Texto de Divulgação Científica

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

O texto de divulgação científica é um tipo de texto expositivo e argumentativo mais elaborado. São produzidos mediante pesquisas, aprofundamentos teóricos e resultados de investigações sobre determinado tema.

Possuem a finalidade principal de popularizar a ciência, ou seja, difundir o conhecimento científico, transmitindo assim diversas informações de valor indiscutível.

Características do texto de divulgação científica

Os textos de divulgação científica apresentam linguagem clara, objetiva e impessoal, geralmente com verbos na terceira pessoa, e de acordo com as normas da língua.

Por esse motivo, são evitadas as expressões populares, a linguagem coloquial, gírias e figuras de linguagem como a redundância e a ambiguidade.

É notória a presença de termos técnicos da área, essenciais na linguagem científica e ainda, verbos predominantemente no presente do indicativo.

Eles são escritos por pesquisadores e especialistas no assunto, dedicados ao ramo da ciência por meio de métodos científicos.

Esses textos possuem uma função muito importante para o desenvolvimento da sociedade, porque eles divulgam conhecimentos baseados em experimentos e estudos de caso de forma acessível às pessoas.

Os suportes mais utilizados para a divulgação dos textos de divulgação científica são as revistas e jornais científicos, livros, plataformas de divulgação científica, televisão, internet.

Estrutura textual do texto de divulgação científica

Além do padrão básico estrutural dos textos dissertativos (introdução, desenvolvimento e conclusão), os textos de divulgação científica não possuem uma forma rígida.

Eles dependem do tema abordado, do autor do texto, do público ao qual se destina e do suporte em que será divulgado (jornal, revista, televisão, internet).

No entanto, alguns deles, como as monografias, dissertações e teses, seguem algumas regras de produção, a saber:

Resumo: em alguns trabalhos científicos são solicitados os resumos, que são uma breve apresentação em que o pesquisador expõe a ideia central de sua pesquisa. Dependendo do trabalho, podem ser apresentados um resumo na língua materna e outro em língua estrangeira.

Introdução: parte extremamente importante do trabalho onde deverão aparecer as principais ideias (tese) e conceitos que serão desenvolvidas no texto.

Desenvolvimento: chamado também de "antítese", nessa parte serão abordados todos os conceitos e possíveis autores e referências utilizadas. Possui forte presença de argumentação e contra-argumentação com presença de comparações, citações de autores, dados estatísticos.

Conclusão: Na conclusão, há um arremate de tudo o que foi exposto, sendo que uma nova ideia, geralmente, é apontada referente ao que foi apresentado no trabalho. Por esse motivo, essa parte é chamada também de “nova tese”.

Bibliografia: reúne as referências bibliográficas e webgrafia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. Essa parte deverá estar de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplo de texto de divulgação científica

O peso dos ultraprocessados

Estudos associam o consumo desse tipo de comida a 10% das mortes precoces no Brasil e à aceleração do declínio cognitivo

Dois trabalhos recentes feitos no Brasil apontam uma associação estatística significativa entre o consumo em excesso de alimentos ultraprocessados e a ocorrência de mortes evitáveis, somada à aceleração do processo de declínio cognitivo na população brasileira. Um artigo publicado em novembro passado na revista American Journal of Preventive Medicine estima que, em 2019, pelo menos 57 mil óbitos prematuros no país teriam sido causados pela ingestão em demasia de ultraprocessados. Outro estudo, que saiu em dezembro de 2022 na revista científica JAMA Neurology, sugere que o consumo exacerbado desse tipo de alimento acelera em 28% o declinío da cognição geral dos adultos.

(...)

A partir de uma modelagem epidemiológica, os pesquisadores calcularam o número de mortes não naturais ligadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil em 2019. “Nossa modelagem considera como fator de risco para a ocorrência de mortes prematuras quanto uma população consome de ultraprocessados e associa esse dado à estimativa de risco e morte por todas as causas, segundo a literatura científica internacional”, explica o biólogo Eduardo Nilson, pesquisador associado ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo (Nupens-USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Brasília, autor principal do primeiro estudo.

(...)

Os trabalhos que exploram a associação entre dois parâmetros, como o consumo de ultraprocessados e a ocorrência de doenças ou mortes, têm limitações. Eles indicam que há fortes correlações estatísticas de que a alteração de uma variável leva a mudanças na outra. No caso, a quantidade de comida industrializada ingerida parece influenciar no aparecimento de doenças e na quantidade de mortes prematuras. Esses estudos, no entanto, não conseguem demonstrar qual seria o mecanismo por trás dessa aparente correlação.

A geriatra Claudia Suemoto, da Faculdade de Medicina da USP, que coordenou o estudo do Elsa sobre ultraprocessados e desempenho cognitivo, espera superar essa limitação em breve. Serão feitas imagens do cérebro de voluntários para ver se o alto consumo de ultraprocessados pode causar eventos isquêmicos ou pequenos derrames cerebrais, que, ao longo do tempo, poderiam comprometer as funções cognitivas. “Dessa forma, poderemos investigar possíveis mecanismos que expliquem a associação do ponto de vista estrutural”, conta Suemoto.

(Trechos de texto de divulgação científica “O peso dos ultraprocessados”, publicado na revistapesquisa.fapesp.br, em 3 de março de 2023 e assinado por Ricardo Zorzetto)

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Artigo de Opinião

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).