Exercícios sobre a Guerra dos Farrapos (com gabarito)
A Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos (1835–1845), foi o mais longo conflito regional do Brasil Império e marcou profundamente a história política, econômica e cultural do Rio Grande do Sul. Movida por disputas fiscais, insatisfações com o centralismo imperial e ideais republicanos, essa revolta revelou tanto os anseios de autonomia provincial quanto as contradições de uma sociedade ainda escravocrata.
Nos exercícios a seguir, você poderá revisar os principais aspectos desse importante episódio histórico — suas causas, desdobramentos e consequências — com base em textos, imagens e análises interpretativas. Cada questão vem acompanhada de um gabarito comentado, para ajudar você a compreender melhor o contexto da Guerra dos Farrapos e a se preparar com confiança para as provas.
Questão 1
"Com a Independência, ocorreu uma reversão da antiga autonomia. ʼO centro explorava o sulʼ, denunciavam os rio-grandenses. O Rio Grande virara colônia da Corte, bradavam com indignação os senhores locais, apontando as inovações da política imperial que alteravam a situação do Rio Grande do Sul: a centralização político-administrativa; a discriminação das rendas provinciais remetidas à Corte; a taxação do charque gaúcho. Mas além do desprestígio político e econômico, (...) havia a desvalorização militar da província."
(PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fibra de gaúcho, tchê!. Nossa História, São Paulo: Vera Cruz, v.1, n.2, dez. 2003.)
O texto identifica uma contradição na opinião das elites rio-grandenses acerca da Independência do Brasil, consolidada em 1822. Tal contradição manifesta-se por:
a) A independência ocorreu apenas no sentido político, pois, economicamente, permanecia dependente das potências europeias.
b) A emancipação do Brasil foi parcial, já que a escravidão continuava a assolar a vida de milhões de afrodescendentes.
c) Embora a exploração feita pela Coroa Portuguesa tenha se encerrado, as elites imperiais conservaram a centralização política e exploravam as demais províncias.
d) A manutenção do sistema monárquico representava a manutenção das explorações no Brasil, já que apenas a República garantia a verdadeira liberdade nacional.
e) A disputa entre as elites liberais e conservadoras no Rio de Janeiro impedia a verdadeira emancipação brasileira, que ocorreria através da ascensão das classes populares ao governo central.
a) Incorreta. O texto não trata da dependência em relação à Europa, mas da exploração interna após a Independência.
b) Incorreta. A crítica não é à escravidão, e sim à centralização do poder no Rio de Janeiro.
c) Correta. As elites gaúchas percebiam que, embora livres de Portugal, continuavam exploradas pelo governo imperial.
d) Incorreta. O texto-base não menciona a República como solução, mas denuncia o controle político e econômico da Corte.
e) Incorreta. No trecho indicado, não há referência à disputa entre elites cariocas ou à ascensão popular.
Questão 2
"Por outro lado, a economia rio-grandense, do ponto de vista da destinação de seus produtos, estava tradicionalmente ligada ao mercado interno brasileiro. A criação de mulas teve importante papel no transporte de mercadorias no Centro-Sul do país, antes da construção das ferrovias. No período de renascimento agrícola das últimas décadas do século XVIII, colonos vindos dos Açores plantaram trigo no Sul, consumidos nas outras regiões do Brasil. Quando foi proclamada a Independência, em 18222, esse período de expansão do trigo já se encerrara, devido às pragas e à concorrência americana, mas os vínculos com o resto do país permaneceram."
(FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013. p. 145.)
A análise do texto permite compreender que, antes da Revolução Farroupilha (1835-1845), a economia do Rio Grande do Sul caracterizava-se por:
a) Uma autonomia comercial baseada na exportação direta de produtos agropecuários para os mercados europeus, sem intermediação do governo central.
b) A dependência histórica da produção de trigo, que representava o principal vínculo econômico entre a província sulina e as demais regiões brasileiras.
c) O isolamento econômico em relação ao restante do Brasil, voltando-se prioritariamente para o comércio com os países platinos vizinhos.
d) A integração ao mercado interno brasileiro através do fornecimento de produtos básicos, como animais de transporte e gêneros alimentícios, para outras províncias.
e) A especialização na produção cafeeira destinada ao mercado internacional, competindo diretamente com as províncias do Centro-Sul.
a) Incorreta. O texto indica vínculos históricos internos da economia rio-grandense, não exportações diretas à Europa.
b) Incorreta. O trigo teve importância, mas já havia perdido espaço antes da Revolução Farroupilha, conforme explicitado pelo autor.
c) Incorreta. O trecho destaca laços com o mercado brasileiro, e não isolamento econômico.
d) Correta. O Rio Grande do Sul estava integrado ao mercado interno, fornecendo animais e alimentos a outras regiões. No contexto da Revolução Farroupilha, permanecia no papel de oferecimento de charque para outras províncias.
e) Incorreta. A produção cafeeira não era característica da economia sulina nesse período.
Questão 3
"Os rio-grandenses estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte. (...) Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império e forma um Estado livre e independente, com o título de República Rio-Grandense (...). Viva a República Rio-Grandense! Viva a independência!"
(FAGUNDES, Morivalde Calvet. História da Revolução Farroupilha. 3. ed. Caxias do Sul: Educs, 1989.)
O discurso acima, feito por Antônio Sousa Neto, militar ligado à Guerra dos Farrapos, expressa os ideais centrais que nortearam o episódio. Com base no texto, identifica-se que o movimento caracterizou-se por:
a) Defender a abolição imediata da escravidão e a integração dos negros libertos às forças militares revolucionárias.
b) Reivindicar o republicanismo e a separação política do Rio Grande do Sul em relação ao Império brasileiro.
c) Propor a manutenção da monarquia constitucional com maior autonomia provincial dentro do sistema imperial.
d) Buscar o apoio das potências europeias para consolidar uma aliança militar contra o governo de Buenos Aires.
e) Estabelecer uma confederação com as demais províncias do Sul do Brasil, sem romper com o governo central.
a) Incorreta. O discurso do militar em questão não menciona abolição da escravidão nem integração de negros.
b) Correta. Sousa Neto defende abertamente a separação do Império e a criação da República Rio-Grandense, vista como solução à tirania e às ações injustas da Corte.
c) Incorreta. O texto fala em ruptura com o Império, não em maior autonomia dentro da monarquia.
d) Incorreta. Não há menção a apoio europeu nem a Buenos Aires, sendo sua fala diretamente voltada para a ruptura com a monarquia brasileira.
e) Incorreta. O foco é a independência provincial, não uma confederação com outras províncias.
Questão 4
“A importância do Rio Grande do Sul para as potências do Prata era indiscutível. Caso ele se tornasse livre e autônomo para formar suas próprias associações como nação independente da Bacia do Prata, abriria muitas possibilidades de novas alianças e o fortalecimento das já existentes. (...) Uma aliança com a província de Entre Rios e Corrientes, e o Uruguai, poderia causar transtornos ao poderio político e econômico de Juan Manuel de Rosas, governador de Buenos Aires. Unido com o Uruguai, influenciaria na manutenção de sua independência. (...) Outras combinações poderiam ser feitas, entretanto, sob qualquer ângulo, um Rio Grande do Sul independente expressaria um Brasil mais enfraquecido.”
(Adaptado de: GOLÍN, Janaíta da Rocha. Líderes platinos na guerra civil Farroupilha. Revista Estudios Históricos, Ano VI, Nº 13, Dez. 2014 Montevidéu, Uruguai.)
A partir da análise do texto, compreende-se que a Revolução Farroupilha inseriu-se em um contexto geopolítico regional no qual:
a) O governo imperial brasileiro buscava expandir seu território na região do Prata através de alianças militares com Buenos Aires.
b) Embora interessadas na sorte da República Rio-Grandense, as potências platinas eram especialmente próximas do governo imperial brasileiro, o que impedia um posicionamento claro de seus líderes quanto ao conflito.
c) Uma eventual independência rio-grandense alteraria o equilíbrio de poder na região, fragilizando tanto o Império brasileiro quanto os interesses de Rosas em Buenos Aires.
d) Desde a Guerra da Cisplatina, o Uruguai dependia do apoio militar brasileiro e paraguaio para manter sua independência frente à ameaça argentina.
e) A unificação política da região platina sob domínio de Buenos Aires era o objetivo central dos líderes farroupilhas.
a) Incorreta. O texto não indica que o governo brasileiro buscava um processo de expansão, mas sim que via o risco de enfraquecimento do Império com uma derrota na Guerra dos Farrapos.
b) Incorreta. As potências platinas não aparecem como aliadas diretas do Império. Pelo contrário, o Segundo Reinado foi marcado por um período de tensões constantes com as repúblicas vizinhas no Cone Sul.
c) Correta. A possibilidade de independência gaúcha alteraria o equilíbrio político do Prata, enfraquecendo tanto o Brasil quanto Rosas.
d) Incorreta. O trecho não menciona dependência do Uruguai em relação ao Brasil e Paraguai, afirmação que também é imprecisa do ponto de vista histórico.
e) Incorreta. Os líderes farroupilhas não buscavam unificação sob Buenos Aires, mas independência da província.
Questão 5
“A derrota do Exército Imperial na Guerra Cisplatina (1825-1828) agravou essa insatisfação, seja pela devastação causada pela guerra, seja pela perda definitiva do Uruguai, o que significou o fim do acesso dos sul-rio-grandenses às pastagens e aos rebanhos uruguaios. A isso, somaram-se a taxação de 25% sobre o charque produzi-do na província — enquanto o charque platino pagava apenas 4% para ingressar no Brasil — e os tributos sobre pastagens, esporas, estribos e rum, que o Império impôs aos sul-rio-grandenses.”
(CARRION, Raul Kroeff Machado. Guerra dos Farrapos, a mais longa revolta republicana enfrentada pelo Império do Brasil. Princípios, [S. l.], v. 41, n. 164, p. 171–200, 2022. p. 173)
O texto evidencia que a eclosão da Revolução Farroupilha em 1835 foi resultado de um conjunto de fatores. Entre as causas centrais do conflito, destaca-se:
a) A política fiscal discriminatória do Império, que prejudicava economicamente os produtores rio-grandenses ao favorecer o charque platino no mercado brasileiro.
b) A tentativa imperial de abolir a escravidão no Rio Grande do Sul, o que prejudicaria a produção de charque na província.
c) O apoio incondicional do governo central aos interesses dos estancieiros gaúchos em detrimento dos comerciantes urbanos.
d) A vitória brasileira na Guerra Cisplatina, que expandiu o território imperial às custas dos recursos econômicos da província sulina.
e) A proibição imperial da criação de gado e produção de charque no Rio Grande do Sul para evitar a concorrência com as províncias do Nordeste.
a) Correta. A alta taxação sobre o charque gaúcho e os privilégios às mercadorias concorrentes de origem platina foram causas diretas do conflito.
b) Incorreta. A escravidão não foi alvo de questionamento nas causas da revolta.
c) Incorreta. O governo imperial não favorecia os estancieiros, que sentiam-se lesados pela política imperial de tributos sobre o charque.
d) Incorreta. O Brasil foi derrotado na Guerra Cisplatina, e isso gerou insatisfação, não expansão territorial.
e) Incorreta. Não houve proibição da criação de gado ou produção de charque no Rio Grande do Sul.
Questão 6

A imagem acima apresenta a obra Carga de Cavalaria, de Guilherme Litran (1893), que retrata um grupo de combatentes farrapos durante a Revolução Farroupilha (1835–1845). A partir da análise da imagem e de seus conhecimentos sobre o episódio, é correto afirmar que:
a) A pintura revela o caráter popular e igualitário da revolta, evidenciando o protagonismo das camadas mais pobres e o questionamento das hierarquias sociais no Rio Grande do Sul.
b) A representação idealizada da cavalaria farrapa reforça uma memória épica do conflito, transformando uma guerra civil regional em símbolo de bravura e identidade gaúcha.
c) A obra denuncia as contradições internas do movimento, ao destacar a presença de soldados cativos que lutaram por liberdade e foram traídos no final do conflito.
d) O artista buscou retratar com rigor documental os acontecimentos da guerra, sem recorrer a idealizações políticas ou sentimentos nacionalistas.
e) A tela expressa a vitória militar dos republicanos farroupilhas sobre as forças imperiais, consolidando a independência da República Rio-Grandense.
a) Incorreta. O movimento não foi popular nem igualitário, sendo liderado por estancieiros e militares descontentes.
b) Correta. O quadro foi produzido num contexto de exaltação da memória farrapa, apresentando os rebeldes como heróis românticos, o que reforça o caráter épico e identitário atribuído à Revolução Farroupilha.
c) Incorreta. A presença dos lanceiros negros não é o foco da obra, e sua traição não aparece na representação heroica.
d) Incorreta. A pintura é simbólica, não apresentando um rigor documental da Revolução. Valoriza emoção e bravura, não a realidade objetiva.
e) Incorreta. A Revolução terminou com a rendição farroupilha e acordo de paz, não com a vitória militar.
Questão 7
"[Os] lanceiros (...) eram homens, escravizados (...) atraídos pelos farroupilhas com a vaga promessa de liberdade. O processo de negociação que permitisse ao Império anistiar os farrapos esbarrava num obstáculo: a devolução dos negros aos seus donos. Alguns líderes farroupilhas temiam uma rebelião se esses homens traídos permanecessem no Rio Grande. Outros simplesmente se envergonhavam com a situação. Era preciso se livrar desses incômodos aliados. Porongos resolveria o problema ceifando vidas. Ainda cairiam prisioneiros 120 homens. Aqueles que não conseguiram fugir, uns 77, foram enviados para o Rio de Janeiro, mais tarde, na barca Triunpho da Inveja, onde se tornaram escravos da nação, alugados para todo tipo de serviço."
(SILVA, Juremir Machado da. Lanceiros negros: projeto resgata história de escravizados traídos na Revolução Farroupilha. National Geographic Brasil, 24 jun. 2022. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2022/06/lanceiros-negros-projeto-resgata-historia-de-escravizados-traidos-na-revolucao-farroupilha. Acesso em: 30/10/2025.)
O episódio narrado no texto revela uma contradição fundamental no final da Revolução Farroupilha, evidenciando que:
a) Os líderes farroupilhas priorizaram os interesses coletivos em detrimento da reconciliação com o Império, mantendo os lanceiros negros livres.
b) O Império Brasileiro buscou conciliar todas as partes envolvidas no conflito, inclusive os lanceiros negros, que receberam oportunidades de trabalho dignas no Rio de Janeiro e em outras partes do território nacional.
c) Os ideais republicanos e de liberdade proclamados pelos farroupilhas não se estenderam aos escravizados que lutaram em suas fileiras, sendo estes traídos no processo de pacificação.
d) A batalha de Porongos representou uma vitória militar decisiva dos lanceiros negros, que conquistaram sua liberdade através do combate. Esse sucesso seria replicado mais tardiamente na Guerra do Paraguai, que também contou com ampla adesão de cativos.
e) O massacre ocorrido contra os lanceiros negros foi uma solicitação direta das elites imperiais brasileiras, que desconfiavam do viés abolicionista defendido pelos estancieiros rio-grandenses.
a) Incorreta. O texto mostra que os líderes farroupilhas não mantiveram os lanceiros negros livres, e sim os traíram para garantir o acordo de paz com o Império.
b) Incorreta. O Império não conciliou os interesses dos escravizados. Afinal, os sobreviventes foram presos e reescravizados, sem qualquer reconhecimento pelo serviço prestado.
c) Correta. Apesar do discurso de liberdade, os farroupilhas não estenderam esses ideais aos escravizados que lutaram por eles, entregando-os à morte ou à escravidão no fim da guerra.
d) Incorreta. O massacre de Porongos foi uma derrota dos lanceiros, não uma vitória.
e) Incorreta. A traição aos lanceiros negros não foi uma exigência direta do Império, mas uma decisão dos próprios líderes farroupilhas, temerosos das consequências de manter homens armados e traídos na província.
Continue praticando com exercícios sobre o Período Regencial (com comentários).
PEREIRA, Lucas. Exercícios sobre a Guerra dos Farrapos (com gabarito). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-a-guerra-dos-farrapos-com-gabarito/. Acesso em: