MPB - Música Popular Brasileira

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A música popular brasileira, conhecida como MPB, é um gênero musical. Tem relação com a produção nacional desenvolvida a partir de um movimento cultural surgido após o golpe militar de 1964.

A maioria das músicas produzidas no período contestava a ditadura, trazendo questionamentos sobre a situação brasileira de forma poética.

Já quando se fala da música brasileira com caráter popular, refere-se ao conjunto de manifestações culturais de influência indígena, africana e europeia no país.

História do Movimento MPB

A década de 60 é considerada um período de ebulição na música brasileira. É quando passam a coexistir o samba, o jazz, a bossa nova, o sertanejo de raiz, a moda de viola, o baião nordestino, o rock e outros.

Esse período é considerado um marco para o cenário da música nacional. Compositores e intérpretes passam a mesclar influências da bossa nova com estilos sonoros produzidos nos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes.

O contexto era o da Ditadura Militar, que cassou direitos e restringiu a liberdade, censurando os movimentos culturais. É nessa conjuntura que jovens músicos começam a contestar o duro regime, criando letras inteligentes e de protesto, muitas vezes de forma disfarçada.

A partir dessa fase é popularizada a sigla MPB como marca de um movimento próprio de contestação social e política.

Além disso, outros temas também foram abordados, como as relações amorosas.

Os Festivais de Música, ou Festivais da Canção, realizados nos anos 60 e transmitidos na televisão, foram muito importantes para que músicos e compositores do período ficassem conhecidos.

Confira um vídeo do Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, em que Chico Buarque o grupo Mpb4 cantam Roda Viva.

Roda Viva - Chico Buarque e Mpb4 (1967) Ver no YouTube

Nomes da MPB: artistas importantes

São muitos os grandes nomes da MPB, sendo difícil listar todas as personalidades importantes desse gênero. Entretanto, podemos destacar o carioca Chico Buarque como um dos maiores representantes, ao lado de Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia, Gonzaguinha, Tom Zé, Os Mutantes, entre outros.

Há ainda o baiano Raul Seixas, que muda a era do rock nacional revelado pela Jovem Guarda. O artista impõe letras marcadas pela contrariedade à rotina, à exploração social e do trabalho.

Como movimento, a MPB também é manifestada pelo lirismo, com letras que abordam as relações amorosas. Nessa faceta da MPB, Chico Buarque é elevado a uma espécie de tradutor da alma feminina, revelando seus desejos, culpas e sonhos no estilo denominado "cantiga e amigo".

Manifestação semelhante é observada no trabalho de Caetano e Gil, além de outros, como Djavan, Gal Costa, Simone e Leila Pinheiro.

Breve história da música no Brasil

A música sempre esteve presente na rotina das populações nativas do Brasil em rituais e festas religiosas, antes do descobrimento. O canto era entoado para embalar o bate-pau, danças ritmadas com o uso do bambu.

A chegada do colonizador português representou incremento na sonoridade, com instrumentos como violão, viola, cavaquinho, tambor e pandeiro. Até os dias atuais, esses são elementos que remetem à identidade musical local, principalmente no samba.

Somente no século XVII, instrumentos de harmonia mais sofisticada, como o piano, foram incorporados ao arsenal musical local. Ainda assim, ficavam restritos às famílias nobres ou abastadas.

O colonizador português utilizou a música como instrumento de catequese. Os padres jesuítas musicaram peças teatrais e autos para facilitar a compreensão do evangelho. O padre José de Anchieta é reconhecido como compositor de muitas dessas peças e autos.

A tradição das danças, do ritmo e do som africanos foi decisiva para as atuais manifestações da música nacional. O batuque, extraído de instrumentos como atabaques, cuíca, reco-reco, pandeiro e tambor, formam a base do que seria, mais tarde, o samba.

A música popular brasileira também recebeu influência francesa, manifestada nas tradicionais quadrilhas. A dança em pares, comum nas festas de São João, é uma alegoria às danças da corte francesa.

A partir de 1800, a mistura de influências já resulta na composição de modinhas e popularizam o ritmo lundu. Entre os mais reconhecidos compositores de modinha estão Padre José Maurício Nunes, Francisco Manuel da Silva e Cândido Inácio da Silva.

As composições de modinhas e o lundu foram incrementadas com a sonoridade erudita e influenciam para o surgimento de novos ritmos, como a polca, o maxixe e o choro.

O ano de 1870 é tido como ponto de partida do choro, que notabilizou muitos artistas, entre eles Chiquinha Gonzaga. Em 1899, a maestrina e pianista carioca lança "Ó Abre Alas", a primeira marchinha de Carnaval.

O pioneirismo de Chiquinha Gonzaga foi reconhecido por meio da Lei Federal N.º 12.624, que instituiu o dia 17 de outubro como o "Dia da Música Popular Brasileira". A data lembra o aniversário da artista. A trajetória de Chiquinha influencia compositores como Anacleto de Medeiros, Irineu Almeida e Pixinguinha.

As composições de Pixinguinha representaram um divisor de águas na história da música popular brasileira. Isso ocorreu por estarem diretamente ligadas ao surgimento do samba.

O gênero samba, que surge a partir de 1917, é considerado uma revolução e inspira compositores como Ernesto Joaquim Maria dos Santos e Mauro de Almeida. Pixinguinha, porém, é sua melhor tradução.

Até 1950, choro e samba revelam nomes como Jacob do Bandolim e Nelson Gonçalves. Essa é a época da chamada "Era do Rádio", com a influência de intérpretes como Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto e Ângela Maria.

O início dos anos 50 também são destacados pela influência de Cartola, considerado um dos maiores mestres do samba nacional. A melodia de Cartola é revelada também na voz da gaúcha Elis Regina.

Paralelo ao sucesso do samba e do choro, surge nos anos 50 o movimento que ficou conhecido como Bossa Nova. O movimento demonstra o cotidiano local, em especial o carioca e sua malemolência.

A melodia suave foi perpetuada por Tom Jobim, com letras de Vinicius de Moraes. A Bossa Nova evidenciava a mistura da música erudita aos ritmos nacionais e recebeu reconhecimento internacional.

Entre seus representantes está também o compositor e intérprete João Gilberto.

Esse gênero é o ponto de partida para movimentos que ocorrem em paralelo entre o fim da década de 50 e a década de 60. São a Tropicália e Jovem Guarda, que apontam o cotidiano, mas demonstram a rebeldia, o questionamento às instituições oficiais.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.