Coesão Referencial

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

A coesão referencial é um mecanismo de coesão textual que colabora com a textualidade através do uso de elementos coesivos. Ela conecta as diversas partes de um texto, sejam palavras, orações e períodos.

Trata-se de um recurso coesivo que ocorre quando um termo ou expressão que já foi citado no texto é retomado por meio de outro termo que o substitui.

O que foi mencionado anteriormente é chamado de referente textual, enquanto o termo que o remete é denominado de correferente.

Sua função é extremamente importante para a coerência textual, visto que permite que o leitor identifique os termos referidos no texto.

Exemplo: Sara saiu essa manhã de casa. Ela foi trabalhar na loja e mais tarde foi ao curso de dança.

De acordo com o exemplo, o termo "ela" retoma o sujeito "Sara", evitando assim, a repetição desnecessária.

Classificação

A coesão referencial pode ocorrer de diversas maneiras e os mecanismos mais utilizados são: a anáfora, a catáfora, a elipse e a reiteração.

Anáfora

A anáfora retoma o referente por meio de um elemento coesivo que pode ser: artigos, advérbios, pronomes e numerais. Nesse caso, o referente textual já foi mencionado anteriormente no texto.

"De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu. Cuidai dela porque meu poder é só mostrá-la para que vós a reconheçais na rua, andando de leve por causa da esvoaçada magreza."

(A hora da estrela de Clarice Lispector)

Os termos destacados retomam o referente citado anteriormente no texto: "pessoa inteira".

Catáfora

A catáfora, diferente da anáfora, antecipa o referente, ou seja, o referente textual surge após o elemento coesivo. Geralmente, ela é empregada por meio de pronomes demonstrativos e indefinidos.

"Há três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade". (Buda)

No exemplo acima, o correferente antecede o referente por meio da expressão "três coisas".

Elipse

A elipse é a omissão de um ou mais termos da frase, no entanto, sendo facilmente identificáveis pelo leitor. Ela é bastante utilizada para evitar a repetição desnecessária.

"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."

(Trecho do poema Motivo de Cecília Meireles)

No exemplo acima temos a omissão do pronome “Eu” na terceira linha do poema: (Eu) Não sou alegre nem sou triste.

Reiteração

A reiteração corresponde a repetição de elementos referenciais no texto. Ela pode ocorrer por meio repetição do mesmo item lexical, por termos sinônimos ou mesmo por nomes genéricos (coisa, gente, negócio, etc.)

Cada um é responsável por todos. Cada um é o único responsável. Cada um é o único responsável por todos.” (Antoine de Saint-Exupéry)

Exercícios com Gabarito

1. (Enem-2009)

Páris, filho do rei de Troia, raptou Helena, mulher de um rei grego. Isso provocou um sangrento conflito de dez anos, entre os séculos XIII e XII A.C. Foi o primeiro choque entre o ocidente e o oriente. Mas os gregos conseguiram enganar os troianos. Deixaram à porta de seus muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos, felizes com o presente, puseram-no para dentro. À noite, os soldados gregos, que estavam escondidos no cavalo, saíram e abriram as portas da fortaleza para a invasão. Daí surgiu a expressão "presente de grego".

Em "puseram-no", a forma pronominal "no" refere-se:

a) ao termo "rei grego".
b) ao antecedente "gregos".
c) ao antecedente distante "choque".
d) à expressão "muros fortificados".
e) aos termos "presente" e "cavalo de madeira".

Alternativa e) aos termos "presente" e "cavalo de madeira".

2. (Enem-2014)

Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crônica de jornal ‒ eu não fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas vezes também é feita, intencionalmente, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para reclamar: moderna demais, antiquada demais.

Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um montão de recados: “Você escreveu exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”, “É isso que digo para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem nesses tempos andava meio assim: é como me botarem no colo ‒ também eu preciso. Na verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos que iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério… mesmo quando parece que estou brincando: essa é uma das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar.

LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de janeiro: Record, 2004.

Os textos fazem uso constante de recurso que permitem a articulação entre suas partes. Quanto à construção do fragmento, o elemento

a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de jornal”.
b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”.
c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”.
d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus pais”.
e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”.

Alternativa a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de jornal”.

3. (Enem-2016)

“Ela é muito diva!”, gritou a moça aos amigos, com uma câmera na mão. Era a quinta edição da Campus Party, a feira de internet que acontece anualmente em São Paulo, na última terça-feira, 7. A diva em questão era a cantora de tecnobrega Gaby Amarantos, a “Beyoncé do Pará”. Simpática, Gaby sorriu e posou pacientemente para todos os cliques. Pouco depois, o rapper Emicida, palestrante ao lado da paraense e do também rapper MV Bill, viveria a mesma tietagem. Se cenas como essa hoje em dia fazem parte do cotidiano de Gaby e Emicida, ambos garantem que isso se deve à dimensão que suas carreiras tomaram através da internet — o sucesso na rede era justamente o assunto da palestra. Ambos vieram da periferia e são marcados pela disponibilização gratuita ou a preços muito baixos de seus discos, fenômeno que ampliou a audiência para além dos subúrbios paraenses e paulistanos. A dupla até já realizou uma apresentação em conjunto, no Beco 203, casa de shows localizada no Baixo Augusta, em São Paulo, frequentada por um público de classe média alta.

Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 28 fev. 2012 (adaptado).

As ideias apresentadas no texto estruturam-se em torno de elementos que promovem o encadeamento das ideias e a progressão do tema abordado. A esse respeito, identifica-se no texto em questão que

a) a expressão “pouco depois”, em “Pouco depois, o rapper Emicida”, indica permanência de estado de coisas no mundo.
b) o vocábulo “também”, em “e também rapper MV Bill”, retoma coesivamente a expressão “o rapper Emicida”.
c) o conectivo “se”, em “Se cenas como essa”, orienta o leitor para conclusões contrárias a uma ideia anteriormente apresentada.
d) o pronome indefinido “isso”, em “isso se deve”, marca uma remissão a ideias do texto.
e) as expressões “a cantora de tecnobrega Gaby Amarantos, a ‘Beyoncé do Pará'", “ambos” e “a dupla” formam uma cadeia coesiva por retomarem as mesmas personalidades.

Alternativa d) o pronome indefinido “isso”, em “isso se deve”, marca uma remissão a ideias do texto.

Não pare por aqui. Tem mais textos muito úteis para você:

Para praticar: Exercícios de coesão e coerência com gabarito (6.º ao 9.º ano)

Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.