Como fazer um artigo de opinião

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Para escrever um artigo de opinião você precisa ter argumentos que sustentem a sua visão sobre o tema do artigo. Além disso, precisa conhecer a estrutura do texto dissertativo-argumentativo (introdução, desenvolvimento e conclusão).

Passo a passo para fazer artigo de opinião

  1. Se o tema for escolhido por você, escolha algo sobre o qual já tenha opinião formada, ou pelo menos seja do seu interesse.
  2. Pesquise sobre o tema e recolha dados, em jornais, livros, revistas e sites fiáveis.
  3. Organize suas ideias e faça um esboço da estrutura do seu texto, que deverá conter introdução, desenvolvimento e conclusão.
  4. Comece a redigir o seu texto. Na introdução, apresente o tema e diga por que é importante pensar sobre ele.
  5. No desenvolvimento, assuma a sua posição. Expondo os seus argumentos, esclareça se você é a favor ou contra e o que pensa sobre o tema.
  6. Ainda no desenvolvimento, contra-argumente. Imagine ou pesquise argumentos contra a sua posição e responda a isso.
  7. Na conclusão, resuma as suas ideias e deixe claro qual a sua posição.

1. Escolha e reflita sobre o tema

Dependendo da situação, o tema do seu artigo de opinião pode ser indicado por alguém. Mas, se você tiver que escolher, escolha algo sobre o qual esteja confortável para escrever ou que, apesar de ainda não saber muito a respeito, esteja motivado para pesquisar e para dizer o que pensa.

Lembre-se que os artigos de opinião abordam temas polêmicos e atuais, o que provoca a curiosidade dos leitores. As pessoas têm interesse em conhecer a opinião de outras sobre temas que geram debate. Isso porque boas argumentações podem influenciar a nossa própria visão sobre as coisas.

Exemplo: Em tempos de Covid-19, há muita discussão em torno de lockdown e do ensino à distância. Assim, ambos podem ser bons temas para escrever artigos de opinião.

2. Pesquise sobre o tema

Consulte diversas fontes a fim de ampliar seus conhecimentos sobre o tema e conhecer opiniões diferentes das suas.

Recolha dados que possam ser apresentados ao leitor - relatos, leis, gráficos, pesquisas. Lembre-se que um artigo que apresenta fundamentos é muito mais credível.

Veja o exemplo:

“Existe um importante estudo de Michael Apple (2003), a obra Educando à direita: mercados, padrões, Deus e desigualdade, na qual o autor abre a introdução com a frase “A temporada de caça à educação continua aberta” (p.1). Ele faz afirmações que grupos conservadores têm tomado posse da educação (...)

Para o autor, estes grupos defendem suas ideias usando a justificativa quanto a melhoria do padrão de qualidade, por meio de avaliações e para desta forma aumentar o nível de exigências tanto em relação ao desempenho de professores, quanto dos estudantes, que devem, portanto, se alinhar com as lógicas de mercado neoliberais.”

(Trecho de artigo de opinião “Conec-atados - pela defesa de um projeto civilizatório”, publicado no Jornal Opção, em 14 de junho de 2020, e assinado por Gabriel Rocha Freitas)

3. Faça um esboço da estrutura do seu texto

Antes de começar a escrever, pense em como contextualizará o leitor sobre o tema e que argumentos - e contra-argumentos - apresentará para convencer quem lê o seu artigo. Faça um rascunho com tudo o que vem na cabeça.

De seguida, organize as suas ideias pensando na estrutura do seu texto:

  • introdução - contextualização do tema;
  • desenvolvimento - argumentação e contra-argumentação;
  • conclusão - resumo das ideias.

Se o meu artigo de opinião tem como tema o ensino à distância, posso organizá-lo conforme abaixo.

Exemplo de parte de introdução: Com a pandemia, fomos obrigados a mantermos o isolamento. Nessa situação, o ensino precisou se adaptar a uma realidade em que professores e alunos não precisem estar fisicamente no mesmo ambiente. No entanto, essa prática apresenta uma série de desvantagens para os professores.

Exemplo de parte de desenvolvimento: Cientes da necessidade de isolamento, os professores tiveram de se preparar para garantir que a educação não parasse. No entanto, enquanto muitos enxergam apenas vantagens em trabalhar em casa, a realidade é outra, pois gerir uma rotina de sala de aula sem contar com o "olho no olho" dos alunos não é fácil.

Agora, os professores têm que se esforçar muito mais para ensinar e para perceber as dificuldades de cada aluno, tendo que reinventar a cada aula.

Há quem considere que, em contrapartida, os professores têm menos custos, porque poupam no transporte e na alimentação, por exemplo. Mas, esquecem-se de que essa realidade também exige custos, como despesas com eletricidade, internet e restantes equipamentos necessários para o funcionamento das suas aulas.

Exemplo de parte de conclusão: O ensino à distância apresenta vantagens e desvantagens. Embora seja preciso enxergar ambas, ao compará-las, conseguimos perceber que o esforço dos professores aumentou em tempos de Covid-19.

4. Comece a redigir

A primeira coisa que tem que ser feita num artigo de opinião é apresentar o tema ao leitor para que ele entenda o que será discutido no texto e porquê.

Esclareça o motivo pelo qual o tema é polêmico, ou seja, por que ele é um problema que merece ser discutido. Isso fará parte da introdução.

Veja o exemplo:

“A ideia de armar a população como medida de segurança pública é controversa, mas debatível. Dá para tecer argumentos racionais contra e a favor. Bolsonaro, porém, cruzou a linha vermelha da racionalidade ao dizer que é preciso armar a população para “impedir uma ditadura”. E é por isso que esse texto está aqui. A cobertura do dia-a-dia da política não faz parte do escopo de assuntos da SUPER, mas os debates sociais fazem.”

(Trecho de artigo de opinião “Autoritário não é quem promove lockdown. É quem prega a desobediência civil”, publicado na revista Super Interessante, em 25 de maio de 2020, e assinado por Alexandre Versignassi)

5. Assuma a sua posição

No desenvolvimento, você deve explicar muito bem a sua posição e expor os seus argumentos, fundamentando o que escreve.

Argumente e seja convincente a ponto de influenciar as pessoas que leem o seu artigo e propiciar a reflexão crítica. Para tanto, o seu texto deve ser coeso e coerente, o que lhe garantirá mais credibilidade.

Veja o exemplo:

“A discussão sobre a imposição de lockdowns deve ficar exclusivamente entre as autoridades. Se o Presidente discorda das medidas, sem problemas: que converse com os governadores e prefeitos. Se não se chega a um acordo com os governadores e prefeitos, não há o que fazer. Ele deve obedecer à Constituição – que dá autonomia aos Estados e às cidades para decidir o que abre e o que fecha.”

(Trecho de artigo de opinião “Autoritário não é quem promove lockdown. É quem prega a desobediência civil”, publicado na revista Super Interessante, em 25 de maio de 2020, e assinado por Alexandre Versignassi)

6. Contra-argumente

Ainda no desenvolvimento, é interessante você imaginar um leitor que contesta a sua ideia ou opinião, ou seja, que apresenta ideias devidamente argumentadas, mas contrárias às suas.

Antecipando essa situação, você escreve contra-argumentos, mostrando o motivo pelo qual, apesar dos argumentos expostos, essas eventuais ideias não são viáveis.

Veja o exemplo:

“E se o Presidente não concorda com a Constituição, que encontre apoio no Congresso para alterá-la – sim, a ideia de acabar com os isolamentos é estapafúrdia, anticientífica e aumenta o número de mortos, mas um Presidente pode tentar convencer o Congresso de que está certo.”

(Trecho de artigo de opinião “Autoritário não é quem promove lockdown. É quem prega a desobediência civil”, publicado na revista Super Interessante, em 25 de maio de 2020, e assinado por Alexandre Versignassi)

7. No fim, deixe claro qual a sua posição

Depois de argumentar e contra-argumentar nos parágrafos do desenvolvimento do seu texto dissertativo-argumentativo, você deve indicar qual a conclusão tirada em torno das discussões acerca do tema.

Em meio a exposição de tantas ideias, esta parte é essencial para o leitor entender a sua opinião.

Veja o exemplo:

“O ante-intelectualismo, a perseguição aos saberes científicos, se alimentará do ponto-fraco da educação para fortalecer rumo às trevas. Ead significa precarização do trabalho do professor, (leia-se: exploração), significa a “uberização”, o esvaziamento dos debates, a perda na rigidez do método científico, o subemprego, o fim do concurso público, o fim da profissão do professor, e o surgimento do “educador empreendedor” que se colocará no mercado competitivo com aulas show, criativas, espetacularizadas para garantir o seu lugar no mercado com seu CNPJ, sem direitos, mas com obrigações e sem aposentadoria “conec-atados”, conectados pela tecnologia e atados e silenciados pelas perseguições que já se iniciaram.”

(Trecho de artigo de opinião “Conec-atados - pela defesa de um projeto civilizatório”, publicado no Jornal Opção, em 14 de junho de 2020, e assinado por Gabriel Rocha Freitas)

Para você entender melhor:

Artigo de opinião

Estrutura de artigo de opinião

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).