Povo Yanomami: quem são, onde vivem, sua história e cultura

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História

Os yanomami são um povo indígena que habita a floresta Amazônica, na região de fronteira entre o Brasil (nos estados do Amazonas e Roraima) e a Venezuela.

Segundo dados do IBGE (Censo 2022), os yanomami formam no Brasil uma população de 27,2 mil pessoas.

Onde os Yanomami estão localizados

Demarcado pelo Governo Federal em 1992, este território compreende uma área de 9,5 milhões de hectares na região de fronteira com a Venezuela, abrangendo áreas de oito municípios brasileiros, sendo três no estado do Amazonas e cinco em Roraima.

A Terra Indígena Yanomami é a maior do Brasil, tanto em termos de área, como em concentração de população indígena.

Na Venezuela, os yanomami habitam a Biosfera Alto Orinoco-Casiquiare, de 8,2 milhões de hectares. Juntas, as reservas brasileira e venezuelana formam o maior território indígena coberto por floresta do mundo.

Mapa com localização do povo Yanomami
Mapa da terra indígena Yanomami

A Terra Indígena Yanomami tem papel fundamental, tanto para a sobrevivência do povo yanomami, como para a preservação da floresta Amazônica, uma vez que sua área corresponde a quase 1% da floresta tropical existente no planeta.

Entretanto, a riqueza mineral de seu solo tem atraído, desde o final da década de 1980, o interesse de mineradoras e garimpeiros. Estes têm invadido o território yanomami, deixando um rastro de destruição e mortes que frequentemente chega ao nível de crise humanitária, como a identificada em 2022.

História do povo Yanomami

Os pesquisadores acreditam que os antepassados dos yanomami já ocupavam a região da Serra do Parima há cerca de mil anos. A dispersão desse povo, seguindo o curso dos rios Orinoco (Venezuela), Branco e Negro (Brasil), teria ocorrido a partir do século XIX.

Até o final do século XIX, os yanomami haviam tido contato apenas com outros povos indígenas (como os Karib, Muaku e Arawak), com quem mantinham relações de troca ou de guerra.

Entre 1910 e 1940 o contato com os brancos foi esporádico, seja com coletores de castanha-do-pará e outros frutos da floresta, seja com viajantes estrangeiros e militares brasileiros, responsáveis pela demarcação de fronteiras.

A partir da década de 1940, o estabelecimento de postos do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi seguida pela fixação de grupos de missionários cristãos estrangeiros (católicos e evangélicos), tornando o contato com os brancos mais frequente, ainda que os yanomami continuassem vivendo em isolamento. Esse período também foi marcado pelas primeiras epidemias de doenças como sarampo e coqueluche.

Em 1973, dentro das metas do chamado Plano de Integração Nacional, no contexto da Ditadura Civil-Militar, foi lançado o projeto da Rodovia Perimetral Norte. A estrada cruzaria os estados do Amapá, Pará, Roraima e Amazonas, até a fronteira com a Colômbia, passando por territórios indígenas, incluindo áreas habitadas pelos yanomami.

A obra, abandonada apenas três anos depois por falta de planejamento e recursos financeiros, deixou um rastro de degradação ambiental e permitiu o avanço da exploração agrícola e madeireira.

Em paralelo à construção da rodovia, o governo militar identificou potencial de mineração na região da Serra do Parima, o que atraiu o interesse progressivo de grupos de garimpeiros ainda na década de 1970.

Contudo, foi a partir do final da década de 1980 que uma verdadeira “corrida do ouro” levou a uma invasão de garimpeiros. Estima-se que, entre 1987 e 1989, havia cerca de 40 mil garimpeiros em atividade na região, o que levou a um colapso ambiental e de saúde pública.

Dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 13% da população yanomami morreu à época em decorrência de epidemias e doenças causadas pela poluição dos rios com mercúrio.

A repercussão internacional do extermínio da população indígena levou à demarcação da Terra Indígena Yanomami pelo governo federal, em 1992. A oficialização do território não afastou o interesse econômico pela região, nem acabou com os conflitos entre garimpeiros e indígenas.

Em 1993, os yanomami foram vítimas do “massacre de Haximu”, quando 16 indígenas foram mortos no primeiro e único caso de genocídio reconhecido pela justiça brasileira até hoje.
Atualmente, os yanomami lutam pela sobrevivência de seu povo em meio à constante ameaça dos garimpeiros.

Em 2022 foi decretada pelo governo federal emergência humanitária na Terra Indígena Yanomami. A diminuição dos instrumentos de fiscalização e assistência da FUNAI nos anos anteriores provocou aumento significativo das áreas de garimpo com terríveis consequências.

Imagens de crianças e idosos yanomami em situação de extrema desnutrição comoveram o mundo. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 570 crianças yanomami teriam morrido por doenças evitáveis (como desnutrição ou aquelas prevenidas por vacinas) entre 2019 e 2022.

Língua Yanomami

O idioma Yanomami é uma família linguística isolada, composta por quatro línguas: Yanomam, Yanomami, Ninam (ou Yanam) e Sanima. Por sua vez, essas línguas predominam em diferentes regiões do território yanomami e se subdividem em diversos dialetos.

O termo “yanomami” é uma simplificação da expressão “yanõmami tëpë”, que significa “humanos”.

Cultura Yanomami

Os yanomami possuem uma riquíssima cosmologia. Eles acreditam que tudo o que existe foi criado por Omana, desde a terra-floresta (“uhiri”) até todos os seres humanos e animais que nela habitam.

A queda do céu, nessa era primordial, teria criado a terra que habitamos. Uma nova queda do céu, provocada pelo desequilíbrio da vida e da natureza causada pelo homem branco (“napëpë”), poderia provocar o fim da existência humana.

Omana também teria criado os “xapiripë”, espíritos ancestrais que cuidam dos humanos e que habitam a floresta. Por serem capazes de se comunicar com os “xapiripë”, os pajés yanomami possuem grande poder dentro desta sociedade.

Para entrar em contato com estes seres, os pajés inalam uma substância alucinógena chamada de "yãkõana".
Outro momento religioso importante para os yanomami é o “reahu”, grande cerimônia fúnebre com danças e rituais que reúne toda a comunidade e reforça as alianças entre os grupos.

A maioria dos yanomami habitam grandes casas, com capacidade para abrigar até 400 pessoas. A alimentação é baseada na caça, pesca, na coleta de alimentos da floresta e na agricultura em pequenas roças.

No artesanato, destaca-se a cestaria produzida pelas mulheres yanomami com cipós obtidos em seu território e com técnicas transmitidas de geração a geração.

Lideranças yanomami, como o pajé Davi Kopenawa, tem lutado pela preservação da cultura de seu povo. No livro “A queda do céu”, publicado pela primeira vez na França (2010) em parceria com o antropólogo Bruce Albert, Davi Kopenawa narra a história e a cultura de seu povo, testemunhando a luta pela sobrevivência dos yanomami.

Estude mais sobre os povos indígenas:

Referências Bibliográficas

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu : Palavras de um xamã yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. Prefácio de Eduardo Viveiros de Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SOUZA, Oswaldo Braga de. O que você precisa saber para entender a crise na Terra Indígena Yanomami. Instituto Socioambiental, 31/01/2023. Disponível em: https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/o-que-voce-precisa-saber-para-entender-crise-na-terra-indigena-yanomami (acesso em 28/03/2024).

YANOMAMI. In: Enciclopédia Povos Indígenas No Brasil. Instituto Socioambiental. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami (acesso em 26/03/2024).

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.