Psicanálise: entenda o pensamento de Freud

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

A psicanálise é um método de investigação da mente humana e dos seus processos, que eleva a mente para além das suas relações biológicas e fisiológicas. Para tanto, ela toma como objeto os processos mentais (emoções, sentimentos, impulsos e pensamentos) que determinam os indivíduos.

A história da psicanálise está relacionada com a figura de seu precursor, Sigmund Freud (1856-1939). Ao longo de seus estudos, Freud elaborou toda uma teoria psicanalítica que formou as bases para uma nova ciência, dotada de métodos próprios para a investigação dos processos da mente humana.

Freud revolucionou o modo de compreensão do ser humano. Se opôs à tradição da modernidade, onde havia o apelo da razão como uma faculdade plenamente livre e consciente de suas escolhas e atos.

O Inconsciente e a Psicanálise

A psicanálise traz a ideia do inconsciente como a parte mais significativa dos processos mentais, influenciando todo o modo de viver dos sujeitos.

Para Freud, o inconsciente é constituído de desejos e pulsões, que reprimidos podem gerar efeitos nocivos à saúde psíquica do sujeito (neuroses).

Ele desenvolveu a análise como um método de cura dessas neuroses. Através da fala, em uma relação entre o analisando (sujeito que se submete à análise) e analista (psicanalista) busca-se a origem dos problemas de ordem psíquica.

Freud afirmava que dar voz ao inconsciente era a forma mais eficaz para a superação de traumas e a cura das desordens nos processos mentais.

Sigmund Freud
Sigmund Freud, o "pai da psicanálise"

Id, Ego e Superego

O sujeito em Freud é composto por duas partes inconscientes, id e superego, e uma consciente, o ego.

O id representa o lugar das pulsões. As pulsões são impulsos orgânicos e desejos inconscientes, que visam ao prazer e a satisfação imediata do indivíduo. Está relacionado com o prazer sexual, a libido.

O Ego,"eu", é a consciência. Desenvolve-se após o id, realiza uma espécie de mediação entre as pulsões do id e sua adequação com a realidade. Cabe ao ego encontrar um equilíbrio entre o id e a terceira parte da mente, o superego.

O Superego é a outra parte inconsciente relacionada com a censura das pulsões realizadas pela sociedade através da moral, da educação recebida pelos pais e os ensinamentos de como se deve agir ou se comportar. Essa estrutura cria uma representação do "eu ideal", o superego ("super eu") impõe suas repressões ao id.

A Infância na Teoria Freudiana

A pulsão pelo prazer é presente nos indivíduos desde muito cedo, e ao longo da infância vai se transformando.

Freud constatou três fases da formação da sexualidade, chamadas de:

  • fase oral: prazer pela boca, leite materno, mamadeira, chupeta e objetos;
  • fase anal: prazer pelo ânus, fezes, excreções, massas e produtos gelatinosos, se sujar, etc.;
  • fase fálica ou genital: o prazer se estabelece nos órgãos genitais e zonas que os estimulam.

Nesse período, desenvolve-se o chamado complexo de édipo. O sujeito, como na tragédia grega de Édipo, deseja matar o pai e assumir seu lugar junto à mãe.

Dentro desse processo o id desenvolve desejos incestuosos sobre o pai ou a mãe, gerando um conflito com a outra figura paterna ou materna.

Segundo Freud, independente da forma como o complexo de édipo é superado, esse período vai orientar todo o desenvolvimento psíquico do sujeito.

É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa. Porém a libido não permanece fixa nesse primeiro objeto: posteriormente o tomará apenas como modelo, passando dele para pessoas estranhas, na ocasião da escolha definitiva.

Durante o desenvolvimento do superego (aproximadamente dos seis anos até o início da adolescência), o indivíduo deixa de lado o prazer genital e passa a se adequar à sociedade. É chamado de período de latência. As repressões do superego moldam o indivíduo e orientam suas ações.

Com a adolescência, o prazer genital retoma sua relevância, mas submetido às repressões do superego. O ego encontra-se em meio às pressões da sociedade, a busca pelo prazer do id e a repressão do superego.

A busca pelo equilíbrio dessas forças é o que torna o período da adolescência tão conflituoso e instável. Após a adolescência, o conflito entre essas forças se mantém, mas de maneira mais equilibrada.

A Psicanálise e os Transtornos Mentais

A psicanálise freudiana tem como base a relação do "eu consciente" e do "eu inconsciente". Os diversos tipos de transtornos mentais decorrem de questões relacionadas ao inconsciente, possuindo algum tipo de manifestação.

Em uma mente equilibrada o ego recalca os impulsos do id ao mesmo tempo que impõe limites ao poder do superego. O desequilíbrio dessa função é a origem dos principais transtornos mentais. Dentre eles, a neurose e a psicose.

Sobre a relação do "eu consciente" com as forças inconscientes que atuam sobre ele, Freud afirmou:

O ego não é o mestre em sua própria casa.

A neurose é uma forma que o inconsciente encontra para lidar com traumas e conflitos. A partir da impossibilidade de lidar com esses eventos a mente produz efeitos observáveis que influenciam em maior ou menor grau a vida dos indivíduos.

A psicose, por sua vez, distingue-se da neurose pela incapacidade do indivíduo perceber o que é e o que não é real.

Desse modo, a psicanálise busca acionar, por meio da fala, as causas desses traumas e conflitos inconscientes através da interpretação.

Para Freud, o inconsciente jamais se tornará consciente, mas alguns pontos podem ser interpretados através das técnicas da psicanálise. Por exemplo: a interpretação dos sonhos e a livre associação de palavras.

O Legado de Freud

Ao longo dos anos, a revolução gerada pelo pensamento freudiano influenciou todas as áreas das ciências humanas. Isso levou os autores a desenvolver suas ideias, tomando o pensamento de Freud ora como base, ora como alvo para contestações e melhorias.

Numa comparação, Freud está para a psicanálise assim como Sócrates está para a filosofia.

Não desejo suscitar convicções, o que desejo é estimular o pensamento e derrubar preconceitos. (Freud, 1917)

Outros autores importantes no desenvolvimento da psicanálise:

  • Carl Jung
  • Karl Abraham
  • Wilhelm Reich
  • Anna Freud
  • Melanie Klein
  • Margaret Mahler
  • Heinz Kohut
  • Donald Winnicott
  • Jacques Lacan
  • Wilfred Bion

Veja também:

Referências Bibliográficas

Convite à Filosofia - Marilena Chauí

Introdução à Metapsicologia Freudiana - Luiz Alfredo Garcia-Roza

As Sete Escolas da Psicanálise - Sergio Pedro Pisandelli

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).