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Exercícios sobre a filosofia patrística (com respostas explicadas)

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Professor de Filosofia e Sociologia

A filosofia patrística reúne os pensadores cristãos dos primeiros séculos (aprox. II–V d.C.) que dialogaram com a cultura greco-romana para explicar e defender a fé cristã. Conceitos filosóficos gregos (como alma, verdade e logos) foram utilizados para pensar a criação, a Trindade e a salvação. Destacam-se autores como os Padres Capadócios e Santo Agostinho, cuja obra marcou todo o pensamento ocidental.

Questão 1

Na Antiguidade Tardia, pensadores cristãos dialogaram com as escolas filosóficas então dominantes para explicar e defender a fé. Em vez do que poderia ser chamado de um “milagre intelectual”, o período patrístico revela um trabalho de tradução conceitual: termos como logos, alma, virtude e natureza passam a ser empregados para pensar temas cristãos como criação, encarnação e salvação em chave filosófica.

O traço mais característico desse diálogo que marca a chamada Filosofia Patrística é:

a) A assimilação crítica de categorias (sobretudo platônicas) ao serviço da fé.

b) A fusão de cristianismo com estoicismo, sem distinção entre teologia e filosofia.

c) A rejeição total do pensamento grego e adoção exclusiva da Bíblia como fonte.

d) A defesa de que a razão humana é inútil para qualquer verdade religiosa.

e) A submissão da teologia às provas demonstrativas aristotélicas.

Gabarito explicado

A patrística não "jogou fora" a filosofia antiga. Ela aproveitou ideias de Platão e do neoplatonismo para explicar melhor a fé cristã (por exemplo, falando de alma, bem, verdade). Com isso, ela ajudou a esclarecer temas religiosos e filosóficos, mas sem confundir fé e filosofia.

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Questão 2

Entre os séculos II e III, os apologistas (como Justino) defenderam o cristianismo no ambiente greco-romano, enquanto movimentos gnósticos propunham uma mensagem de salvação marcada por dualismo e conhecimento reservado aos “perfeitos”.

Assinale a alternativa que expressa corretamente a crítica cristã à Gnose.

a) A Gnose valorizava a criação como totalmente boa, o que coincidia com o Gênesis.

b) Não havia diferença entre Gnose e fé cristã no modo de entender corpo e matéria.

c) O problema da Gnose era o dualismo radical e a salvação por “conhecimento secreto”.

d) A Gnose defendia a divindade plena de Cristo de modo igual aos concílios.

e) A Gnose admitia uma única autoridade: o bispo da Igreja.

Gabarito explicado

Os autores cristãos criticaram a Gnose porque ela dizia que só alguns se salvam por um “conhecimento secreto” e tratava o mundo material como algo ruim. Isso não combina com a fé cristã, que vê a criação como boa e a salvação como disponível para todos.

Questão 3

Após o Édito de Milão (313), disputas doutrinais culminaram em concílios. Os Padres Capadócios (Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa) tiveram papel central na formulação trinitária contra o arianismo.

O núcleo dessa contribuição pode ser sintetizado como:

a) Subordinar o Filho ao Pai como criatura superior.

b) Defender que Pai e Filho são “semelhantes” apenas no agir histórico.

c) Identificar as três pessoas como três deuses coordenados.

d) Afirmar a Trindade: Pai, Filho e Espírito são consubstanciais e distintos.

e) Negar a processão do Espírito Santo.

Gabarito explicado

Os Padres Capadócios explicaram a Trindade dizendo que Deus é um só na mesma natureza (consubstancial), mas três pessoas realmente distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, evitam tanto a confusão (três deuses) quanto a ideia de que o Filho seria inferior ao Pai.

Questão 4

Em Santo Agostinho, a busca da verdade desloca-se do mero exame externo para a interioridade: é no “homem interior” que o sujeito encontra as verdades eternas, iluminadas por Deus. A célebre orientação “não queiras ir para fora” expressa essa virada.

Para Agostinho, conhecer a verdade implica:

a) Confiar somente na percepção sensível, pois ela é infalível.

b) Suspender todo juízo e não afirmar nada (ceticismo integral).

c) Olhar para a interioridade onde a razão encontra luz em Deus (doutrina da iluminação).

d) Negar a existência de verdades necessárias.

e) Tomar a fé como contrária à razão, sem cooperação possível.

Gabarito explicado

Para Agostinho, a verdade não se encontra só “do lado de fora”. Ela é reconhecida no interior do invidíduo, quando a razão é iluminada por Deus. Por isso, conhecer envolve olhar para dentro, pensar e examinar-se.

Questão 5

“Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei. Contudo, afirmo com certeza e sei que, se nada passasse, não haveria tempo passado; que se não houvesse os acontecimentos, não haveria tempo futuro; e que se nada existisse agora, não haveria tempo presente. Como então podem existir esses dois tempos, o passado e o futuro, se o passado já não existe e se o futuro ainda não chegou?”

(Santo Agostinho, Confissões)

Para Santo Agostinho, o tempo não é um “objeto” fora de nós, mas uma experiência da alma. Assim, em sua célebre obra Confissões, o padre da Igreja divide o tempo entre “presente do passado”, “presente do presente” e “presente do futuro”.

Segundo esta perspectiva:

a) O tempo é idêntico à eternidade.

b) O tempo é apenas medida dos astros, sem relação com a mente.

c) O tempo é substância espiritual autônoma.

d) O tempo é uma ilusão criada pelos sentidos.

e) O tempo é uma estrutura vivida pela consciência individual.

Gabarito explicado

Santo Agostinho diz que vivemos o tempo como uma experiência da mente: lembramos o passado (memória), prestamos atenção ao agora (presente) e esperamos o futuro (expectativa). O tempo, então, é uma “dilatação da alma” (distentio animi), não apenas o movimento dos astros.

Questão 6

"Alguns erros dos maniqueus. Não conhecia eu outra realidade – a verdadeira – e me sentia como que movido por um aguilhão a aceitar a opinião daqueles insensatos impostores quando me perguntavam de onde procedia o mal[...]"

(Santo Agostinho, Confissões)

Na polêmica anti-maniqueísta, Santo Agostinho nega que o mal seja um “princípio” positivo. Ao mesmo tempo, discute a vontade, a fraqueza humana e a necessidade da graça no processo de conversão.

Qual formulação está conforme Santo Agostinho?

a) O mal é uma substância que compete com Deus.

b) O mal é privação do bem, ligado ao mau uso da liberdade.

c) O mal é idêntico ao corpo e à matéria.

d) O mal é útil e querido por Deus como finalidade última.

e) O mal é apenas erro lógico, sem dimensão moral.

Gabarito explicado

Para Agostinho, o mal não é uma coisa criada por Deus. Ele é uma falta de bem (privatio boni) que aparece quando usamos mal a liberdade. A graça ajuda a curar e orientar a vontade para o bem.

Questão 7

No Ocidente latino, autores como Tertuliano, Ambrósio, Jerônimo e Boécio consolidaram a linguagem teológica e filosófica, traduziram textos, refletiram sobre razão e fé e transmitiram a herança clássica que alimentaria a Escolástica.

Assinale a alternativa correta sobre esse legado da Filosofia Patrística.

a) A patrística latina substituiu toda filosofia por poesia.

b) Boécio rejeitou a lógica e valorizou apenas a mística.

c) Jerônimo recusa a tradução bíblica e defende só o grego.

d) O período preserva e organiza saberes, antecipando as universidades medievais.

e) Tertuliano identifica totalmente filosofia e Evangelho, sem tensões.

Gabarito explicado

A patrística latina guardou e organizou conhecimentos importantes: traduções, lógica, estudos bíblicos e teológicos. Esse trabalho preparou o caminho para as universidades medievais e para a Escolástica (o grande estudo sistemático da fé com a razão).

Continue praticando:

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Referências Bibliográficas

AGOSTINHO, Santo. Confissões. 24. ed. Trad. de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Petrópolis: Vozes, 2009

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 2002.

SILVA FILHO, Luiz Marcos da. Como ler Santo Agostinho: terapia da alma e felicidade. São Paulo: Paulus, 2021

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Bacharel (PUC/SP) e licenciado (UniBF) em Filosofia. Mestrando em Filosofia (Unifesp), com ênfase em filosofia política contemporânea.