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Exercícios sobre o ultrarromantismo na literatura (com gabarito)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir os exercícios comentados sobre a literatura ultrarromântica. Treine seus conhecimentos e continue estudando.

Questão 1

Quando à noite no leito perfumado

Dreams! dreams! Dreams!
— W.Cowper

Quando à noite no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?

Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra no peito os meus amores
E a febre de sonhar da minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!

Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo como flor da noite
Do teu lábio na rosa purpurina ,

E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria,
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!

Álvares de Azevedo

O poema de Álvares de Azevedo apresenta um eu-lírico dominado por uma visão idealizada da amada e pela força da imaginação noturna. As metáforas construídas em torno do sono, dos sonhos e da beleza da mulher adormecida revelam não apenas o distanciamento entre desejo e realidade, mas também a tendência do Ultrarromantismo de valorizar:

a) o retrato cru e realista da paixão, que rompe com a idealização feminina e questiona padrões morais da época.

b) a conexão física e carnal como única possibilidade de transcendência amorosa e de prazer.

c) a elevação espiritual da figura feminina, tratada como anjo onírico e inalcançável, símbolo de pureza e salvação.

d) o abandono das formas clássicas da lírica em favor de uma linguagem objetiva e despojada de ornamentos.

e) a denúncia da repressão social e sexual que impede o amor pleno e igualitário entre os amantes.

Gabarito explicado

O poema se insere no contexto do Ultrarromantismo, corrente marcada pela idealização da mulher, pela valorização do sonho, da noite e pela presença constante da melancolia amorosa.

Metáforas como “rosa purpurina” para os lábios e a imagem da mulher adormecida como “anjo de amor” reforçam a visão da amada como um ser etéreo, inalcançável, cuja presença só pode ser tocada no plano do devaneio ou da contemplação. Isso reflete um desejo frustrado e platônico, típico da estética ultrarromântica.

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Questão 2

Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as carícias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos!... E degredado da pátria, do amor e da família! Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!

Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição.

O Ultrarromantismo, marcado pela exaltação da juventude, pelo sentimentalismo exacerbado e por visões idealizadas da família, da pátria e do amor, tende a retratar o sujeito em situações de solidão e perda irreparável. No excerto apresentado, é possível identificar esse conjunto de traços em:

a) “Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida!”

b) “As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores!”

c) “A passagem do seio da família, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as carícias mais doces da virgem [...]”

d) “E degredado da pátria, do amor e da família!”

e) “Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!”

Gabarito explicado

A alternativa e) apresenta uma acumulação enfática de perdas (pátria, liberdade, família, dignidade e amizade) que acentua o tom melancólico e fatalista do eu-lírico, característica típica do Ultrarromantismo.

Essa vertente literária valoriza a angústia pessoal, o exílio simbólico do mundo e a ideia de que não há consolo possível na realidade. A repetição de “nem” sublinha a renúncia total ao consolo terreno, reforçando o ideal de sofrimento sublime e absoluto.

Questão 3

Se Eu Morresse Amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce nʼalva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

AZEVEDO, Álvares de. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, p.96.

A visão de mundo expressa nos versos reflete uma postura ultrarromântica ao

a) exaltar o heroísmo juvenil por meio de uma visão patriótica e engajada da morte.

b) apresentar a morte como possibilidade de descanso e de alívio frente às dores e frustrações da vida.

c) demonstrar apego à realidade concreta e às conquistas racionais como forma de transcendência.

d) rejeitar a idealização amorosa e familiar em prol de uma atitude cética e desencantada.

e) valorizar o presente vivido com intensidade, o que se opõe à fuga da realidade característica do período.

Gabarito explicado

O poema de Álvares de Azevedo expressa com clareza a visão ultrarromântica da morte como fuga desejada das dores da existência, conforme se vê nos versos “a dor no peito emudecera ao menos / Se eu morresse amanhã!”.

Ao lado disso, há a presença de outros traços marcantes do Ultrarromantismo, como o sentimentalismo exacerbado, a idealização da família e o desencanto precoce com o futuro.

A morte é vista não como fim trágico, mas como uma forma de consolo e transcendência emocional.

Questão 4

Texto I

Pintura O anjo da morte, de Horace Vernet. Na pintura, uma mulher pálida, em vestes brancas, envolta em uma aura brilhante no centro da tela tem sob seus pés um homem ajoelhado. Ao fundo da mulher asas sombrias indicam se tratar de um momento de morte.

VERNET, Horace. O anjo da morte. 1851

Texto II

Lembranças de morrer

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
[...]

Álvares de Azevedo

A pintura de Horace Vernet e a estrofe inicial do poema "Lembranças de morrer", de Álvares de Azevedo, aproximam-se porque ambos

a) representam uma cena heroica marcada pelo enfrentamento dos pesadelos.

b) retratam um enfermo sob cuidados religiosos a partir de símbolos como sinos e anjos.

c) expressam a tensão entre o progresso científico e os dilemas existenciais da modernidade.

d) constroem uma atmosfera em que a morte é idealizada como passagem suave e transcendente.

e) destacam o papel da razão e da fé como formas complementares de enfrentamento da finitude humana.

Gabarito explicado

Tanto a pintura O anjo da morte, de Vernet, quanto o poema de Álvares de Azevedo expressam uma visão sentimental e idealizada da morte, típica do Ultrarromantismo.

A imagem mostra a presença de um anjo envolto em luz conduzindo uma figura feminina moribunda, o que sugere a morte como libertação espiritual. O poema, por sua vez, inicia com a metáfora da vida como um "longo pesadelo", do qual a morte representa o alívio: “como as horas de um longo pesadelo / que se desfaz ao dobre de um sineiro”.

Ambos os textos compartilham, portanto, uma concepção de morte como transcendência suave, e não como fim violento ou temido.

Questão 5

"O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias — isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia."

AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos.

O excerto, retirado do segundo prefácio da obra de Álvares de Azevedo, “Lira dos vinte anos”, apresenta uma noção de poesia típica do

a) Romantismo, ao valorizar o sonho, a sensibilidade e a contradição entre o ideal e a matéria na figura do poeta.

b) Arcadismo, ao defender a simplicidade da natureza e a racionalidade do homem como base da composição poética.

c) Parnasianismo, ao afirmar a construção racional da poesia e seu afastamento das emoções humanas.

d) Realismo, ao enfatizar o corpo e os sentidos como únicos caminhos legítimos para a experiência estética.

e) Modernismo, ao propor uma quebra com as formas tradicionais da poesia e ao ironizar o papel do poeta na sociedade.

Gabarito explicado

O excerto reflete os princípios centrais do Romantismo, especialmente do Ultrarromantismo, corrente da qual Álvares de Azevedo é expoente. Nessa visão, o poeta é uma figura sensível, que vive o conflito entre o ideal e o real, entre o sonho e o corpo, entre a imaginação e a existência concreta.

A valorização do sonho como elemento poético (“sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado”) e o reconhecimento das emoções, da carne e da contradição humana são traços românticos marcantes.

Questão 6

Meus oito anos

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino dʼamor!
[...]

ABREU, Casimiro.

O poema “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu, revela uma construção lírica que articula memória e idealização da infância. Considerando os recursos formais e os valores estéticos presentes nos versos, o texto se alinha ao Ultrarromantismo ao:

a) denunciar a opressão social vivida na infância e propor uma revalorização do sujeito infantil como protagonista de seu tempo.

b) utilizar a infância como metáfora para a pureza perdida e expressar, com saudosismo idealizado, um tempo de plenitude emocional.

c) criticar os excessos do sentimentalismo, por meio de uma ironia velada que questiona a nostalgia como categoria poética.

d) subverter a imagem da infância ao retratá-la como fase de alienação, distante da razão iluminista que guia a maturidade.

e) recorrer à memória de infância como forma de reafirmar os valores realistas da vida cotidiana e do amadurecimento racional.

Gabarito explicado

A alternativa b) é a correta, pois expressa o traço fundamental do Ultrarromantismo presente no poema: a idealização do passado e da infância como tempo de pureza, liberdade e plenitude emocional. Os versos constroem uma atmosfera nostálgica com uso de imagens sensoriais (“aurora da minha vida”, “tardes fagueiras”, “sombra das bananeiras”) e analogias idealizantes (“O mar é lago sereno / O céu – um manto azulado”), típicas do lirismo subjetivo romântico.

Continue praticando:

Exercícios sobre a segunda geração do Romantismo (com gabarito explicado)

Exercícios sobre o romantismo (com respostas)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.