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.
realça a importância da xilogravura sobre o clichê.
oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.
demonstra a utilidade desses textos para a catequese.
revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.
auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
A SSIS, M. Memórias póstum as de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.
atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.
menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.
insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D.(Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
visão cética sobre as relações sociais.
preocupação com a identidade brasileira.
crítica velada à forma de governo vigente.
reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
questionamento das práticas pagãs na Bahia.
estratégia para estimular relações de amizade.
espaço para exposição de opiniões e circulação de ideias.
gênero discursivo substituto dos tradicionais diários pessoais.
ferramenta para aperfeiçoamento da comunicação virtual escrita.
recurso para incentivar a ajuda mútua e a divulgação da rotina diária.
E se a água potável acabar? O que aconteceria se a água potável do mundo acabasse?
As teorias mais pessimistas dizem que a água potável deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ninguém mais tomará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por semana. Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu abastecimento será interrompido. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros de água para produzir 1 kg de carne. Mas, não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de grãos da América Latina em 2012, não conseguiria manter a produção. Afinal, no país, a agricultura e a agropecuária são, hoje, as maiores consumidoras de água, com mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijão, soja, milho e outros grãos.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012.
A língua portuguesa dispõe de vários recursos para indicar a atitude do falante em relação ao conteúdo de seu enunciado. No início do texto, o verbo “dever” contribui para expressar
uma constatação sobre como as pessoas administram os recursos hídricos.
a habilidade das comunidades em lidar com problemas ambientais contemporâneos.
a capacidade humana de substituir recursos naturais renováveis.
uma previsão trágica a respeito das fontes de água potável.
uma situação ficcional com base na realidade ambiental brasileira.
nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
nos elementos que servem de inspiração ao cronista.
nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.
no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica.
nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.
realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
Era um dos meus primeiros dias na sala de música. Afim de descobrirmos o que deveríamos estar fazendo ali, propus à classe um problema. Inocentemente perguntei: — O que é música?
Passamos dois dias inteiros tateando em busca de uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejeitar todas as definições costumeiras porque elas não eram suficientemente abrangentes.
O simples fato é que, à medida que a crescente margem a que chamamos de vanguarda continua suas explorações pelas fronteiras do som, qualquer definição se torna difícil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições, ele ventila a arte da música com conceitos novos e aparentemente sem forma.
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991 (adaptado).
A frase “Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições”, na proposta de Schafer de formular uma nova conceituação de música, representa a
acessibilidade à sala de concerto como metáfora, num momento em que a arte deixou de ser elitizada.
abertura da sala de concerto, que permitiu que a música fosse ouvida do lado de fora do teatro.
postura inversa à música moderna, que desejava se enquadrar em uma concepção conformista
intenção do compositor de que os sons extramusicais sejam parte integrante da música.
necessidade do artista contemporâneo de atrair maior público para o teatro.
eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados...
CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repetição de “né”. Essa repetição é um(a)
índice de baixa escolaridade do falante.
estratégia típica de manutenção da interação oral.
marca de conexão lógica entre conteúdos na fala.
manifestação característica da fala regional nordestina.
recurso enfatizador da informação mais relevante da narrativa.