O que é paralelismo sintático e semântico?

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

Paralelismo é a correspondência de funções gramaticais e semânticas existentes nas orações. Além de melhorar a compreensão de texto, o fato de respeitar o paralelismo torna a sua leitura mais agradável.

Exemplos:

  1. Não só canta, como bolos é sua especialidade.
  2. Não só canta, como faz bolos com especialidade.

Apenas na segunda oração há a presença de paralelismo. Isso porque há uma relação de equivalência dos termos.

O núcleo do primeiro período é o verbo cantar. O núcleo do segundo período é o verbo fazer. Assim, a oração apresenta uma estrutura simétrica, o que ocorre através dos dois verbos (canta, faz).

Na primeira oração, o núcleo do primeiro período é o verbo cantar. No segundo período, porém, o núcleo é o substantivo bolos. Daí decorre que não houve correspondência entre ambos os períodos (canta, bolos).

Lembre-se: Para que o paralelismo esteja presente no discurso, é preciso que haja simetria estrutural!

Há dois tipos de paralelismo: sintático e semântico.

Paralelismo sintático

O paralelismo sintático, ou paralelismo gramatical, observa a ligação existente entre as funções sintáticas ou morfológicas dos elementos da oração.

Exemplos:

1) O que espero das férias: viagens, praia e visitar lugares diferentes.

Há aqui uma quebra na estrutura da oração, a partir do momento em que se utiliza o verbo visitar em vez de continuar a sequência morfológica com substantivos.

O ideal seria: O que espero das férias: viagens, praia e visitas a lugares diferentes.

2) Quando eu der a notícia, eles ficariam tristes.

Neste caso, ocorreu uma alternância nos tempos verbais. No primeiro período o verbo está no futuro do subjuntivo, o que obriga que o verbo do segundo período esteja no futuro do presente e não no futuro do pretérito.

O correto seria assim: Quando eu der a notícia, eles ficarão tristes.

Outra alternativa seria: Quando eu desse a notícia, eles ficariam tristes.

Paralelismo semântico

O paralelismo semântico observa a correspondência de valores existentes no discurso.

Exemplos:

1) O evento durou o dia todo e algumas dores nos pés.

O sentido da oração foi interrompido. No que respeita à duração da festa, era esperado algo como “O evento durou o dia todo e adentrou a noite.”, por exemplo.

2) Preocupado, perguntou o quanto a namorada gostava dele. Ela respondeu que gostava milhares de reais que ele tinha no banco.

Também neste caso, há ausência de paralelismo. A namorada deveria dizer que gostava muito ou pouco do namorado. Não faz sentido tentar estabelecer uma relação entre valor sentimental e quantia financeira.

Casos frequentes

1) não só ... mas também

Sem paralelismo: Não só corrigiu os seus erros e é a ajuda do seu grupo de estudos.
Com paralelismo: Não só corrigiu os seus erros, mas também ajudou o seu grupo de estudos.

2) por um lado ... por outro

Sem paralelismo: Por um lado, eu concordo com a atitude dela, por outro, eu acho que ela fez o que era certo.
Com paralelismo: Por um lado, eu concordo com a atitude dela, por outro, fico preocupada com as consequências.

3) quanto mais ... mais

Sem paralelismo: Quanto mais eu o vejo, talvez não case com ele.
Com paralelismo: Quanto mais eu o vejo, mais certeza tenho que não quero casar com ele.

4) tanto ... quanto

Sem paralelismo: Tanto foram convidados adultos e crianças.
Com paralelismo: Tanto foram convidados adultos quanto crianças.

5) ora ... ora, seja ... seja

Sem paralelismo: Ora faz os deveres, mas não faz tudo.
Com paralelismo: Ora faz os deveres, ora não faz.

6) não ... nem

Sem paralelismo: Não posso contar para o patrão, provavelmente para a patroa.
Com paralelismo: Não posso contar para o patrão, nem para a patroa.

7) primeiro ... segundo

Sem paralelismo: Primeiro porque eu não como carne, segundo porque eu sou vegetariana.
Com paralelismo: Primeiro porque eu não como carne, segundo porque não quero sair com você.

Paralelismo na literatura

O paralelismo costuma ser usado intencionalmente na literatura. É o caso do exemplo acima, em que a falta de paralelismo pode ser uma forma de trazer alguma comicidade ao texto.

Nesses casos, a sua falta não deve ser considerada um erro.

Na produção literária, a utilização do paralelismo pode ser um recurso para tornar o texto agradável. Assim, ele propicia a musicalidade dos poemas, tal como as figuras de linguagem.

Na literatura, o paralelismo pode ser chamado de paralelismo anafórico. Isso porque na figura de sintaxe anáfora há uma tendência em seguir uma simetria sintática e semântica nas suas repetições no início dos versos.

Exemplo:

"Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia
."

(Primeira estrofe do poema A Estrela, de Manuel Bandeira)

Márcia Fernandes
Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).