Peste negra: o que foi, origem e como acabou

Thiago Souza
Thiago Souza
Professor de Sociologia, Filosofia e História

A peste negra foi uma pandemia de peste bubônica causada pela bactéria Yersina pestis que se alastrou pela Ásia e Europa durante o século XIV.

A doença teve sua origem na Ásia Central (provavelmente na China) e se espalhou pelo ocidente através dos barcos que realizavam o comércio entre Ásia e Europa.

Calcula-se que um terço da população na Europa morreu em decorrência da doença. Os números são imprecisos, mas variam entre 25 e 100 milhões mortes.

Por conta das condições de higiene, esses barcos traziam muitos ratos, que eram infectados e carregavam a peste. As pulgas então se contaminavam neles e, ao irem para os seres humanos, os contaminava.

Essa contaminação poderia acontecer também no contato com outras pessoas contaminados.

Origem da peste negra

Um dos primeiros relatos sobre a peste negra foram registrados durante a guerra entre genoveses e mongóis travada na cidade de Caffa (atual Teodósia), na Península da Crimeia, em 1346.

Ao ver que os mongóis muçulmanos morriam, os genoveses católicos atribuíam à doença à justiça divina, pois era um sinal que Deus estaria do lado dos cristãos.

Quando as batalhas acabaram, os genoveses voltaram à Península Itálica levando a bordo ratos que hospedavam pulgas e eram elas que transmitiam a bactéria da doença.

A partir de então, diversos surtos da doença passaram a aparecer em diferentes regiões europeias.

O principal fenômeno transmissor da peste negra foi o comércio marítimo realizado pelos mares Negro e Mediterrâneo.

Assim a doença foi disseminada, a partir de portos como Veneza, Marselha, Barcelona, Valência, etc.

Outro caminho de propagação foi a Rota da Seda, por onde passavam as caravanas vinda do Oriente em direção aos mercados europeus.

As cidades possuíam uma maior taxa de contágio em relação às regiões rurais, pois as pessoas conviviam mais próximas, facilitando o contágio.

Características e sintomas da doença

A doença poderia se apresentar de três formas distintas: pulmonar, bubônica e septicêmica.

Alguns dos sintomas que poderiam aparecer ao enfermo:

  • dores pelo corpo;
  • febre alta;
  • sangramento pelos orifícios;
  • inchaço nos gânglios e aparecimento de bubos;
  • protuberâncias na pele.

Os sintomas da peste negra eram parecidos aos de uma gripe muito forte, porém com a importante diferença que os gânglios inchavam.

Então, apareciam na pele protuberâncias que se pareciam aos bulbos das plantas. Por conta disso, a enfermidade também recebe o nome de "peste bubônica".

Médicos da peste negra

Durante a peste negra, as cidades contratavam médicos para tratar os doentes. Nem sempre estes eram habilitados ou possuíam estudos de medicina, mas eram aceitos com a esperança de que trariam a cura.

Máscara peste negra
Médico da peste negra utilizando máscara em gravura do século XVII

Apesar de serem muito relacionadas a Idade Média, foi apenas no século XVII, na Idade Moderna, que os médicos vestiam uma máscara feita de couro e com um bico que se assemelhava ao de uma ave.

Dentro dessas máscaras havia ervas aromáticas a fim de prevenir o contágio, pois durante muito tempo se acreditou que a doença era transmitida pelo ar através do mau cheiro.

Essas ervas também ajudavam a suportar o fedor da putrefação dos cadáveres.

Eles eram contratados pelas cidades para cuidar dos doentes, contabilizar os mortos e alertar as autoridades sobre possíveis novos focos da doença.

Esses médicos ganhavam bastante dinheiro durante os períodos de epidemia, porém, ironicamente, nem todos sobreviviam à peste.

Qual era a cura da peste negra?

Para curar da peste negra era necessário isolar o doente. Não havia medicações efetivas para o combate a doença.

O contágio atingiu e matou os habitantes de aldeias inteiras, esvaziou mosteiros e assustou populações.

As autoridades decretavam o isolamento das regiões atingidas. Isso era possível porque na Idade Média várias cidades eram amuralhadas e podiam se fechar facilmente.

Outra medida era acender fogueiras e queimar ervas a fim de que a fumaça levasse a doença embora. Também eram empregadas beberagens – remédios cozidos, feitas à base de valeriana e verbena, visando tratar os doentes.

Como acabou a peste negra?

A epidemia da peste negra chegou ao fim devido às medidas de higiene empregadas, como o confinamento, a construção de hospitais fora dos muros da cidade e a incineração dos mortos. Com isso, os contágios diminuíram.

A verdade, porém, é que a peste negra não foi extinta, pois em todo mundo foram registrados surtos desta doença até o começo do século XX.

Consequências da peste negra

A Europa presenciou um decréscimo demográfico (diminuição da população) ocasionado pelas mortes por peste negra.

Esse decréscimo foi intensificado também por epidemias de outras doenças, como sarampo, rubéola e gripe.

Ao mesmo tempo que a peste negra assolava a Europa, França e Inglaterra se enfrentavam na Guerra dos Cem Anos.

Com menos pessoas vivendo na Europa, consequentemente o continente presenciou a falta de mão de obra nos campos, levando a uma diminuição na produção agrícola.

Para compensar o decréscimo nos ganhos, os senhores feudais passaram a aumentar a carga de impostos dos servos. Este fato gerou várias revoltas camponesas que desestabilizaram a sociedade medieval.

Por sua vez, a maioria dos servos deixou o campo e passaram a ocupar as cidades, onde havia mais trabalho e recursos. Assim, começa a crescer o poder da burguesia, iniciando a crise do feudalismo e a revolução burguesa.

Da mesma forma, houve quem se apropriasse de terras, bens e heranças que foram deixados abandonados por aqueles que haviam morrido vítimas da peste.

Igualmente, surgiram ordens religiosas de flagelantes que costumavam se mutilar para buscar o perdão dos pecados.

As indulgências (perdão dos pecados, que muitas vezes eram vendidos pelo clero), concedidas pela Igreja Católica, também ganharam força, pois todos tratavam de assegurar uma boa morte.

Peste negra no Brasil

O Brasil sofreu uma epidemia de peste negra de 1900 a 1907.

Em 1899, a cidade do Porto, em Portugal, foi atacada por esta doença e provavelmente os navios brasileiros que comercializavam ali, trouxeram-na para o Brasil.

Inicialmente, foram registrados casos em Santos (SP), mas foi a cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, que enfrentou as maiores consequências.

Além disso, a febre amarela, que era epidêmica à época, e a varíola, se juntaram à peste bubônica, tornando a situação caótica.

Estas enfermidades só foram extintas a partir de medidas drásticas de higiene, vacinação e saneamento básico.

No entanto, estas foram aplicadas sem o devido esclarecimento à população e originou a Revolta da Vacina, em 1904.

Saiba mais: Revolta da Vacina

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Referências Bibliográficas

SILVA, Marcelo Cândido Da. História Medieval. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2019. 115-135 p. v. 1.

Thiago Souza
Thiago Souza
Graduado em História e Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.