20 citações de filósofos para ajudar na redação do Enem

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

A prova de redação do Enem exige, dentre outras coisas, uma boa argumentação que seja capaz de sustentar o que está sendo dito e reforçar uma proposta crítica sobre o tema.

A argumentação pode, e deve, estar apoiada em fundamentações teóricas encontradas no pensamento de grandes nomes da história da filosofia.

Por esse motivo, selecionamos 20 citações de filósofos da filosofia antiga, medieval, moderna e contemporânea para usar na redação do Enem.

1. "Nada é permanente, exceto a mudança." (Heráclito de Éfeso)

Heráclito (540 a.C.-470 a.C.) é favorável à ideia de que tudo está em constante movimento e transformação.

Reforçando a ideia da mudança (devir), Heráclito afirmou também a impossibilidade de se entrar num mesmo rio duas vezes. Ao retornar, o rio e suas águas já estariam mudados, já seria outro rio, pois tudo o que existe está em constante transformação.

2. "O ser é e o não-ser não é." (Parmênides de Eleia)

Nesta frase famosa e enigmática, Parmênides (530 a.C.-460 a.C.) afirma que, ao contrário do pensamento de Tales e Heráclito, o movimento e a transformação são apenas ilusórios. Assim, tudo é imóvel e imutável, tudo permanece.

3. "Só sei que nada sei." (Sócrates)

A frase dita por Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) é, provavelmente, a frase mais famosa da história da filosofia. Nela, Sócrates chama a atenção para a sabedoria contida na ignorância. Para ele, não saber é muito melhor que saber mal.

Essa frase é o espírito do método socrático (ironia e maiêutica). O objetivo da ironia é abandonar os preconceitos e falsas certezas, estar consciente da própria ignorância ("nada saber"). A partir daí, buscar um conhecimento verdadeiro.

4. "Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida." (Sócrates)

Segundo Platão, esta frase foi dita por Sócrates após ter sido julgado e sentenciado à morte. Ela traz consigo o porquê da filosofia, o questionamento e a reflexão, todos motores da atitude filosófica.

5. "Creio para compreender e compreendo para crer melhor."(Santo Agostinho)

Para os filósofos da Idade Média, a razão estava subordinada à fé. Para Santo Agostinho (354-430), conhecimento mais puro e nobre era o conhecimento vindo das escrituras (Bíblia Sagrada).

6. "O desordenado amor por si mesmo é a causa de todos os pecados." (São Tomás de Aquino)

São Tomás de Aquino (1225-1274) buscava fazer uma união entre a filosofia aristotélica e a religião cristã. Elaborou provas racionais para a existência de Deus ("Cinco Provas da Existência de Deus").

7. "Penso, logo existo." (Descartes)

Para o "pai do pensamento moderno", René Descartes (1596-1650), tudo pode ser posto em dúvida. Sendo assim, a primeira certeza que se tem é o fato de poder duvidar.

A dúvida nasce do pensamento. Deste modo, para o filósofo, o pensamento (razão) é a única fonte segura de conhecer a realidade. A esta forma de interpretar a realidade chamou-se racionalismo.

8. "O homem é o lobo do homem." (Hobbes)

O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) afirma que os grandes inimigos dos seres humanos são eles próprios, por serem naturalmente violentos.

E, com medo de uma morte violenta em uma guerra de todos contra todos, os seres humanos preferem fazer um pacto ou contrato social com o objetivo de garantir a sua segurança e de seus bens. Assim, surge o Estado como o garantidor da ordem.

9. "Onde não há lei, não há liberdade." (Locke)

John Locke (1632-1704) acredita que o Estado surge para garantir, através das leis, os direitos naturais dos indivíduos, principalmente, o direito natural à propriedade. Esta teoria serviu de base para o desenvolvimento do liberalismo.

10. "O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra acorrentado." (Rousseau)

Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o ser humano é bom por natureza. Entretanto, sente a necessidade de associar-se com outros indivíduos.

Realiza o pacto social e, com isso, abandona sua liberdade natural e, em retorno ,recebe a liberdade civil, que está limitada à vontade geral e à liberdade dos outros indivíduos.

11. "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto-interesse." (Adam Smith)

O filósofo britânico Adam Smith (1723-1790) é o pai do liberalismo econômico. Ele afirmava que os indivíduos tendem a lutar pelos seus próprios interesses. Sem o auto-interesse, nada poderia garantir que o indivíduos se dispusessem a qualquer tipo de produção.

Essa potência seria a fonte para a riqueza das nações, o motor necessário para a produção e para a eficiência de uma sociedade.

12. "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele." (Kant)

O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) possui em sua filosofia uma forte marca dos ideais do Iluminismo. Com isso, a busca pelo conhecimento (a luz do iluminismo) é uma diretriz de seu pensamento.

13. "Existe apenas um único erro inato, que é o de acreditarmos que vivemos para sermos felizes." (Schopenhauer)

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) é conhecido como o "filósofo do pessimismo". Afirmou que a vida é sofrimento e que a busca pela felicidade é um caminho para a frustração.

A felicidade é, para ele, um momento efêmero em meio ao sofrimento e nunca deve ser entendida como uma constante.

14. "O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte."(Nietzsche)

Friedrich Nietzsche (1844-1900) acreditava na potência humana, na "vontade de poder" como uma maneira de "viver a vida como obra de arte".

Nietzsche afirma que o indivíduo deve ser um poeta da própria vida, capaz de vivê-la da forma mais bela possível. É dele também a frase que afirma que "Deus está morto".

15. "A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes." (Marx)

Karl Marx (1818-1883) foi o responsável pela estruturação da teoria da luta de classes. Para ele, o Estado, historicamente, se desenvolveu a partir do conflito entre grupos sociais antagônicos, privilegiando o interesse das elites.

Uma minoria dominante (a burguesia) controla os meios de produção e, a partir daí, exerce seu poder sobre uma maioria (o proletariado).

16. "Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo." (Wittgenstein)

Ludwig Wittgenstein (1889-1951) foi um outro pensador austríaco que representou uma viragem da filosofia para a linguagem.

Para o filósofo, a compreensão do mundo passa pelo uso da linguagem. Portanto, a linguagem é a forma pela qual interpreta-se o mundo.

17. "O consumidor não é soberano, como a indústria cultural queria fazer crer; não é o seu sujeito, mas o seu objeto." (Adorno)

O filósofo Theodor Adorno (1906-1969), um dos principais expoentes da Escola de Frankfurt, teceu duras críticas ao que chamou de indústria cultural.

Para ele, o sistema capitalista, através de sua indústria cultural, apropriou-se de formas de cultura para a produção de bens de consumo (produtos). Esses produtos possuem uma aparência de cultura, mas, na verdade, não passam de objetos consumíveis que visam o lucro e fomentam o mercado.

18. "Não se nasce mulher: torna-se." (Beauvoir)

Esta célebre frase da pensadora francesa causou bastante repercussão e discussões acaloradas por estar presente na prova do Enem de 2015.

Nela, para além do feminismo, Simone de Beauvoir (1908-1986) afirma seu pensamento existencialista. Reforça a existência com um caráter condicionante à compreensão do indivíduo.

19. "O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."(Sartre)

O existencialista francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) nega a possibilidade de neutralidade diante do mundo.

O pensador nos atenta para a nossa condição de sujeitos livres, obrigados a realizar escolhas a todo momento, estando os seres humanos "condenados à liberdade".

20. "A única coisa que podemos ter certeza, é a incerteza." (Bauman)

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) desenvolveu uma importante teoria sobre os dias de hoje. Segundo ele, abandonamos a solidez característica da modernidade anterior.

Nossas relações foram liquefeitas e vivemos em uma modernidade líquida. Segundo ele, trata-se de um tempo em que as relações assumem uma característica de fluidez e frágil estabilidade e que nada é feito para durar.

Proposta de Exercício - Redação Enem

Redações que obtiveram nota 1000 (nota máxima) deixaram clara a necessidade de realização da intertextualidade.

Os estudantes receberam o tema "manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet" e buscaram relacionar os textos de apoio com alguns elementos da literatura, cultura pop e fundamentações teóricas baseadas na filosofia e na sociologia. Vejamos abaixo os exemplos:

Exemplo 1

Cabe mencionar, em segundo plano, quais os interesses atendidos por tal controle de dados. Essa questão ocorre devido ao capitalismo, modelo econômico vigente desde o fim da Guerra Fria, em 1991, o qual estimula o consumo em massa. Nesse âmbito, a tecnologia, aliada aos interesses do capital, também propõe aos usuários da rede produtos que eles acreditam ser personalizados. Partindo desse pressuposto, esse cenário corrobora o termo "ilusão da contemporaneidade" defendido pelo filósofo Sartre, já que os cidadãos acreditam estar escolhendo uma mercadoria diferenciada mas, na verdade, trata-se de uma manipulação que visa ampliar o consumo.
(Parágrafo da redação nota 1000 no Enem 2018 da estudante Thais Saeger, grifo nosso)

Comentário

Em seu texto, a estudante ressaltou o pensamento de Sartre e sua relação com a liberdade.

Para o filósofo, o exercício pleno da liberdade está intrinsecamente ligado à consciência do mundo no qual está inserido.

Já que os indivíduos estão "condenados à liberdade", eles são obrigados a realizar escolhas a todo momento. Essa obrigação faz com que o indivíduo necessite tomar consciência de si e do mundo e realizar as melhores escolhas possíveis.

Sartre ainda desenvolve o seu conceito de má-fé. Nele, o indivíduo assume uma falsa passividade como se estivesse impossibilitado de realizar escolhas, sendo conduzido a reproduzir e manter o modelo vigente.

Exemplo 2

No contexto relativo à manipulação do comportamento do usuário, pode-se citar que no século XX, a Escola de Frankfurt já abordava sobre a “ilusão de liberdade do mundo contemporâneo”, afirmando que as pessoas eram controladas pela “indústria cultural”, disseminada pelos meios de comunicação de massa. Atualmente, é possível traçar um paralelo com essa realidade, visto que milhões de pessoas no mundo são influenciadas e, até mesmo, manipuladas, todos os dias pelo meio virtual, por meio de sistemas de busca ou de redes sociais, sendo direcionadas a produtos específicos, o que aumenta, de maneira significativa, o consumismo exacerbado. Isso é intensificado devido à carência de políticas públicas efetivas que auxiliem o indivíduo a “navegar” corretamente na internet, explicando-lhe sobre o posicionamento do controle de dados e ensinando-lhe sobre como ser um consumidor consciente.
(Parágrafo da redação nota 1000 no Enem 2018 da estudante Lívia Taumaturgo, grifo nosso)

Por conseguinte, presencia-se um forte poder de influência desses algoritmos no comportamento da coletividade cibernética: ao observar somente o que lhe interessa e o que foi escolhido para ele, o indivíduo tende a continuar consumindo as mesmas coisas e fechar os olhos para a diversidade de opções disponíveis. Em um episódio da série televisiva Black Mirror, por exemplo, um aplicativo pareava pessoas para relacionamentos com base em estatísticas e restringia as possibilidades para apenas as que a máquina indicava – tornando o usuário passivo na escolha. Paralelamente, esse é o objetivo da indústria cultural para os pensadores da Escola de Frankfurt: produzir conteúdos a partir do padrão de gosto do público, para direcioná-lo, torná-lo homogêneo e, logo, facilmente atingível.

(Parágrafo da redação nota 1000 no Enem 2018 do estudante Lucas Felpi, grifo nosso)

Comentário

Nos dois excertos acima, os estudantes utilizam-se das teorias dadas pela Escola de Frankfurt que atentam para o controle social a partir de mecanismos da indústria cultural.

A indústria cultural, através de sua vasta produção, gera uma ilusão de liberdade. O indivíduo é levado a crer-se como um sujeito livre dotado do poder de escolha.

Entretanto, essas escolhas são previamente restringidas e reguladas pelas ofertas do mercado. O sujeito torna-se objeto, sendo facilmente controlado, formatado e conduzido à reprodução do modelo. Esse sistema tende a perpetuar os interesses das grandes empresas e do capital econômico.

Leia também:

Citações de diversos temas para usar na redação

Redação nota 1000 do Enem: exemplos com explicação

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).