Cisma do Oriente

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

O Cisma do Oriente (1054 d.C.) foi o episódio que dividiu o mundo cristão em duas igrejas: A Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega. Esse evento foi o resultado de uma série de disputas políticas e religiosas entre Católicos e Ortodoxos, resultando na primeira grande cisão interna na cristandade medieval.

Também chamado de “Grande Cisma”, o evento é considerado um dos mais significativos acontecimentos na história das religiões e da Idade Média. A divisão resultante entre as duas Igrejas permanece existente até os dias atuais.

O que causou o Grande Cisma do Oriente

Os primeiros esforços para unificar os cristãos em uma única igreja ocorreram durante o Império Romano, especialmente no século IV d.C. Nessa época, o então imperador convocou o Concílio de Niceia (325 d.C.), evento que buscava definir as crenças e práticas oficiais da Igreja Cristã.

Apesar desses esforços, a divisão do Império Romano em partes Oriental e Ocidental favoreceu o surgimento de dois centros cristãos diferentes: Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente, e Roma, a capital da parte ocidental do Império.

Ainda que compartilhassem muitas crenças em comum, os Impérios Romanos do Ocidente e do Oriente passaram por distintos processos históricos, o que configurou diferentes traços culturais, sociais, religiosos e políticos em cada uma delas.

O Império Romano do Ocidente, por exemplo, se fragmentou e foi invadido pelos povos bárbaros, enquanto o Oriente permaneceu centralizado politicamente.

Entre as diferenças dogmáticas, destaca-se o fato de os ortodoxos seguirem os ideais do "Cesaropapismo Bizantino" (subordinação da Igreja ao Estado). Isso desagradava os católicos do Ocidente, que atribuíam todo o poder e autoridade à figura do Papa.

Uma segunda diferença importante está na prática de cultuar imagens. Enquanto as Igrejas Católicas possuem diversas imagens de santos, as Igrejas Ortodoxas são iconoclastas, ou seja, rejeitam o uso de imagens.

Uma terceira divergência entre as vertentes era a visão sobre a natureza de Deus. Houve a negação da natureza humana de Deus em detrimento da natureza divina, conhecida como Monofisismo.

Além disso, os ortodoxos e católicos apresentavam diferenças interpretativas sobre as manifestações do Espírito Santo e sobre o tipo de culto à Virgem Maria. Acresce, ainda, que discordavam sobre o celibato obrigatório para os padres, adotado pelos católicos, mas não pelos ortodoxos.

Por fim, politicamente, a rivalidade entre as igrejas era causada por uma disputa entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla para estabelecer quem seria a principal liderança cristã no mundo.

O Grande Cisma e suas consequências

No ano de 1043 d.C., Miguel Cerulário se tornou patriarca de Constantinopla, desenvolvendo diversas campanhas contra os dogmas dos apostólicos nos territórios bizantinos. Isso resultou na excomunhão de Cerulário, em 1054 d.C., pelo cardeal romano Humberto.

Em contrapartida, com a entrada do Papa Leão IX na Igreja Apostólica Romana em 1048 d.C., as Igrejas gregas do sul da Itália foram obrigadas a adotar as práticas latinas, sob ameaça de fechamento. Também foram feitas algumas exigências jurisdicionais que não agradaram os cristãos ortodoxos, o que levou a Igreja Ortodoxa a excomungar o Papa Leão IX.

Essa dupla excomunhão consolidou o Cisma do Oriente em 1054 d.C. e marcou o início da divisão entre ambas as Igrejas, principal consequência do acontecimento.

Além disso, a divisão da cristandade em duas Igrejas com características diferentes, favoreceu um maior distanciamento político entre as porções orientais e ocidentais da Europa. Isso aconteceu durante a Idade Média e a Idade Moderna, apesar dos esforços de conciliação efetuados naquele contexto.

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Referências Bibliográficas

FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O império bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1985

FREITAS NETO, José Alves de e TASINAFO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2006.

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.