Greve Geral de 1917: o que foi, as principais características e causas
A Greve Geral de 1917 foi um movimento provocado pelos operários e comerciantes da cidade de São Paulo e municípios próximos nos meses de junho e julho.
Os trabalhadores pediam melhores condições de trabalho e aumento de salário, em um contexto de aumento do custo de vida em consequência da Primeira Guerra Mundial.
O movimento também teve repercussões em outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.
Causas da Greve
As motivações da Greve Geral de 1917 se inserem em um contexto internacional mais amplo. Naquele mesmo ano, movimentos de trabalhadores ocorreram em várias partes do mundo.
Em 1917, o mundo vivia a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que fazia estragos econômicos e sociais nos países europeus, tendo consequências na economia de todo o mundo. Igualmente, assistia à tomada do poder por socialistas e comunistas na Rússia.
Mesmo distante da Primeira Guerra Mundial, o Brasil vivia um período de instabilidade econômica provocada pela escassez de alimentos e, consequentemente, de inflação.
Em decorrência da guerra, houve aumento da produção industrial brasileira, cujos produtos substituíram os importados. Em consequência, houve alta de preços e aumento excessivo das jornadas de trabalho nas fábricas.
Porém, o aumento da produção e das horas de trabalho não foram acompanhados pelo aumento salarial aos trabalhadores. Estes passaram a se organizar em movimentos contra a “carestia”, isto é, contra o aumento do custo de vida.
Organização do Movimento Operário no Brasil
As primeiras fábricas, no Brasil, começaram a abrir, atraindo camponeses que buscavam, na cidade, melhores oportunidades de salário e vida. As condições de trabalho nessas fábricas eram as piores possíveis. Não havia legislação trabalhista, as jornadas duravam até 16 horas por dia, mulheres e crianças realizavam trabalhos pesados e as questões laborais eram resolvidas com a polícia.
Os operários, na Primeira República, eram organizados em sindicatos estaduais.
A única entidade, a nível nacional, era a Confederação Operária Brasileira, fundada em 1906, por iniciativa dos sindicatos do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia.
Também havia as “Sociedades de Socorro Mútuo” e “Caixas Beneficentes” que tinham caráter social. Estas instituições garantiam assistência médica e indenizações por acidentes de trabalho aos seus membros.
O cenário mudou quando imigrantes italianos e espanhóis, que vinham trabalhar nas fábricas paulistanas, começaram a divulgar os princípios anarquistas e socialistas através de jornais operários.
Os jornais operários chamavam a atenção para a necessidade de organização e mobilização dos trabalhadores, a fim de garantir direitos trabalhistas.
Em 1917, já havia no Brasil um movimento de reorganização sindical. Em maio daquele ano foram fundadas, na cidade de São Paulo, as ligas operárias do Belenzinho e da Mooca. Desde o início de 1917, vinham ocorrendo interrupções parciais do trabalho em diversas fábricas paulistanas, e houve greve dos trabalhadores das pedreiras de Cotia e Ribeirão Pires.
O início da Greve
A paralisação começou no final de junho no Cotonifício Crespi, uma grande fábrica de tecidos que empregava cerca de 1500 trabalhadores no bairro da Mooca. Os operários pediam aumento de salário, redução da jornada de trabalho, proibição do trabalho infantil e do trabalho feminino à noite.
Esse movimento se espalhou por outras grandes fábricas da época, como a Ypiranga Jafet, Matarazzo e Companhia Antarctica Paulista, provocando a adesão de cada vez mais operários. Ao longo do mês de julho, várias fábricas e categorias de trabalhadores somaram-se à greve.
Para organizar o movimento, em 09 de julho de 1917 foi criado o Comitê de Defesa Proletária, formado por líderes sindicais, anarquistas e socialistas. Entre as principais lideranças, estavam Edgard Leuenroth, Luigi Damiani, Antonia Soares, Candeias Duarte, Teodoro Monicelli e Giuseppe Sgai.
Um dos principais nomes do Comitê, Edgard Leuenroth foi um gráfico e jornalista e um dos principais líderes anarquistas de São Paulo.
A repressão policial ao movimento causou a morte de pelo menos 200 pessoas. Uma em particular, a do sapateiro espanhol José Gimenez Martinez, um jovem militante anarquista morto nos embates de rua, causou grande comoção, quando milhares de pessoas acompanharam seu enterro no cemitério do Araçá.
Em 12 de julho, a greve estava espalhada por toda a cidade. São Paulo amanhece com fábricas, comércios e transportes parados. A greve dos trabalhadores da Light (companhia de energia elétrica) interrompeu o serviço dos bondes.
Reivindicações da Greve
As principais reivindicações dos trabalhadores durante a Greve Geral de 1917 eram:
- Jornada de trabalho de oito horas;
- Fim do trabalho de crianças e restrições à contratação de mulheres e adolescentes;
- Segurança no trabalho;
- Pontualidade no pagamento dos salários;
- Aumento salarial;
- Redução do custo de vida;
- Direito de sindicalização;
- Libertação dos trabalhadores presos durante a greve;
- Recontratação de todos os grevistas demitidos.
Diante da forte repressão policial, os operários se recusam a negociar diretamente com os patrões e jornalistas se encarregam de formar uma comissão intermediadora entre empresários, governo e o Comitê de Defesa Proletária.
Entre 14 e 16 de julho, vários empresários assinaram acordos para pôr fim à greve, aceitando o conjunto de reivindicações dos grevistas. Aos poucos, os trabalhadores foram retomando a seus postos, até que a situação se normalizasse já no final de julho.
Consequências da Greve
A Greve Geral de 1917 deixou marcas entre os trabalhadores urbanos brasileiros.
A principal delas foi o desenvolvimento do movimento operário no Brasil. A greve impulsionou a formação de sindicatos e organizações que lutaram pela melhoria das condições de trabalho.
Em 1917, trabalhadores envolvidos no movimento obtiveram algumas de suas reivindicações, como o aumento salarial. Porém, uma melhora significativa nas condições de trabalho e o estabelecimento de uma legislação trabalhista no Brasil demoraria mais tempo para ocorrer.
Entre as consequências negativas, houve o aumento da perseguição aos anarquistas e socialistas, acusados de inflamar a classe trabalhadora com ideias estrangeiras.
A Lei de Expulsão de Estrangeiros, aprovada poucos anos depois, em 1921, tinha os anarquistas e socialistas como seus principais alvos. Lideranças do movimento 1917, como o socialista Teodoro Monicelli e o anarquista Luigi Damiani, foram condenados à expulsão do país.
Leia também:
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Referências Bibliográficas
BIONDI, Luigi. Greve Geral de 1917. Atlas Histórico do Brasil, FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbetes/greve-geral-de-1917 (acesso em 23/05/2024).
TOLEDO, Edilene. Um ano extraordinário: greves, revoltas e circulação de ideias no Brasil em 1917. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 30, nº 61, p. 497-518, maio-agosto 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S2178-14942017000200011 (acesso em 23/05/2024).
CASTRO, Ligia. Greve Geral de 1917: o que foi, as principais características e causas. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/greve-geral-de-1917/. Acesso em: