O Guarani

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

O Guarani é uma das obras mais destacadas do escritor José de Alencar.

Esse romance de caráter indianista foi publicado em 1857 durante a primeira fase do Romantismo no Brasil.

Estrutura de O Guarani

O romance está dividido em quatro partes com capítulos titulados:

  • Primeira Parte: Os Aventureiros
  • Segunda Parte: Peri
  • Terceira Parte: Os Aimorés
  • Quarta Parte: A Catástrofe

Personagens de O Guarani e suas características

  • Peri: índio da tribo dos Goitacases, considerado o herói da trama. É grande amigo do D. Antônio e ama a filha dele, Cecília. Peri é fiel, honrado e apresenta forte ligação com a terra.
  • D. Antônio de Mariz: fidalgo português, amigo de Peri e grande protetor de sua filha Cecília. Dono da fazenda no interior do Rio de Janeiro.
  • D. Lauriana: esposa de D. Antônio. Possui uma postura preconceituosa em algumas partes da obra.
  • D. Diogo: filho de D. Antônio e D. Lauriana. Responsável por iniciar a briga entre colonizados e colonizadores. Isso porque acidentalmente ele mata uma índia da tribo antropófaga dos Aimorés.
  • Cecília (Ceci): filha de D. Antônio de Mariz e D. Lauriana. Peri se apaixona por ela.
  • Álvaro de Sá: jovem cavaleiro apaixonado por Cecília e por quem Isabel é apaixonada. É de grande confiança da família de Antônio.
  • Isabel: mestiça e filha bastarda de D. Antônio de Mariz, é tratada como prima da família. Ela é apaixonada por Álvaro.
  • Loredano: empregado da fazenda e um dos vilões da história. Traidor da família de Antônio, é marcado pela sua falta de caráter e grande ambição. Apresenta forte desejo por Cecília.

Resumo de O Guarani

A obra tem como espaço o interior do Rio de Janeiro no início do século XVII. Dom Antônio de Mariz vive com sua família numa fazenda.

Dona Lauriana é sua esposa, Cecília, sua filha e D. Diogo, seu filho. Antônio conhece Peri, um índio da tribo dos Goitacases e com ele estreita laços de amizade.

Antônio teve um caso extraconjugal com uma índia e dele nasceu Isabel. A garota é apaixonada por Álvaro, entretanto, ele tem grande interesse em Cecília.

Quando o filho de Antônio, Diogo, mata sem intenção uma índia da tribo Aimoré, tem início uma briga para atingir sua família. Essa tribo era antropófaga e, portanto, comia seus inimigos.

Numa das passagens, eles tentam matar Cecília, no entanto, Peri que já a tinha livrado de uma morte por uma pedra, intervém novamente pela garota.

Loredano trabalhava na fazenda de D. Antônio, porém tinha intenções de roubar a fortuna e levar a filha dele.

Num dos momentos, ele prepara uma emboscada ouvida por Peri. Novamente, ele fica ao lado da família de D. Antônio.

Sendo assim, Peri consegue descobrir o incêndio que Loredano estava planejando e, mais uma vez, consegue evitar.

Com isso, a família de Antônio consegue enxergar nele a figura de um grande traidor. Por fim, Loredano foi preso e teve seu corpo queimado na fogueira.

A mulher de Antônio, D. Lauriana, acha que a aproximação de Peri com sua família é uma grande ameaça.

Quando ela tenta convencer o marido para expulsar o índio de suas terras, Peri revela a intenção de ataque da tribo Aimoré. Dessa maneira, ele é convidado a ficar com a família.

Num dos momentos, a casa de Antônio começa a sofrer diversos ataques, por parte de seus empregados traidores e ainda, dos índios aimorés.

Diante disso, Peri tenta atacar os Aimorés, colocando veneno nas águas que eles beberiam. Alguns chegam a morrer.

Peri consome também essa água envenenada e quando Ceci descobre, pede a ele para viver. Assim, ele faz um antídoto de ervas e acaba sobrevivendo.

A pedido de Ceci, Álvaro, que já estava entregue ao amor de Isabel, acaba por interceder na luta. No entanto, morre numa das emboscadas.

Nisso, o corpo dele é levado para um cômodo da casa e Isabel morre também abraçada ao seu corpo.

Por fim, D. Antônio explode sua casa com muitos de seus inimigos dentro. Nesse momento, pede a Peri para levar Cecília com ele. No fim, eles fogem numa canoa e somem no horizonte.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: O Guarani.

Análise de O Guarani

Inicialmente, O Guarani foi publicado nos folhetins do Diário do Rio de Janeiro. Ou seja, semanalmente era publicado um capítulo do romance.

Narrado em terceira pessoa, a obra tem como espaço uma fazenda e as florestas no interior do Estado do Rio de Janeiro.

José de Alencar expressa o nacionalismo romântico, principal característica da primeira geração romântica.

Assim, ele enfatiza a questão nacional através da terra e do índio, considerado nesse momento como o herói nacional.

Dessa forma, Peri torna-se a idealização romântica típica do romantismo. Além desse romance, merece destaque o romance indianista Iracema (1865).

Trechos de O Guarani

Para compreender melhor a linguagem utilizada por José de Alencar, veja abaixo alguns trechos de cada parte da obra:

Primeira Parte: Os Aventureiros

De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.

É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito.

Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.

Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.”

Segunda Parte: Peri

Corria o mês de março de 1603.

Era portanto um ano antes do dia em que se abriu esta história.

Havia à beira do caminho que então servia às expedições entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um vasto pouso onde habitavam alguns colonos e índios catequizados.

Estava quase a anoitecer.

Uma tempestade seca, terrível e medonha, como as há freqüentemente nas faldas das serranias, desabava sobre a terra. O vento mugindo açoitava as grossas árvores que vergavam os troncos seculares; o trovão ribombava no bojo das grossas nuvens desgarradas pelo céu; o relâmpago amiudava com tanta velocidade, que as florestas, os montes, toda a natureza nadava num oceano de fogo.”

Terceira Parte: Os Aimorés

Na segunda-feira, eram seis horas da manhã, quando D. Antônio de Mariz chamou seu filho.

O velho fidalgo velara uma boa parte da noite; ou escrevendo ou refletindo sobre os perigos que ameaçavam sua família.

Peri lhe havia contado todas as particularidades de seu encontro com os Aimorés; e o cavalheiro, que conhecia a ferocidade e o espírito vingativo dessa raça selvagem, esperava a cada momento ser atacado.

Por isso, de acordo com Álvaro, D. Diogo e seu escudeiro Aires Gomes, tinha tomado todas as medidas de precaução que as circunstâncias e sua longa experiência lhe aconselhavam.

Quando seu filho entrou, o velho fidalgo acabava de selar duas cartas que escrevera na véspera.”

Quarta Parte: A Catástrofe

Quando Loredano afastou-se de João Feio que o acabava de ameaçar, chamou quatro companheiros em que mais confiava, e retirou-se com eles para a despensa.

Fechou a porta a fim de interceptar a comunicação com os aventureiros e poder tranqüilamente tratar o negócio que tinha em mente.

Nesse curto instante havia feito uma modificação no seu plano da véspera: as palavras de ameaça há pouco proferidas lhe revelaram que o descontentamento começava a lavrar. Ora, o italiano não era homem que recuasse diante de um obstáculo e deixasse roubarem-lhe a esperança, que nutria desde tanto tempo.

Resolveu fazer as coisas rapidamente e executar naquele mesmo dia o seu intento: seis homens fortes e destemidos bastavam para levar ao cabo a empresa que projetara.”

Filmes e Minissérie baseados em O Guarani

Em 1991, a Rede Manchete de televisão produziu uma minissérie baseada no romance de José de Alencar que foi dirigida por Marcos Schechtman.

Em 1996, foi lançado o longa-metragem O Guarani, dirigido por Norma Bengell.

A obra também foi adaptada para as histórias em quadrinhos (HQ) pela editora Cortez com ilustração de Eduardo Vetillo.

Ópera O Guarani

O compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes compôs uma ópera chamada O Guarani inspirada na obra de José de Alencar.

A apresentação ocorreu em 1870 no Teatro Scala, na cidade Milão, Itália.

Essa ópera está dividida em 4 cantos e ficou muito conhecida por ser o tema do programa a Voz do Brasil.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.