Dostoiévski: biografia e resumo das principais obras

Carla Muniz
Carla Muniz
Professora licenciada em Letras

Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski foi um escritor, jornalista e filósofo russo.

As obras literárias de Dostoiévski são conhecidas por explorarem o psicológico dos indivíduos, no que diz respeito a contextos sociais, políticos, religiosos, filosóficos e espirituais da sociedade russa do século XIX.

Dostoiévski e a literatura

Dostoiévski era um escritor de romances, pequenas histórias e ensaios literários.

Uma das principais características das obras de Fiódor Dostoiévski é a forma profunda como foram abordadas questões psicológicas através dos personagens.

Os trabalhos mais famosos do escritor mostram sua capacidade de analisar estados patológicos da mente, que podem levar o ser humano a ter comportamentos insanos e/ou a cometer assassinato, ou suicídio.

Em suas obras, Dostoiévski abordou temas como a raiva, a autodestruição pessoal e a humilhação, entre outros.

Obras de Dostoiévski que se destacam pelo fator psicológico

Confira abaixo um resumo das principais obras de Dostoiévski que exploram o lado psicológico do ser humano.

Memórias do subsolo (1864)

O personagem principal da história fala sobre si próprio de forma humilhante, e se julga incapaz de agir com confiança e tomar decisões.

Devido ao fato de se considerar uma pessoa fraca e covarde, acaba por passar os dias no seu subsolo.

Crime e castigo (1866)

Por conta da forma como expõe os pensamentos de uma mente criminosa, a obra é considerada praticamente um ensaio psicológico.

A história tem como base um crime e as respectivas consequências que ele acarreta ao criminoso.

São abrangidos pela temática o remorso, o delírio, o conceito de moralmente correto, os diálogos internos do ser humano, a culpa e o receio de decepcionar.

O idiota (1869)

História de um personagem cuja índole é dominada pelo amor, pelo perdão e pela bondade. Essas características fazem com que ele acabe por perdoar demais, ao ponto de se deixar maltratar.

A obra costuma despertar em seus leitores uma relação contraditória no que diz respeito ao que é sentido em relação à tamanha bondade: admiração, mas também um quê de revolta.

Os demônios (1872)

A obra foi inspirada no assassinato de um jovem estudante por um grupo niilista, ocorrido na Rússia em 1869.

A história é uma recriação fictícia do fato, e faz uma profunda reflexão política, social, filosófica e religiosa da época.

O título da obra faz alusão aos demônios que tiveram impacto naquela sociedade: violência, terrorismo e ideologias, dentre outros.

Os irmãos Karamazov (1881)

Sem dúvida é a obra mais conceituada de Fiódor. Influenciou, inclusive, pensadores como Nietzsche e Freud.

O enredo é baseado em uma família disfuncional, formada por um pai negligente em relação a seus filhos e que foi desrespeitador com suas esposas em ambos os casamentos que tivera.

A temática da história abrange o livre-arbítrio, a fé em Deus e o ateísmo, entre outros.

A trama gira em torno da relação existente entre um pai e seus três filhos: o primeiro tem um temperamento bipolar; o segundo é inteligentíssimo, dono de uma mente brilhante que questiona, por exemplo, a classificação moral do que faz parte do bem e do que faz parte do mal; o terceiro é um rapaz extremamente bondoso, que baseia seus atos no compromisso de praticar o bem.

Existe ainda um quarto filho, que é fruto de um estupro, e cujo comportamento apresenta traços de extrema maldade, e também de excessiva serventia.

Outras obras de Dostoiévski

Dostoiévski livros capas

Confira mais alguns dos emblemáticos livros de Dostoiévski.

  • Gente pobre (1846)
  • O duplo (1846)
  • Noites brancas (1848)
  • O sonho do príncipe (1859)
  • Humilhados e ofendidos (1861)
  • Recordações da casa dos mortos (1862)
  • O jogador (1867)
  • Os adolescentes (1875)

Dostoiévski e a filosofia

Dostoiévski é considerado o pai do existencialismo na literatura.

O existencialismo é uma corrente filosófica de pensamento, que destaca a importância da existência do indivíduo enquanto parte principal da criação de um conceito filosófico.

De acordo com essa corrente, o homem é livre e responsável pelo próprio destino.

Na obra Os irmãos Karamazov, os traços do existencialismo ficam evidentes através da relação complexa entre um pai e seus filhos, tanto no que diz respeito ao fator psicológico quanto ao emocional.

Outra corrente filosófica que pode ser observada nas obras de Fiódor Dostoiévski é o niilismo, doutrina segundo a qual nada é absoluto, e onde existe uma visão cética que questiona diferentes interpretações da realidade.

Um dos personagens de Os irmãos Karamazov, questiona, por exemplo, a existência de Deus e afirma:

Se Deus não existe, então tudo é permitido.

Dostoiévski e a política

Dostoiévski foi um dos jovens russos mais engajados na luta pelo combate ao autoritarismo do Tsar Nicolau I.

Por conta de seu ativismo, em 1849 foi condenado à morte por ter se unido a um grupo socialista (Círculo Petrashevski) contra o governo.

Juntamente com outros condenados, foi levado para a execução da sentença. No entanto, na última hora teve sua pena substituída por um período de 5 anos de exílio na Sibéria.

O escritor foi enviado para um sistema de prisão onde os detentos eram distribuídos por campos de trabalho, de forma a cumprir suas sentenças através da realização de tarefas forçadas.

Durante o período em que passou preso na Sibéria, Fiódor teve a sua primeira crise de epilepsia, doença que o acompanhou por toda a vida e que influenciou, inclusive, a criação de alguns de seus personagens.

Em 1854, ele deixa finalmente a prisão e passa a cumprir pena de serviço militar.

Dostoiévski e o jornalismo

Fiódor Dostoiévski foi um dos mais emblemáticos jornalistas de sua época e, por diversas vezes, causou polêmica por conta de suas reflexões.

Juntamente com seu irmão Mikhail, foi proprietário de um jornal mensal chamado Tempo.

Além disso, fundou uma revista de nome Época e foi editor-chefe do jornal Cidadão, onde criou a sua própria coluna: Diário de um escritor.

Um ponto marcante de sua carreira jornalística foi o fato de ter sido o único a escrever e também editar a publicação, caso inédito até então.

Frases de Dostoiévski

Conheça algumas das frases mais conhecidas de Dostoiévski.

Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente.

O segredo da existência humana não está apenas em viver, mas também em saber para que se vive.

A maior felicidade é quando a pessoa sabe porque é que é infeliz.

Podem ter a certeza de que não foi quando descobriu a América, mas sim quando estava a descobri-la, que Colombo se sentiu feliz.

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado do que a ideia da inexistência de Deus. O homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Vida pessoal de Dostoiévski

Nascido em 30 de outubro de 1821, Fiódor Dostoiévski (por vezes grafado Dostoyevsky) era natural de Moscou e foi o segundo de sete filhos.

Dostoiévski
Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (30/10/1821 - 28/01/1881)

O pai de Fiódor foi um médico-cirurgião militar que, além de realizar atendimentos particulares, atendia pessoas de baixa renda no Hospital Mariinsky, situado em Moscou. Era conhecido por ser um homem muito rígido, severo e desconfiado.

Faleceu em 1839, sob circunstâncias não muito claras. Acredita-se, inclusive, que ele tenha sido assassinado pelos seus servos, que sofriam maus-tratos em suas mãos.

A mãe do escritor russo descendia de uma família de comerciantes, e era conhecida por ser uma mãe extremamente carinhosa e tolerante. Faleceu vítima de tuberculose em 1837.

Os estudos de Dostoiévski foram realizados em casa e só depois dos 12 anos de idade ele passou a frequentar uma escola e, mais tarde, um colégio interno.

Apesar de ter estudado na Academia Militar de Engenharia de São Petersburgo, Fiódor não se adequava à profissão de engenheiro. Desde jovem, o escritor mostrou interesse pela ficção gótica e pelos romances. Teve entre seus preferidos, escritores como Friedrich Schiller, Aleksandr Pushkin e Ann Radcliffe.

inspirações de fiódor
Da esquerda para a direita: Friedrich Schiller (10/11/1759 - 99/05/1805), Aleksandr Pushkin (26/05/1799 - 29/01/1837) e Ann Radcliffe (9/07/1764 - 7/02/1823)

Por conta de sua maior identificação com a literatura, assim que se graduou da Academia Militar como subtenente pediu baixa para iniciar a carreira de escritor.

Posteriormente, se apaixonou por Maria Dmitriévna, que na época era casada com Alexander Ivanovich Isaev e tinha com ele um filho.

Após o falecimento de seu marido, Maria foi pedida em casamento por Dostoiévski, vindo a ser sua esposa em fevereiro de 1857. Em abril de 1964, faleceu em decorrência de tuberculose.

Em 1867, Fiódor voltou a se casar. Sua segunda esposa, de nome Anna Dostoiévskaia, foi a estenógrafa que o auxiliou na produção da obra O jogador. Tiveram quatro filhas, porém apenas duas chegaram à idade adulta; as demais faleceram antes.

Um dos momentos mais marcantes na vida de Fiódor aconteceu em 1880, com sua participação na inauguração do monumento em homenagem a Alexandre Pushkin (maior poeta russo da época romântica), localizado em Moscou.

Durante o evento, Fiódor proferiu um discurso marcante e, de certa forma, profético, sobre o futuro da Rússia em um contexto mundial.

Alexandre Pushkin
Monumento em homenagem a Alexandre Pushkin, inaugurado entre os dias 5 e 9 de junho de 1880

No ano seguinte, em 28 de janeiro, Fiódor faleceu em consequência de uma hemorragia pulmonar, provavelmente causada por um enfisema.

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Carla Muniz
Carla Muniz
Professora, lexicógrafa, tradutora, produtora de conteúdos e revisora. Licenciada em Letras (Português, Inglês e Literaturas) pelas Faculdades Integradas Simonsen, em 2002 e formada em 1999 no Curso de Magistério (habilitação para lecionar na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I).