Primeira Guerra Mundial (1914-1918): o que foi, as causas e consequências

Lucas Pereira
Revisão por Lucas Pereira
Professor de História

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um conflito de ordem global entre os países da Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. O segundo grupo saiu vencedor.

A Tríplice Aliança foi formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, e a Tríplice Entente, por França, Inglaterra e Rússia.

A guerra durou quatro anos: começou em 28 de julho de 1914 e terminou em 11 de novembro de 1918, com a vitória da Tríplice Entente.

Mapa da europa antes da Primeira Guerra
Em rosa, países alinhados à Entente; em amarelo, países ligados à Tríplice Aliança; em verde, países neutros. A Itália está em laranja por ter mudado de lado ao longo da guerra.

Causas da Primeira Guerra Mundial

Paz Armada e Corrida Armamentista

Desde o final do século XIX o mundo vivia em tensão. O extraordinário crescimento industrial possibilitou a Corrida Armamentista, ou seja: a produção de armas numa quantidade jamais imaginada.

Depois da partilha da África na Conferência de Berlim, em 1885, as rivalidades entre as nações imperialistas, a luta pelos mercados e o desejo de ganhar áreas de influência, acentuaram a corrida armamentista.

Nesta época, o Império Alemão decidiu se transformar em potência naval, para complementar sua capacidade militar terrestre.

O expansionismo do Império Alemão e seu rápido crescimento industrial geraram uma enorme desconfiança na Inglaterra, França e Rússia em relação aos alemães.

A ferrovia passou a ser utilizada para auxiliar o Exército e faria a diferença em comparação com as guerras anteriores.

O trem era capaz de se locomover dez vezes mais rápido que um cavalo e transportar maior quantidade de materiais e homens de uma só vez.

Quanto ao Exército, já havia grande mobilização por parte das nações envolvidas. Mesmo em tempos de paz, a Alemanha possuía 880.000 homens, a Áustria-Hungria, 450.000 e a França, 739.000. Todos esses países aumentaram muito o número de soldados mobilizados com o início da guerra, passando da casa dos milhões.

O mais surpreendente era o pequeno número de soldados do Reino Unido, com apenas 247.500 homens.

O Império Russo possuía o maior número de efetivos, porém seu exército era o menos equipado e o mais atrasado tecnologicamente, se comparado aos outros europeus.

No mar, os navios de guerra se aperfeiçoaram. Em 1906, o Reino Unido lança o navio de guerra “Dreadnought” que revolucionaria a Marinha.

Estava equipado com 10 canhões de 305 mm, 27 canhões de 76 mm e 5 tubos de torpedo de 450 mm.

Nacionalismos

Outro aspecto importante para entender o início da Primeira Guerra foram as rivalidades nacionais entre França, Rússia e Reino Unido contra os alemães. Essas tensões se agravaram com as disputas por colônias ocorridas durante a Conferência de Berlim (1884-1885).

O antigermanismo francês se desenvolveu como consequência da Guerra Franco-Prussiana. A derrotada França foi obrigada a entregar aos alemães as regiões de Alsácia e Lorena, área rica em minério de ferro.

A rivalidade russo-germânica foi causada pela pretensão alemã de construir uma estrada de ferro ligando Berlim a Bagdá, conectando a capital alemã a uma região rica em petróleo. No entanto, a estrada passaria por territórios nos quais os russos pretendiam aumentar sua influência.

O antigermanismo inglês se explica pela concorrência industrial alemã. Às vésperas da guerra, os produtos alemães começavam a chegar em mercados que eram dominados pela Inglaterra.

Todas essas questões tornaram o conflito inevitável à medida que acirravam os choques de interesse econômico e político entre as potências industrializadas.

Aprofunde seus estudos sobre a Guerra Franco-Prussiana e a Conferência de Berlim.

Imperialismo

A Alemanha sentiu-se injustiçada pelas decisões da Conferência de Berlim, já que saiu com territórios coloniais menores que a França e a Inglaterra. Na África, tenta deslocar a França de suas possessões, como o Marrocos, mas não consegue.

Os alemães também compram da Espanha alguns arquipélagos como Carolinas e Palau, no Oceano Pacífico, e conseguem, em 1902, uma concessão de um porto na China.

Enquanto isso, o Império Turco-Otomano perdia parte de seus territórios. Em 1911, a Itália invadiu províncias otomanas no norte da África. Na Europa, durante a Primeira e Segunda Guerras dos Balcãs, Sérvia, Bulgária, Grécia e Montenegro conquistaram zonas do Império Turco-Otomano.

Leia Tríplice Aliança

Estopim da Primeira Guerra Mundial

A rede de alianças representava uma grande ameaça para a paz na Europa.

Em 1908, a Áustria anunciou a anexação da Bósnia-Herzegovina, contrariando os interesses sérvios e russos.

A fim de mostrar uma boa relação entre os novos súditos, o herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Ferdinando, fez uma visita à região com sua esposa, em 28 de junho de 1914. Neste dia, um estudante sérvio-bósnio assassinou Francisco Ferdinando e sua esposa, em Sarajevo, capital da Bósnia.

Esse duplo assassinato foi o pretexto para o início da Primeira Guerra Mundial, que durou até 11 de novembro de 1918.

Leia mais em Causas da Primeira Guerra Mundial

Assassinato de Fraz Ferdinand
Ilustração do assassinato de Francisco Ferdinando e sua esposa

Fases da Primeira Guerra Mundial

Alianças e efeito dominó

A Primeira Guerra, no entanto, foi distinta das demais guerras que ocorriam na Europa Central. A diferença fundamental era o sistema de alianças e a política agressiva dos chefes de Estado.

Durante uma semana, os enfrentamentos permaneceram entre Áustria e Sérvia, mas a Rússia resolveu acudir esta última para reforçar sua posição nos Balcãs.

A Alemanha, então, reage se posicionando a favor da Áustria, declarando guerra à Rússia. Além disso, invadiu Luxemburgo e emitiu um ultimato à Bélgica.

Aliada dos russos, a França inicia a mobilização de tropas contra os alemães e são registrados atritos na fronteira entre os dois países. Isto culminaria na declaração de guerra no dia 3 de agosto de 1914.

Entram na guerra também a Grã-Bretanha, ao lado dos franceses; a Turquia, que apoia a Alemanha, e ataca os portos da Rússia no Mar Negro.

Assim, no início, os países se dividiram em dois lados: Tríplice Aliança e Tríplice Entente. No primeiro grupo, também chamado de Potências Centrais, estavam a Alemanha, Áustria-Hungria, Império Turco-Otomano e Bulgária. Do outro lado estavam a Rússia, a França e a Inglaterra.

A Itália, embora fosse aliada da Alemanha e da Áustria-Hungria, não entrou imediatamente no conflito. Mais tarde, mudou de lado e passou a combater ao lado da Entente.

Guerra de movimentos

No começo do conflito, as forças se equilibravam em número de soldados. O poder de fogo dos equipamentos utilizados provocava índices de mortalidade sem precedentes.

Os tanques de guerra, os encouraçados, os submarinos, os obuses de grosso calibre e a aviação, entre outras inovações tecnológicas da época, constituíram artefatos bélicos de grande poder de destruição.

Com artilharia pesada e 78 divisões, os alemães passaram pela Bélgica, violando a neutralidade deste país. Venceram os franceses na fronteira e rumaram para Paris.

O governo francês transferiu-se para Bordeaux e na Batalha de Marne, conteve os alemães, que recuaram.

Guerra de trincheiras

Depois, franceses e alemães firmaram posições cavando trincheiras ao longo de toda a frente ocidental. Protegidos por arame farpado, os exércitos se enterravam nos buracos, onde a lama, o frio, os ratos e o tifo matavam tanto quanto as metralhadoras e canhões. Este momento do conflito é chamado de Guerra de Trincheiras.

Em 1917, os Estados Unidos, que havia se mantido fora da guerra, apesar de emprestar capitais e vender armas aos países da Entente, principalmente à Inglaterra, declaram guerra à Alemanha.

Revolução Russa e a Primeira Guerra

Nesse mesmo ano, a Rússia saiu do conflito, por conta da Revolução de 1917, que derrubou o czar e implantou o regime socialista.

Os russos conseguem negociar o fim das hostilidades com a Alemanha no Tratado de Brest-Litovsk.

Em troca da paz, os russos abriram mão do controle sobre a Polônia, a Bielorrússia, a Finlândia, os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) e a Ucrânia.

Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial

Inicialmente, os Estados Unidos mantinham a neutralidade, apesar de venderem armamentos e suprimentos para a Entente.

Dois fatos foram determinantes para o fim da neutralidade americana. Em primeiro lugar, o reinício da guerra submarina sem restrições por parte da Alemanha em fevereiro de 1917. Depois, a descoberta de um telegrama que propunha uma aliança entre os alemães e o México, em caso deste entrar em guerra com os EUA.

Alertado sobre a possibilidade que o México pudesse atacá-lo, o governo americano entra no conflito ao lado da Entente.

Consequências da Primeira Guerra Mundial

A Grande Guerra deixou profundas consequências para todo o mundo. Podemos destacar:

  • redesenhou o mapa político da Europa e do Oriente Médio;
  • provocou contestações às ideias liberais.;
  • motivou a criação da Liga das Nações;
  • permitiu a ascensão econômica e política dos Estados Unidos.

O conflito envolveu 17 países dos cinco continentes como: Alemanha, Brasil, Áustria-Hungria, Estados Unidos, França, Império Britânico, Império Turco-Otomano, Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino da Romênia, Reino da Sérvia, Rússia, Austrália e China.

A guerra deixou mais de 10 milhões de soldados mortos e cerca de outros 21 milhões ficaram feridos. Além disso, mais de 6 milhões de civis perderam a vida.

Consequências para a Alemanha

Embora a Alemanha continuasse sofrendo sucessivas derrotas e seus aliados tivessem se rendido, o governo alemão continuava na guerra. Esfomeado e cansado, o povo alemão se revoltou e os soldados e operários forçaram o kaiser (imperador) a abdicar.

Formou-se um governo provisório e foi proclamada a República de Weimar. No dia 11 de novembro de 1918, o novo governo assinou a rendição alemã.

A Primeira Guerra chegava ao fim. Porém, a paz geral só foi firmada em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes.

Entre os termos do tratado, estava a cessão de regiões do território alemão para as nações fronteiriças.

A Alemanha também perdeu suas colônias africanas e a República de Weimar foi obrigada a aceitar a independência da Áustria. Igualmente, teve que pagar uma indenização de 33 milhões de dólares pelos prejuízos causados pelo conflito.

Os termos foram considerados humilhantes e foram usados para provocar a queda da República de Weimar em 1933, e a posterior consolidação no poder de Adolf Hitler e do nazismo.

Sendo assim, em 1939, pouco mais de 20 anos depois do fim da Primeira Grande Guerra, teve início a Segunda Guerra Mundial.

As reações aos efeitos do tratado estão entre as principais consequências da Primeira Guerra Mundial.

Brasil na Primeira Guerra Mundial

Em abril de 1917, os alemães afundaram no canal da Mancha o navio mercante brasileiro Paraná. Em represália, o Brasil rompe relações com os agressores.

Em outubro, outro navio brasileiro, o Macau, é atacado. No final de 1917, desembarca na Europa uma equipe médica e soldados para auxiliar a Entente.

Leia O Brasil na Primeira Guerra Mundial

Questões de Vestibular

1. (Acafe-2015) O início da Primeira Guerra (1914/1918) completou seu centenário em 2014. Conflito de grandes proporções, ela foi o resultado de disputas econômicas, imperialistas e nacionalistas numa Europa industrializada.

Sobre a Primeira Guerra e seu contexto, todas as alternativas estão corretas, exceto a:
a) A questão balcânica evidencia as disputas entre Alemanha e Hungria pelo controle do mar Adriático e coloca em choque os movimentos nacionalistas: pan-eslavismo, liderado pela Sérvia e o pan-germanismo, liderado pelos alemães.
b) Apesar de ter começado a guerra como aliada da Tríplice Aliança, a Itália passou para o lado da Tríplice Entente por ter recebido uma proposta de compensações territoriais.
c) A Rússia não permaneceu na guerra até o seu término. Por conta da Revolução socialista foi assinado um tratado com os alemães e os russos se retiraram da guerra.
d) Quando a guerra iniciou, multidões saíram às ruas nos países envolvidos para comemorar o conflito: a lealdade e o patriotismo eram palavras de ordem.

Letra A: A questão balcânica evidencia as disputas entre Alemanha e Hungria pelo controle do mar Adriático e coloca em choque os movimentos nacionalistas: pan-eslavismo, liderado pela Sérvia e o pan-germanismo, liderado pelos alemães.

2. (FGV-RJ 2015) Sobre a participação brasileira na Primeira Guerra Mundial, é correto afirmar:
a) O governo brasileiro declarou guerra à Alemanha, em 1914, após o torpedeamento de um navio, carregado de café, que acabara de deixar o porto de Santos.
b) O governo brasileiro manteve-se neutro ao longo de todo o conflito devido aos interesses do ministro das relações exteriores Lauro Muller, de origem alemã.
c) A partir de 1916, o Exército brasileiro participou de batalhas na Bélgica e no norte da França com milhares de soldados desembarcados na região.
d) O Brasil enviou uma missão médica, um pequeno contingente de oficiais do Exército e uma esquadra naval, que se envolveu em alguns confrontos com submarinos alemães.
e) Juntamente com a Argentina, o governo brasileiro organizou uma esquadra naval internacional incumbida de patrulhar o Atlântico Sul contra as ofensivas alemãs.

Letra D: O Brasil enviou uma missão médica, um pequeno contingente de oficiais do Exército e uma esquadra naval, que se envolveu em alguns confrontos com submarinos alemães.

Leia mais:

Referências Bibliográficas

ELLIS, John e COX, Michael. The World War I Databook: The essential facts and Figures for all the Combatant. Londres: Aurum Press Ltd, 1993.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

JEFFERSON, Mark. Our trade in the Great War. Geographical Review, v. 3, n. 6, p. 474-480, 1917.

MAGNOLI, Demétrio (org). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.

Lucas Pereira
Revisão por Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.