Crise de 1929: conheça a história da Grande Depressão

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História

A Crise de 1929, também conhecida como “A Grande Depressão”, foi a maior crise do capitalismo financeiro.

O colapso econômico teve início em meados de 1929, nos Estados Unidos, e se espalhou por todo o mundo capitalista.

Seus efeitos duraram por uma década, com desdobramentos sociais, econômicos e políticos.

Antecedentes: os EUA na década de 1920

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o mundo viveu um momento de euforia, conhecido como os "Loucos Anos Vinte", também chamado de Era do Jazz.

Nos Estados Unidos, principalmente, o otimismo era palpável e consolidou o chamado American Way of Life, onde o consumo era o principal fator de felicidade.

Contexto Histórico da Grande Depressão
O jazz é um dos símbolos dos anos de prosperidade americana

O crescimento na economia americana após a Primeira Guerra Mundial

Em 1918, terminada a Primeira Guerra Mundial, os parques industriais e a agricultura na Europa estavam destruídos, permitindo aos EUA exportarem em larga escala para o mercado europeu.

Os Estados Unidos também se transformaram no principal credor dos países europeus. Essa relação gerou interdependência comercial, que foi se alterando enquanto a economia europeia se recuperava e passava a importar menos.

A especulação na Bolsa de Valores

Somado a isso, o Banco Central Americano autorizou os bancos a emprestarem dinheiro a juros baixos. O objetivo era fomentar ainda mais o consumo, mas este dinheiro acabou indo parar na Bolsa de Valores.

Desta maneira, em meados da década de 1920, os investimentos em ações da bolsa de valores também aumentaram, uma vez que estas ações eram artificialmente valorizadas para parecerem vantajosas. Contudo, como se tratava de especulação, as ações não possuíam cobertura financeira.

Como agravante, o governo dos EUA iniciou uma política monetária para reduzir a inflação (aumento de preços), quando deveria combater uma crise econômica provocada pela deflação econômica (queda nos preços).

Primeiramente, a economia norte-americana, principal credora internacional, passou a reivindicar a repatriação de seus bens, emprestados às economias europeias durante a guerra e reconstrução.

Este fator, somado à retração nas importações dos EUA (principalmente de produtos europeus), dificultou o pagamento das dívidas, levando assim a crise aos outros continentes.

Esta crise já era perceptível em 1928, quando houve uma queda brusca e generalizada nos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional.

Causas da Crise de 29

As principais causas da Crise de 1929 estão ligadas à falta de regulamentação da economia e à oferta de créditos baratos.

Igualmente, a produção industrial seguia um ritmo acelerado, mas a capacidade de consumo da população não absorvia esse crescimento, gerando grandes estoques de produtos (superprodução) a fim de esperar melhores preços.

Grande Depressão
Um investidor oferece seu carro por 100 dólares em dinheiro, pois perdeu tudo na Bolsa de Valores

A Europa, que tinha se recuperado da destruição da Primeira Guerra Mundial, não precisava mais dos créditos e produtos americanos.

Com os juros baixos, os investidores passaram a colocar seu dinheiro na Bolsa de Valores e não nos setores produtivos.

Ao perceber a diminuição do consumo, o setor produtivo passou a investir e produzir menos, compensando seus déficits com a demissão de funcionários.

Crash da Bolsa de Nova York

Com tanta especulação, as ações começaram a se desvalorizar, o que gerou o "crash" (quebra) da Bolsa de Nova York, no dia 24 de outubro de 1929. Este dia ficaria conhecido como a "Quinta-feira Negra".

Naquela data, havia mais ações que compradores e o preço baixou vertiginosamente. Por isso, milhões de investidores norte-americanos que puseram seu dinheiro na Bolsa de Valores de Nova York faliram quando a “bolha de crédito” estourou.

Crise de 1929
Dezenas de clientes fazem fila para tirar seus depósitos em julho de 1930

Isso provocou um efeito em cadeia, derrubando as bolsas de Tóquio, Londres e Berlim na sequência. O prejuízo foi milionário e sem precedentes históricos.

No seguimento, estourou a crise financeira, visto que as pessoas, em pânico, sacaram todos seus valores depositados nos bancos, o que provocou seu colapso imediato. Assim, de 1929 até 1933, a crise só se agravou.

Linha do tempo da Crise de 1929

linha do tempo da Crise de 1929
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Consequências da Crise de 1929: a Grande Depressão

As consequências da Crise de 1929 perduraram por pelo menos uma década.

O resultado óbvio foi o desemprego generalizado ou a redução salarial. O ciclo vicioso se completou quando, devido à falta de renda, o consumo caiu ainda mais, forçando uma diminuição nos preços.

Muitos bancos que emprestaram dinheiro faliram por não serem pagos, diminuindo assim a oferta de crédito. Com isso, muitos empresários fecharam as portas, agravando ainda mais o desemprego.

O crack da Bolsa de Valores de Nova York repercutiu em todo mundo.

Os países mais atingidos pela quebra da Bolsa de Nova York foram as economias capitalistas mais desenvolvidas, dentre elas: Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. A União Soviética, de economia socialista e ainda fechada ao mercado externo, pouco foi afetada.

Em alguns destes países, os efeitos da crise econômica fomentaram a ascensão de regimes totalitários, como o nazismo e o fascismo.

Nos países em processo de industrialização, como os da América Latina, a economia agroexportadora foi a mais prejudicada pela redução das exportações de matérias-primas.

Ao longo da década de 30, contudo, estas nações puderam assistir a um incremento em suas indústrias, devido à diversificação de investimentos neste setor.

Um filme que se passa nessa época é Tempos modernos, de Charles Chaplin. Um dos maiores clássicos do cinema, o filme se passa na década de 1930, logo após a Crise de 1929, retratando as tensões sociais que resultaram em grande desemprego, fome e miséria.

Crise de 1929 no Brasil

A crise econômica nos Estados Unidos atingiu fortemente o Brasil.

Naquela época, o principal produto de exportação brasileiro era o café, e as boas colheitas já tinham feito com que o seu preço tivesse uma queda.

Além disso, como não era um produto de primeira necessidade, vários importadores diminuíram as compras significativamente.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema econômico, em janeiro de 1929, a saca de café era cotada a 200 mil réis. Um ano depois, seu preço era 21 mil réis.

No Brasil, a Crise de 1929 enfraqueceu as oligarquias rurais que dominavam o cenário político e abriu caminho para a chegada de Getúlio Vargas ao poder, em 1930.

New Deal: o plano de recuperação econômica dos EUA

Em 1932, o democrata Franklin Delano Roosevelt foi eleito presidente dos EUA. Imediatamente, Roosevelt iniciou um plano econômico denominado New Deal, ou seja, o “Novo Acordo”, caracterizado pela intervenção do Estado na economia.

As medidas do New Deal foram inspiradas nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946). Keynes defendia o intervencionismo estatal na economia, ao contrário dos princípios do liberalismo econômico.

As concepções econômicas de J. M. Keynes ficaram conhecidas como keynesianismo, e impulsionaram o estabelecimento do chamado “Estado de Bem-Estar Social”, no qual o Estado procura garantir aos cidadãos condições básicas de vida para que a economia se sustente.

Na prática, o New Deal previa a intervenção do Estado na economia, controlando a produção industrial e agrícola nos Estados Unidos.

Concomitantemente, projetos federais de obras públicas foram realizados com foco na construção de estradas, ferrovias, praças, escolas, aeroportos, portos, hidroelétricas, casas populares. Assim, foram criados milhões de empregos, fomentando a economia pelo consumo.

Mesmo assim, em 1940 a taxa de desempregados estadunidenses era de 15%. Esta situação foi finalmente resolvida com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a economia capitalista mundial se recuperou.

Ao fim da guerra, apenas 1% dos norte-americanos produtivos estavam desempregados e a economia estava a pleno vapor.

O plano econômico do New Deal foi o principal responsável pela recuperação econômica dos EUA, sendo adotado como modelo por outras economias em crise.

Como legado, a Crise de 1929 deixou-nos a lição da necessidade do planejamento estatal da economia, bem como o dever do Estado em prover assistência social e econômica aos mais afetados pelas crises do capitalismo.

Mapa mental da Crise de 1929

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Linha do tempo da Crise de 1929

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Para praticar: Exercícios sobre a Crise de 1929 (com comentários)

Leia também:

Referências Bibliográficas

GAZIER, Bernard. A crise de 1929: uma breve introdução. Tradução de Júlia da Rosa Simões. São Paulo: L&PM Editores, 2009.

HOBSBWAM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 90-112.

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.