Gabriel García Márquez

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

Gabriel García Márquez (1927-2014) foi um jornalista, escritor e roteirista colombiano. Considerado um dos maiores escritores do século XX, destacou-se como um dos representantes do realismo mágico latino-americano.

Autor de Cem anos de solidão e O amor nos tempos de cólera, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra.

Biografia

Gabriel García Márquez nasceu em Aracataca, no departamento de Madalena, Colômbia. O pai telegrafista e a mãe, dona de casa, se esforçaram para lhe dar uma boa educação.

Passou a primeira infância com os avós e escutava suas histórias, reais ou inventadas, sobre as guerras civis, os costumes familiares e lendas da região. Em família e para os amigos seria conhecido pelo apelido de "Gabo".

Foto de Gabriel Garcia Marquez
Gabriel García Márquez

Frequentou a escola pública local e teve seu gosto pela despertado pela poesia e a literatura ali. Em 1940, estudaria em Bogotá, o que seria um trauma, por não adaptar-se ao clima frio da cidade.

Em 1947, ingressaria na Universidade Nacional, onde tinha a intenção de estudar Direito, mas nunca se formou, empregando-se como vendedor de enciclopédias e jornalista.

Neste mesmo ano, publicou seu primeiro conto no jornal “El Espectador”. Apesar das penúrias financeiras, García Márquez forjava nas redações e discussões literárias seu estilo único.

Trabalhou como colunista do “El Universal", de Cartagena, onde também travou conhecimento com jovens literários que formariam o “Grupo de Barranquilla”.

Este grupo discutia autores como William Faukner, Virginia Wolf, Albert Camus, entre outros, além de frequentar festas e prostíbulos da cidade.

Na década de 50 teve a oportunidade de conhecer a Europa no pós-guerra. Vive em Roma durante quase um ano e ali pode estudar cinema, que sempre foi sua segunda paixão, após a literatura.

Posteriormente, em 1958, passaria uma temporada na Europa como correspondente internacional. Estabeleceu-se em Paris, mas viajou por vários países, inclusive da Europa Oriental e chegou a Moscou.

De volta à Colômbia, casa-se com Mercedes Barcha, com quem teria dois filhos. Como repórter da agência Prensa Latina, se estabeleceu em Havana, onde acompanhou a consolidação da Revolução Cubana.

Tornou-se amigo de Fidel Castro, o que lhe valeria várias críticas, por conta das violações dos Direitos Humanos cometidas pelo regime cubano. Em Cuba fundaria e daria cursos na Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Havana.

Devido aos seus posicionamentos políticos, García Márquez deixa a Colômbia definitivamente e passa a viver no México.

Em 1967, publica pela editorial Sul-Americana, de Buenos Aires, Argentina, a sua grande obra literária “Cem Anos de Solidão”.

O livro seria um sucesso total e abriria as portas para uma geração de autores latino-americanos que renovariam o panorama da literatura do continente e do mundo.

Gabriel Garcia Marquez no Nobel
Gabriel García Márquez recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1982

Em 1982 receberia o prêmio Nobel de Literatura e toma a decisão de não aceitar nenhum prêmio literário após este.

Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão.

E se estas dificuldades, cuja essência compartilhamos, nos atrasa, é compreensível que os talentos racionais desta parte do mundo, exaltados na contemplação de sua própria cultura, se encontrem sem meios apropriados de nos interpretar.

É simplesmente natural que eles insistam em nos medir com o mesmo bastão que medem a si mesmos, se esquecendo de que as intempéries da vida não são as mesmas para todos, e que a busca pela nossa própria identidade é tão árdua e sangrenta para nós quanto foi para eles.

A interpretação de nossa realidade em cima de padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos, ainda menos livres, ainda mais solitários.”

(Trecho do Discurso de Gabriel García Marquez ao ganhar o Prêmio Nobel)

Ainda que tenha sido celebrado como um dos maiores escritores em língua espanhola do século XX, Gabo foi fiel a sua promessa. Seguiria escrevendo romances, contos, peças e roteiros para cinema e televisão, até ser atacado por uma enfermidade que o fez perder a memória.

Gabriel García Márquez faleceu dia 17 de abril de 2014, na Cidade do México.

Obras

  • O enterro do diabo: A revoada (La Hojarasca) (1955)
  • Relato de um náufrago (1955)
  • Ninguém escreve ao coronel (1961)
  • Os funerais da mamãe grande (1962)
  • Má hora: o veneno da madrugada (1962)
  • Cem anos de solidão (1967)
  • Olhos de cão azul (1974)
  • A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada (1978)
  • O Outono do Patriarca (1975)
  • Crônica de uma morte anunciada (1981)
  • Cheiro de goiaba (Entrevista) (1982)
  • O Amor nos tempos do cólera (1985)
  • A aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile (1986)
  • Um general em seu labirinto (1989)
  • Doze contos peregrinos (1992)
  • Do amor e outros demônios (1994)
  • Notícias de um Sequestro (1996)
  • Como contar um conto (2001)
  • Viver para contar (2002)
  • Memória de minhas putas tristes (2004)
  • Obra Jornalística 1: Textos Caribenhos (2005)
  • Obra Jornalística 2: Textos Andinos (2005)
  • Obra Jornalística 3: Da Europa e América (2005)
  • Obra Jornalística 4: Reportagens Políticas (2005)
  • Obra Jornalística 5: Crônicas, 1961-1984 (2005)
  • Eu não vim fazer um discurso (2010)

Cem Anos de Solidão

Cem anos de solidão (Cien años de soledad, título original) foi publicada em 1967 no período denominado o “boom” da literatura latino-americana. Esse romance é, sem dúvida, a obra mais importante de Gabriel García Márquez e ainda, uma das mais destacadas da literatura latino-americana dos anos 60.

O romance possui características do realismo mágico ou fantástico, que ocorre pela fusão de elementos reais e fantásticos. Por meio desse mecanismo, o escritor apresenta uma metáfora da condição humana, da sociedade e da realidade latino-americana, ao mesmo tempo que critica padrões e realiza diversos questionamentos.

Assim, Márquez revela com grande maestria ao apresentar a história de uma família com um toque de fantasia. As experiências e ações de seus personagens revelam a solidão presente nos encontros e desencontros da vida, além de temas como a opressão, as forças da natureza, os problemas sociais e políticos, a violência e claro, as lutas pelo poder.

A história se passa na pacata vila de Macondo, onde viviam cerca de 300 pessoas. Esse espaço fictício representa, a grosso modo, a realidade da América Latina, marcada pela revolução, pelas lutas e por uma solidão histórica inerente ao nosso povo. Gabo, realiza essa interpretação simbólica da América Latina unindo o mito com a realidade e a política com a literatura.

Repleto de personagens, o romance apresenta a genealogia da família Buendía, fundadora da vila Macondo. Da primeira geração, temos o casal José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, que viveu por mais de 100 anos. Assim, o escritor nos mostra características peculiares e tão humanas por meio do perfil psicológico de seus personagens através de 7 gerações.

Na parte final de seu discurso do Prêmio Nobel, o autor salientou:

Cara a cara com esta realidade horrenda que pode ter parecido uma mera utopia em toda a existência humana, nós, os inventores das fábulas, que acreditamos em qualquer coisa, nos sentimos inclinados a acreditar que ainda não é tarde demais para nos engajarmos na criação da utopia oposta.

Uma nova e avassaladora utopia da vida, onde ninguém será capaz de decidir como os outros morrerão, onde o amor provará que a verdade e a felicidade serão possíveis, e onde as raças condenadas a cem anos de solidão terão, finalmente e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra.”

Frases

  • Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
  • Não se é de parte nenhuma enquanto não se tem um morto debaixo da terra.
  • O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café.
  • Tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte.
  • A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias.
  • Não poderia entender a minha vida, tal como é, sem a importância que nela tiveram as mulheres.
  • A ternura é inerente não às mulheres, mas aos homens. As mulheres sabem que a vida é muito dura.
  • As estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.

Filmes

Vários contos e romances do autor colombiano foram levados às telas de cinema.

  • En este pueblo no hay ladrones, de Alberto Isaac (1964)
  • La viuda de Montiel, de Miguel Littín (1979)
  • Eréndira, de Ruy Guerra (1983)
  • Crónica de una muerte anunciada, de Francesco Rosi (1987)
  • El coronel no tiene quien le escriba, de Arturo Ripstein (1999)
  • El amor en los tiempos del cólera, de Mike Newell (2007)
  • Del amor y otros demonios, de Hilda Hidalgo (2009)
  • Memoria de mis putas tristes, de Henning Carlsen (2012)
Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.