Como fazer uma crônica

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

Escrever uma crônica requer planejamento, o que significa que antes de começar a redigir o seu texto você precisa pensar na forma como pretende tratar cada um dos elementos que compõem a crônica: qual o tema, em que tempo e em que espaço se situa, quais os personagens. Para tanto, vamos recordar o que um texto precisa para ser uma crônica.

O que é crônica?

Crônica é um texto curto que narra uma situação cotidiana de forma criativa e humorada. Caracteriza-se por utilizar linguagem simples, poucos personagens e ter tempo e espaço reduzidos.

Entenda-se por texto curto um texto que você não demora muito para ler. Embora não possamos definir um tamanho, pode-se dizer que uma crônica pode ser lida de uma vez, sem exigir do leitor paragens durante a leitura.

Há vários tipos de crônicas - narrativa, dissertativa, humorística, descritiva, reflexiva - e cada uma delas apresenta alguma característica particular.

1. Primeiro passo: escolha o tema

Uma das principais características da crônica é a abordagem de assuntos cotidianos ou muito falados no momento.

Relações conjugais, rotina semanal, férias em família e situações constrangedoras são temas sempre atuais. Mas se você quiser algo do momento, esteja atento às notícias e a situações com as quais as pessoas se identifiquem atualmente.

Exemplo de crônica que tem como tema relações conjugais:

“Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo.

Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.”

(Trecho de Crônica Engraçada, de Luis Fernando Verissimo)

2. Defina o tempo em que a narração se situa

Se o tema escolhido for algo que se mantém atual ao longo dos tempos, você pode escolher falar tanto no presente como no passado.

E se o tema está em voga, você não precisa necessariamente situá-lo no tempo presente. Esta é uma oportunidade de trazer um toque de humor a sua crônica abordando algo da atualidade, mas sob uma perspectiva passada.

Exemplo de crônica que se contextualiza na quarentena 2020:

“Quando abrir esta revista, você poderá estar chorando. Ou não, você poderá estar ouvindo o disco do Caetano com os filhos — para mim, um verdadeiro ansiolítico — ou confiante, ou mesmo mergulhado em pessimismo. Eu, aqui da minha quarentena privilegiada de São Conrado, não tenho como conhecer seu estado de espírito, como também não conheço seu estado civil e muito menos seu estado de saúde. No entanto, há uma coisa a seu respeito que eu sei, e é sobre isso que me arrisco aqui: você está em casa. Em casa. Seus amigos, se não forem médicos ou frentistas ou enfermeiros ou farmacêuticos ou entregadores, também estão em casa, assim como seu maior desafeto ou o seu primeiro amor.”

(Trecho de crônica de Maria Ribeiro para a revista Veja)

3. Decida o espaço em que a situação se desenrola

Na crônica, o espaço em que a história se desenrola é limitado. Isso acontece porque a crônica deve ser curta, não havendo capacidade para desenvolver um texto que abranja uma série de locais diferentes.

Exemplo de crônica sujo espaço escolhido é o Rio de Janeiro:

“Não sei como as coisas se passam em outros sítios. Aqui, no Rio, é uma calamidade, os jardins de infância faturam por fora em nome dos santos juninos, e os pais são obrigados a gastar os tubos com fantasias caipiras que as crianças sem entender e sem amar. Até o presidente da república bota na cabeça um chapéu de palha em frangalhos e convida os ministros para um quentão oficial geralmente substituído por uísque 12 anos.”

(Trecho de Noites de Junho, Noites de Outrora, de Carlos Heitor Cony)

4. Escolha os personagens

Tal como o tempo e o espaço na crônica são limitados, os personagens também são.

Uma vez que o texto da crônica é curto, não há oportunidade para um grande elenco esboçar as suas ações.

Exemplo de crônica que se desenvolve em torno de um personagem:

“Foi em 1868. Estávamos alguns amigos no Club Fluminense, Praça da Constituição, casa onde é hoje a Secretaria do Império. Eram nove horas da noite. Vimos entrar na sala do chá um homem que ali se hospedara na véspera. Não era moço; olhos grandes e inteligentes, barba raspada, um tanto cheio. Demorou-se pouco tempo; de quando em quando, olhava para nós, que o examinávamos também, sem saber quem era. Era justamente o Dr. Sarmiento, vinha dos Estados Unidos, onde representava a Confederação Argentina, e donde saíra porque acabava de ser eleito presidente da República. Tinha estado com o Imperador, e vinha de uma sessão científica. Dois ou três dias depois, seguiu para Buenos Aires.”

(Trecho de O Futuro dos Argentinos, de Machado de Assis)

5. Defina o tipo de narrador

O foco narrativo utilizado na crônica é uma escolha importante, porque o narrador é o elemento que dá voz ao texto.

Se optar pelo narrador personagem, além de contar a história, o narrador também desempenha o papel de personagem da crônica e, por isso, narra em primeira pessoa. Já o narrador observador é o que narra em terceira pessoa.

Outra opção é o narrador onisciente, aquele que conta a história conhecendo tudo o que acontece nela, inclusive os pensamentos de todos os personagens. Pode narrar em primeira ou terceira pessoa.

Exemplo de crônica cujo narrador é narrador personagem:

“É inútil deixar de confessar que tenho estado cerca de quatro horas por dia vendo futebol na televisão, e não há esperança de que isso melhore antes de 11 de julho. Suponho que o leitor também esteja intoxicado de futebol, e então, para variar, vou contar uma partida realizada há quase 37 anos, nesta cidade do Rio de Janeiro. Aqui está minha narrativa, com pequenos cortes:”

(Trecho de Ultimamente têm Passado Muitos Anos, de Rubem Braga)

6. Escreva a sua crônica

Depois de planejar o seu texto, é o momento de redigir a sua crônica.

Lembre-se que esse gênero textual requer linguagem simples, e que pode ter um toque de humor, além do que se caracteriza por ser um texto curto.

Aproveite os momentos em que está mais predisposto para escrever e escolha o ambiente mais adequado para ajudar no seu trabalho.

No fim, revise a crônica atentando para eventuais erros de português ou de digitação. Ler em voz alta também ajuda no processo de afinação do texto.

Para você entender melhor:

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).