10 Contos brasileiros que você tem que conhecer

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

Diversos escritores brasileiros criaram contos que foram intitulados os melhores e, por isso, sua leitura é obrigatória.

Pensando nisso, o Toda Matéria selecionou contos imperdíveis da literatura brasileira. Confira!

1. A cartomante, de Machado de Assis

Capa do conto A Cartomante

O enredo do conto A Cartomante gira em torno de um triângulo amoroso composto por um casal - Vilela e Rita - e um amigo de infância muito próximo do rapaz - Camilo.

Com medo de ser descoberta, Rita é a primeira a consultar uma cartomante. Camilo, que inicialmente zomba da amante, afasta-se do amigo após começar a receber cartas anônimas a falar daquela relação extraconjugal.

Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente.

Depois de receber um bilhete do amigo dizendo que precisava falar com ele urgentemente, Camilo fica aflito e, assim, antes de ir à casa de Vilela, resolve fazer o mesmo que a amante e também vai à cartomante, que o tranquiliza.

Camilo vai à casa do amigo confiante de que a relação continuava em segredo, mas encontra Rita morta e ensanguentada. O conto termina com a morte de Camilo, assassinado por Vilela com dois tiros de revólver.

2. Negrinha, de Monteiro Lobato

Negrinha, de Monteiro Lobato

O conto narra a vida triste de uma menina, órfã aos 4 anos. Ela vivia assustada. Enquanto era viva, a mãe escrava, fechava-lhe a boca para que a patroa não ouvisse o seu choro.

A patroa chamava-se dona Inácia. Era viúva e não tinha filhos. Não gostava de crianças e o choro delas tiravam-lhe a paciência.

Quando a mãe da menina morreu, dona Inácia mantinha a pequena junto dela, que mal podia se mexer.

— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!

Dona Inácia nunca deu-lhe um carinho e chamava-lhe dos piores apelidos possíveis, mas dizia ter um coração caridoso, por criar a órfã. Além disso, os da casa viviam batendo na criança, que tinha o corpo marcado.

Um dia, dona Inácia recebeu duas sobrinhas pequenas para passar férias em sua casa. Foi a primeira vez que Negrinha viu uma boneca e que brincou. Inesperadamente, dona Inácia deixou a menina brincar com as suas sobrinhas.

A partir daí, e com o regresso das sobrinhas, Negrinha caiu numa profunda tristeza. Deixou de comer, até se deixar morrer numa esteira.

3. Baleia, de Graciliano Ramos

Cadela Baleia de Vidas Secas

O conto é o capítulo IX da obra Vidas Secas. Ele narra a morte da cadela Baleia, que era como um membro da família de itinerantes, composta por Fabiano, Sinhá Vitória e seus dois filhos.

Baleia estava muito magra e seu corpo apresentava falhas de pelos. Já andava com um rosário de sabugos de milho queimados no pescoço, que seu dono tinha colocado na tentativa de fazer com que ela melhorasse.

Num estado cada vez pior, Fabiano decidiu matar o bicho. Os meninos temiam o pior para Baleia e foram levados pela mãe para os poupar da cena. Sinhá Vitória tentava tapar os ouvidos dos filhos para que não ouvissem o disparo da espingarda do pai, mas eles lutavam aflitos com ela.

O tiro de Fabiano acerta o quarto da cadela e a partir daí o narrador descreve as dificuldades que ela tem para andar depois de ser ferida e as suas sensações nos últimos momentos de vida.

Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.

4. Peru de Natal, de Mário de Andrade

Peru de Natal, de Mário de Andrade

Peru de Natal narra o sentimento de culpa que assombra uma família depois da morte do pai. O homem era sério e a família vivia sem necessidades econômicas e conflitos, mas sem experimentar o sentimento da felicidade.

O narrador, filho de dezenove anos, que desde cedo foi tachado como “louco”, aproveitou a oportunidade para sugerir um peru para a ceia de Natal, o que era algo inadmissível, tendo em conta o luto da família.

Além disso, peru só era comido em dia de festa. Na verdade, a família ficava com os restos no dia seguinte ao evento, pois os parentes se encarregavam de devorar tudo e, ainda, levar para os que não podiam ter comparecido à festa.

O “louco” sugeria um peru só para eles, os cinco habitantes da casa. E assim foi feito, o que rendeu à família o melhor Natal que já tinham tido. O fato de terem um peru só para eles, trouxera uma “felicidade nova”.

Mas quando começou a servir o peru e ofereceu um prato cheio à mãe, esta começou a chorar e fez a tia e a irmã fazerem o mesmo. E a imagem do pai morto veio estragar o Natal, dando início à luta dos dois mortos: o pai e o peru. Por fim, fingindo-se triste, o narrador começa a falar do pai lembrando dos sacrifícios que tinha feito pela família, o que retomou o sentimento de felicidade da família.

Agora todos comiam o peru com sensualidade, porque papai fora muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora um santo que “vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai”, um santo. Papai virara santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.

5. Presépio, de Carlos Drummond de Andrade

Conto Presépio, de Drummond

O conto relata a escolha indecisa de Dasdores entre a montagem de presépio ou a ida à Missa do Galo. Era véspera de Natal e, entre tantos afazeres, ela não tinha tempo para fazer ambas as coisas.

Dentre as obrigações de Dasdores, as principais eram cuidar dos irmãos, fazer doces de calda, escrever cartas e montar o presépio - esta última é determinação de uma tia morta. Os pais estavam sempre exigindo mais e mais dela, pois acreditavam que era assim que uma moça deveria ser educada.

A questão é que se não fosse à missa, não veria o namorado Abelardo, coisa rara de acontecer.

Ao iniciar o ritual da montagem do presépio desembrulhando as caixas com as peças, as amigas chegam em casa para combinar o horário de irem para a missa, o que atrasa ainda mais as tarefas de Dasdores.

A moça continua montando o presépio, lutando contra o tempo, ao passo em que o seu pensamento divide-se entre o namorado e o Menino Jesus.

Mas Dasdores continua, calma e preocupada, cismarenta e repartida, juntando na imaginação os dois deuses, colocando os pastores na posição devida e peculiar à adoração, decifrando os olhos de Abelardo, as mãos de Abelardo, o mistério prestigioso do ser de Abelardo, a auréola que os caminhantes descobriram em torno dos cabelos macios de Abelardo, a pele morena de Jesus, e aquele cigarro — quem botou! — ardendo na areia do presépio, e que Abelardo fumava na outra rua.

6. Feliz aniversário, de Clarice Lispector

Idosa com ar pensativo

Esta narrativa descreve o aniversário de uma matriarca de 89 anos, que vivia com a filha Zilda, a única mulher entre os 7 filhos.

Zilda tinha preparado a festa para uma família que não convivia, que não tinha carinho uns pelos outros. Exemplo disso era um dos filhos, que não foi à festa para não ver os irmãos e mandou a mulher para o representar.

Os convidados ignoravam a aniversariante, cuja filha já a tinha sentado à mesa desde às duas da tarde, quando os primeiros convidados começaram a chegar às quatro. Tudo isso para adiantar o seu trabalho.

Apesar de não se manifestar, a matriarca estava triste e revoltada com os seus frutos.

Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família.

Em dada altura, cospe no chão e, sem modos, pede um copo de vinho.

Foi esse o momento em que chamou as atenções para si, já que faziam a festa entre eles, de costas para a velha, cuja presença foi ignorada durante todo o tempo e que, ao fim, só pensava se naquele dia haveria jantar.

7. O moço do saxofone, de Lygia Fagundes Telles

Homem tocando saxofone

O protagonista, chofer de caminhão, ganha o hábito de ir comer todos a pensão de uma senhora polaca, onde além de a comida ser ruim, era frequentada por artistas anões e por volantes que saíam palitando os dentes, coisa que ele detestava.

No primeiro dia, foi surpreendido com uma música triste tocada de um saxofone, ao que pergunta a um companheiro quem estava tocando. James, disse ser “o moço do saxofone”, um homem casado que não dormia no mesmo quarto que a mulher, que o traía constantemente.

A música vinha do quarto e ninguém via o tal moço, que não saía nem para comer. O saxofone incomodava o protagonista; a música lembrava-lhe um pedido de socorro, tal como o de uma mulher a dar à luz e que há tempos tinha dado carona no seu caminhão.

Na pensão, encontrou uma mulher de vestido muito curto e percebeu que se tratava da esposa do moço do saxofone. Observador, percebeu que a música tocava nos momentos que a mulher o traía e combinou também ele um encontro com ela, mas enganou-se no quarto e deparou-se antes com o seu marido, que para seu espanto, indicou-lhe o quarto correto.

Indignado, questionou a atitude do homem:

— E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada?

— Eu toco saxofone.

8. A Nova Califórnia, de Lima Barreto

Pessoa brigando por ossos

A Nova Califórnia narra a chegada de um misterioso homem a uma cidade pacata do Rio de Janeiro. Como não falava com ninguém, o mistério aumentava a curiosidade das pessoas.

Por Chico da Tiara, o carteiro, os moradores sabiam que o homem se chamava Raimundo Flamel, pois todos os dias recebia correspondências - cartas, livros e revistas - do mundo inteiro. Além disso, sabiam da existência de alguns utensílios estranhos em sua casa - balões de vidro, copos como os da farmácia - pelo fato de ter chamado um pedreiro que lhe fizesse um forno em sua sala de jantar.

Acontece que apesar de misterioso, passou a ser admirado pela população, graças ao boticário Bastos, que expressou sua desconfiança de que o homem fosse um sábio que precisava de sossego para desenvolver seus trabalhos científicos.

E foi ao boticário que Flamel recorreu quando precisou de alguém para testemunhar a sua descoberta: como fazer ouro usando para esse fim ossos de mortos.

Foi quando acabou o sossego da pequena cidade, que sem ocorrências de qualquer tipo de crime, viu as sepulturas de seu cemitério sendo constantemente violadas. Depois de se tornar descoberto o motivo do arrombamento do cemitério, toda a população procurou ossos com o intuito de enriquecer iniciando uma grande luta entre todos, até mesmo entre as famílias, restando na cidade apenas um bêbedo.

De manhã, o cemitério tinha mais mortos do que aqueles que recebera em trinta anos de existência. Uma única pessoa lá não estivera, não matara nem profanara sepulturas: fora o bêbedo Belmiro.

9. A Partida, de Osman Lins

Jovem sentado junto de malas antigas

O conto narra a partida de um jovem da casa da avó, decisão que havia tomado pelo fato de estar cansado da rotina, dos limites impostos pela senhora, dos seus cuidados excessivos e até mesmo dos carinhos. Queria experimentar algo novo, a liberdade.

A avó ajudou-lhe a arrumar a mala e enquanto o fazia, ele só pensava na vida fascinante que o aguardava:

... passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheres nas praias, caras novas.

Depois de fazer as últimas arrumações na casa antes de ir dormir, a avó foi cobrir o neto, o que ele revela que a velhinha continua a fazer quando a visita.

Na noite antes da partida não conseguira dormir. Apesar do enorme desejo em deixar aquela casa, algo o amargurava.

No momento de ir embora demorou a sair, sem entender o motivo, mas o fez beijando a mão da avó, que tinha deixado a mesa posta com uma toalha bordada que era usada nos aniversários de ambos.

10. Sem enfeite nenhum, de Adélia Prado

Adélia Prado
Adélia Prado é uma escritora contemporânea de destaque. Mineira, nasceu em 1935

Sem enfeite nenhum mostra a percepção que a filha tem de sua mãe, pessoa simples e cheia de manias. Mulher de saúde frágil, só ia às missas das cinco da tarde porque receava o escuro, e tinha o cacoete de enrolar um cacho de cabelos. Passava o dia a clamar por Jesus e tinha medo de morrer.

A mãe era uma pessoa muito difícil de lidar, mas valoriza os estudos e exigia que a filha tirasse as melhores notas. Ela própria era inteligente e gostava de ler. Por isso, podia zelar pela simplicidade e recusava qualquer luxo, mas não poupava no que fosse necessário relativamente aos estudos da filha.

Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pras essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar.

Uma vez o pai falou da intenção de comprar um relógio para a filha, mas a mãe logo acabou com os seus planos. Quando em outra vez ele ofereceu um sapato à mãe ela colocou tantos defeitos que o homem teve que ir três vezes à loja, hora por causa do modelo, hora por causa da cor. Nada a agradava.

Mas o pior aconteceu com a oferta do crucifixo que o homem trouxe todo satisfeito para a mulher, que ao receber, respondeu que preferia que o mesmo fosse "sem enfeite nenhum".

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Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).