Autobiografia: como fazer e exemplos

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

Autobiografia é um texto em que o autor conta a história da sua vida, mostrando os acontecimentos principais na ordem em que ocorreram.

É um gênero textual, que recorre ao texto narrativo, porque narra uma sequência de acontecimentos reais. Mas, também pode ser considerado um gênero literário, se a narração incluir fatos criados a partir da imaginação.

As autobiografias podem ser longas, como um livro, ou curtas, como o texto apresentado em uma palestra.

As características da autobiografia são:

  • narração da história da vida do próprio autor na sequência dos seus acontecimentos
  • uso de pronomes pessoais na primeira pessoas, por exemplo: eu, nós, comigo
  • uso de pronomes possessivos na primeira pessoa também, por exemplo: meu, minhas, nosso
  • uso de verbos no pretérito (passado)
  • uso de advérbios de tempo, por exemplo: antigamente, depois, antes, outrora
  • uso de locuções adverbiais, por exemplo: naquele tempo, de tempos em tempos

Como fazer uma autobiografia

Para começar, precisamos ler autobiografias para conhecermos melhor esse gênero textual e saber quais são as suas características.

Depois disso, podemos escrever a nossa autobiografia seguindo os seguintes passos:

Primeiro passo: fazer um planejamento do que queremos contar, colocando tudo num rascunho para não esquecer de nada que pode ser útil no nosso texto. Podemos pedir a alguém que nos conheça bem para falar sobre nós. Assim, perceberemos o que essa pessoa lembra, o que acha importante ou marcante sobre a nossa vida.

Segundo passo: selecionar os acontecimentos principais da nossa vida. Ter como base naquilo que nós próprios consideramos importante e considerar, também, o que outra pessoa com quem falamos falou sobre nós.

Terceiro passo: recolher os dados necessários, como datas, nomes de pessoas e de locais ou instituições que fizeram parte da nossa vida e queremos citar.

Quarto passo: depois de termos feito o planejamento do que queremos contar, de termos selecionado os acontecimentos e recolhido os dados necessários, é hora de escrever o nosso texto. Não devemos nos preocupar muito com a gramática, logo no início. Primeiro, é importante deixarmos o texto fluir.

Quinto passo: ler o que escrevemos observando a gramática. Também é importante verificarmos se o texto está organizado e se faz sentido para quem o vai ler.

Sexto passo: por último, precisamos reler o que escrevemos e garantir que não deixamos passar nenhum erro ortográfico ou de pontuação.

Exemplos de autobiografias

Trecho de livro (autobiografia longa):

“É difícil saber qual é nossa primeira recordação. Lembro distintamente o dia em que completei três anos. Lembro-me de quanto me senti importante. Tomávamos o chá no jardim — uma parte do jardim em que, anos mais tarde, uma rede balançava, suspensa entre duas árvores. A mesa estava repleta de doces, o bolo de aniversário era coberto de glacê e exibia as tradicionais velas. Três Velas. E uma excitante ocorrência — uma minúscula aranha vermelha, tão pequena que eu mal podia enxergá-la, surgira correndo pela toalha. E minha mãe dissera: “É uma aranha que dá sorte, Agatha, um bom augúrio para seu aniversário...”

Depois, a memória se esvai, guardando apenas as reminiscências fragmentárias de uma interminável discussão mantida com meu irmão, relacionada com o número de doces de creme que ele tinha licença de comer.

Encantador, seguro e, no entanto, excitante mundo da infância! Em meu mundo, talvez a coisa mais absorvente fosse o jardim. Cada ano que passava, esse jardim significava mais para mim. Conhecia cada árvore, e a cada uma delas atribuía um significado especial. Desde muito cedo, em meu pensamento, o jardim se dividia em três partes.”

(Trecho da Autobiografia de Agatha Christie)

Trecho de palestra (autobiografia curta):

Na nossa época, não era usual uma mulher jovem ir à universidade. Foi uma luta convencer minha avó a aceitar meu desejo de estudar na universidade. Havia apenas três cursos importantes a serem seguidos por um aluno excelente: Medicina, Direito e Engenharia. Eu tentei primeiro obter o apoio da minha avó para estudar Medicina. Por razões morais, ela proibiu. Como poderia uma mulher ver corpos nus lado a lado de seus colegas masculinos? Então eu decidi estudar Direito, mas eu precisava de dinheiro para pagar meus estudos. Segundo minha avó, eu tinha que trabalhar para estudar, mas o único trabalho aceitável para a mulher na minha classe social – a velha classe alta economicamente decadente – era ensinar. Eu tinha um diploma de ensino médio (uma espécie de diploma de Escola Normal), que me permitia ensinar na escola primária, mas toda a minha família sabia que eu odiava a ideia de me tornar professora desde que eles escolheram essa modalidade de ensino médio para mim. Ninguém jamais imaginou que eu aceitaria lecionar para pagar o curso de preparação para entrar na Faculdade de Direito. Mas eu aceitei, e essa foi a minha grande sorte na vida. A fim de conseguir um lugar para ensinar nas escolas públicas – que remunerava muito bem naquele tempo – foi necessário passar em um exame difícil. Eu assumi um trabalho temporário de ensino para pagar o curso de preparação para o exame anual, e os organizadores do curso eram Paulo Freire e sua esposa, Elza Freire. No primeiro dia ele nos pediu para escrever uma redação explicando por que queríamos ser professores. Eu escrevi explicando que eu estava sendo obrigada a lecionar a fim de ganhar dinheiro para estudar na universidade. Na próxima aula ele comentou todos os textos, exceto o meu. No final, eu perguntei sobre o texto e ele disse:

– Com você eu quero falar em particular.

Marcamos uma reunião e depois de conversar com ele por três horas eu estava convencida de que a educação poderia ser um processo de liberdade e não aquilo que eu tinha vivido. Paulo Freire converteu-me para a educação. Em seu curso, eu descobri a Arte/Educação com uma professora, Noemia Varela, que era diretora da Escolinha de Arte da qual Paulo Freire era o presidente do Conselho. Ele ainda não era famoso nacionalmente, mas já era localmente muito influente. Ele e Eunice Robalinho, mãe de um amigo meu, continuaram me estimulando a fazer o exame para entrar na faculdade de Direito.

(Trecho de palestra gravada pela educadora brasileira Ana Mae Barbosa para o Projeto de História do Ensino da Arte da Miami University (Oxford, Ohio, EUA) em 2002)

Diferença entre autobiografia e biografia

O que diferencia a biografia e a autobiografia é o narrador.

A autobiografia é escrita na primeira pessoa, ou seja, a pessoa escreve sobre a vida dela mesma.

A biografia é escrita na terceira pessoa, ou seja, por um narrador que não participa dos fatos contados.

Leia também: Gêneros textuais e Biografia

Referências Bibliográficas

BACCIN, Edena Joselita; COSTA-Hübes, Terezinha da Conceição. Reflexões e proposições de ensino da gramática: práticas de análise linguística a partir do gênero textual autobiografia.

BARBOSA, A. M. T. B. Autobiografia. Revista GEARTE, [S. l.], v. 4, n. 2, 2017. DOI: 10.22456/2357-9854.76149. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/index.php/gearte/article/view/76149. Acesso em: 14 abr. 2023.

CHRISTIE, Agatha. Autobiografia. São Paulo: Círculo do Livro, 1985

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).