Lendas Africanas

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

As lendas são histórias muito antigas que foram transmitidas oralmente. Geralmente, elas têm a finalidade de explicar o universo, a natureza e as relações humanas.

Existem diversas lendas na África, já que esse é um continente com uma diversidade cultural riquíssima. Seu folclore, ou seja, suas tradições e manifestações culturais, também é bastante diverso.

Selecionamos 6 lendas africanas para que você conheça mais sobre a cultura desse povos que tanto contribuíram para a formação do Brasil.

1. Lenda do Sapo e a Cobra

Essa lenda conta sobre a amizade entre um sapo e uma cobra.

Certo dia, um sapo estava caminhando e avistou um animal fino, comprido e brilhante. O sapo perguntou:

— Oi! que você faz estirada pela estrada?

A cobra respondeu:

— Estou tomando um solzinho. Sou uma cobra e vc?

— Eu sou um sapo. Você gostaria de brincar?

A cobra aceitou e eles brincaram a tarde toda. A cobra ensinou o sapo a rastejar e subir nas árvores e o sapo ensinou a cobra a pular. Eles se divertiram muito e ao final do dia cada um foi pra sua casa, prometendo se encontrar no dia seguinte.

Quando o sapo encontrou sua mãe, contou o que tinha acontecido, que conheceu uma cobrinha e ficaram amigos. Sua mãe não gostou e falou:

— Você devia saber que a família da cobra não é legal. Eles são venenosos! Não quero mais que brinque com cobras e nem rasteje por aí!

A cobra quando chegou em casa mostrou à sua mãe que sabia pular e disse que foi o sapo que a ensinou. Sua mãe também não gostou e disse:

— Nós cobras não temos amizade com sapos, eles servem apenas como comida. Não quero que brinque com o sapo. E pare de pular!

Quando se encontraram, a cobra pensou em devorar o sapo, mas depois se lembrou daquela tarde de brincadeiras e correu para o mato.

A partir de então eles não brincaram mais, mas sempre ficam estirados no sol pensando no dia em que foram amigos.

2. Lenda dos Tambores Africanos

A origem dessa lenda vem das terras de Guiné Bissau e explica como surgiram os tambores, instrumentos tão importantes na cultura de toda a África.

Conta-se que os macaquinhos de nariz branco da região quiseram um dia trazer a Lua para perto da Terra.

Eles não tinham ideia de como executar tal feito. Até que o macaco menor sugeriu que uns subissem nos ombros dos outros a fim de alcançar a Lua.

O grupo de macacos colocou o plano em ação e o macaquinho menor foi o último a subir, conseguindo chegar no céu e agarrando-se à Lua.

Mas antes que conseguissem puxar o satélite, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o macaquinho, que continuou agarrado à Lua.

Uma amizade então cresceu e a Lua presenteou o pequeno animal com um maravilhoso tambor branco, que ele logo aprendeu a tocar.

O macaquinho ficou por muito tempo morando na Lua, mas um dia começou a sentir saudades da Terra, de seus amigos e da natureza. Ele então pediu à sua amiga que o ajudasse a retornar para sua casa.

A Lua ficou chateada e respondeu:

— Mas por que você quer voltar? Não está feliz aqui com o tamborzinho que eu te dei?

O macaco lhe explicou que gostava muito, mas que tinha saudades.

A Lua ficou com pena, prometeu ajudá-lo e lhe disse:

— Não toque o tambor enquanto não estiver em terra firme. Toque apenas quando chegar lá embaixo, assim saberei que chegou e poderei cortar a corda. Então você estará liberto.

O macaco concordou. Ele sentou em seu tambor e foi amarrado a uma corda, que começou o processo de descida.

Enquanto descia, o macaquinho olhava seu tambor e surgiu uma vontade irresistível de tocá-lo. Ele começou a tocar bem baixinho, para que a Lua não ouvisse.

Mas, mesmo assim, a Lua escutou e cortou a corda conforme o combinado. O macaco começou a cair e ao chegar ao chão, não resistiu e morreu. Mas antes, uma menina que passeava por perto viu a queda. Ela foi até o macaco e ele disse:

— Isso é um tambor. Por favor, entregue ao povo de seu país.

A menina pegou o instrumento e correu para entregar às pessoas de sua família, contando o que havia acontecido.

Todos adoraram o tambor e começaram a tocá-lo. Desde então, o povo africano produz seus próprios tambores e sempre que possível toca e dança ao som deles.

3. Lenda da Galinha D'Angola

Essa é uma lenda que conta como a galinha d'Agola foi criada.

Conta-se que há muito tempo as aves viviam todas juntas, no mesmo ambiente. Mas, aos poucos, foi crescendo o sentimento de inveja entre elas e a convivência ficou muito difícil.

O pássaro mais invejado era o Melro. O macho tinha uma aparência muito bela, com bico alaranjado e penas negras; já a fêmea tinha o corpo em tons de preto e pardo-claro, e a garganta esbranquiçada. Todos queriam ser bonitos como essa espécie.

O Melro sabia que era muito bonito e invejado e prometeu aos outros pássaros que usaria seus poderem mágicos para transformar suas plumagens em brilhantes tons de negro se todos eles o obedecessem.

Entretanto, nem todos os pássaros foram obedientes. Melro então ficou muito bravo e alterou as características das espécies das aves.

Sendo assim, a galinha d'Angola foi transformada em um animal magro com uma fraqueza constante. Seu corpo tornou-se pintado assim como o do leopardo.

Dessa maneira, o leopardo devoraria a galinha d'angola pois não suportaria ver outro animal tão belo como ele. Essa foi a lição que a galinha d'Angola recebeu por sua inveja.

4. Lenda da Girafa e Rinoceronte

A lenda da girafa é uma dessas histórias que explicam a natureza. Nela, conta-se o motivo desse animal ter o pescoço tão longo.

Segundo a lenda, a girafa era um animal com um pescoço normal, assim como o de outros bichos. Até que houve um período de seca terrível, em que os animais já haviam comido todas as ervas rasteiras e precisavam andar muito para conseguir beber água.

Um dia, em uma dessas andanças em busca de água, a girafa encontrou um rinoceronte e os dois começaram a lamentar-se. A girafa disse, então:

— Veja só, amigo... Muitos animais escavando o chão em busca de alimento, tudo está tão seco, mas as acácias continuam verdes.

O rinoceronte concordou. E a girafa prosseguiu:

— Seria maravilhoso poder comer essas folhagens que se encontram no alto das copas. É uma pena que não possamos subir nas árvores.

O rinoceronte então teve uma ideia:

— E se fôssemos falar com o feiticeiro? Ele é muito poderoso e pode ajudar.

A girafa adorou a ideia e eles foram até a casa do feiticeiro explicar o que gostariam.

O feiticeiro disse que isso seria muito fácil e pediu para que ambos voltassem no dia seguinte para que ele lhes desse uma poção a fim de que seus pescoços e pernas crescessem e pudessem alcançarem as folhas macias da acácias.

No outro dia, a girafa foi até a casa do feiticeiro, mas o rinoceronte não compareceu pois estava muito feliz comendo algumas ervas que tinha encontrado pelo caminho.

O feiticeiro ofereceu o feitiço apenas à girafa e sumiu.

A girafa comeu a poção mágica e logo começou a sentir suas pernas e pescoço alongando-se. Ela sentiu-se tonta, mas quando abriu os olhos percebeu como tudo estava diferente.

Logo avistou uma acácia e pode se deliciar com suas folhas verdinhas.

O rinoceronte de repente se lembrou do compromisso e correu até a casa do feiticeiro em busca da poção, mas já era tarde e não havia mais poção. Ele ficou furioso, pois imaginou que tivesse sido enganado.

Desde então passou a perseguir o feiticeiro pela floresta e corre atrás também de todas as pessoas que cruzam seu caminho.

5. Lenda Ubuntu

Essa é uma belíssima lenda africana que aborda valores sobre cooperação, igualdade e respeito.

Conta-se que um antropólogo ao visitar uma tribo africana, quis saber quais eram os valores humanos básicos daquele povo. Para isso, ele propôs uma brincadeira às crianças.

Ele então colocou uma cesta cheia de frutas embaixo de uma árvore e disse para as crianças que a primeira que chegasse até a árvore poderia ficar com a cesta.

Quando o sinal foi dado, algo inusitado ocorreu. As crianças correram em direção à árvore todas de mãos dadas. Assim, todas chegaram juntas ao prêmio e puderam desfrutar igualmente.

O homem ficou bastante intrigado e perguntou:

— Por que vocês correram juntos se apenas um poderia ganhar todas as frutas?

Ao que uma das crianças prontamente respondeu:

— Ubuntu! Como um de nós poderia ficar feliz enquanto os outros estivessem tristes?

O antropólogo ficou então emocionado com a resposta.

Ubuntu é um termo da cultura Zulu e Xhosa que quer dizer "Sou quem sou porque somos todos nós". Eles acreditam que com cooperação se alcança a felicidade, pois todos em harmonia são muito mais plenos.

6. Lenda da Raposa e o Camelo

A lenda da raposa e o camelo é originária do Sudão do Sul, um país que fica no nordeste da África.

Conta a lenda que havia uma raposa de nome Awan que adorava comer lagartixas. Ela já tinha devorado todas de um lado do rio, mas queria atravessar para a outra margem, para comer mais.

Acontece que Awan não sabia nadar e teve uma ideia para solucionar o problema. Ela procurou seu amigo Zorol, um camelo, e disse:

— Olá, amigo! Eu sei que você gosta muito de cevada e se você me levar nas suas costas eu te mostro um caminho!

Zorol prontamente aceitou:

— Suba! Vamos!

Awan então subiu na corcunda de seu amigo e logo lhe indicou para que cruzasse o rio. Quando chegaram lá, Zorol foi até o campo de cevada para comer enquanto Awan se deliciava com as lagartixas.

A raposa logo ficou satisfeita, mas o camelo ainda comia. Awan então foi até o campo de cevada e começou a gritar e correr.

A gritaria da raposa chamou a atenção dos donos do campo de cevada, que foram até lá e deram um pedrada fortíssima na cabeça do camelo, que caiu machucado.

Quando Awan encontrou Zorol caído no chão, disse:

— Vamos embora, já está anoitecendo.

Zorol então questionou:

— Por que você gritou e começou a correr? Por sua culpa eles me machucaram e eu quase morri!

— Eu tenho a mania de correr e gritar depois que como lagartixas! - Disse Awan.

— Vamos para casa então! - Falou Zorol.

Awan subiu nas costas de Zorol e o camelo começou a dançar quando estavam cruzando o rio. Awan ficou desesperada e perguntou:

— Por que você está fazendo isso?

— É que eu tenho a mania de dançar depois que como cevada. - Respondeu Zorol.

Nesse momento, a raposa caiu das costas do camelo e foi levada pelo rio. O camelo por sua vez chegou à outra margem sem problemas. Awan então recebeu uma lição por sua imprudência.

Quiz do Folclore

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.