Narrador Observador

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

O narrador observador é um tipo de narrador que conhece toda a história que será narrada, porém, não participa dela.

Assim, ele conhece os fatos, mas não atua como um personagem da trama. Esse narrador é, portanto, objetivo e imparcial quanto ao desenrolar dos acontecimentos.

Por esse motivo, esse texto é narrado em 3ª pessoa do singular (ele, ela) ou plural (eles, elas).

Vale lembrar que o texto narrativo é normalmente escrito em prosa, sendo que sua estrutura está dividida em: introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão.

Além disso, seus principais elementos são: enredo, narrador (foco narrativo), personagens, tempo e espaço.

Os outros dois tipos de narradores são:

o narrador personagem, que participa da história;
o narrador onisciente, que sabe de tudo, inclusive os pensamentos e desejos de seus personagens.

Sendo assim, diferente do narrador onisciente, o narrador observador relata os fatos a partir de sua visão, entretanto, não sabe tudo sobre seus personagens.

Ele é uma testemunha dos fatos e ações relatadas e não conhece todos os pensamentos, personalidade e sentimentos dos personagens.

Exemplo

Confira abaixo um exemplo de narrador observador no romance de Machado de Assis, Quincas Borba:

CAPÍTULO LXXVIII

Rubião é que não perdeu a suspeita assim tão facilmente. Pensou em falar a Carlos Maria, interrogá-lo, e chegou a ir à Rua dos Inválidos, no dia seguinte, três vezes; não o encontrando, mudou de parecer. Encerrou-se por alguns dias; o Major Siqueira arrancou-o à solidão. Ia participar-lhe que se mudara para a Rua Dois de Dezembro. Gostou muito da casa do nosso amigo, das alfaias, do luxo, de todas as minúcias, ouros e bambinelas. Sobre este assunto discorreu longamente, relembrando alguns móveis antigos. Parou de repente, para dizer que o achava aborrecido; era natural, faltava-lhe ali um complemento.

— O senhor é feliz, mas falta-lhe aqui uma coisa; falta-lhe mulher. O senhor precisa casar. Case-se, e diga que eu o engano.

Rubião lembrou-se de Santa Teresa, — daquela famosa noite da conversação com Sofia, — e sentiu correr-lhe um frio pelas costas; mas a voz do major não tinha nenhum sarcasmo. Tampouco era animada de interesse. A filha estava ainda qual a deixamos no capítulo XLIII, com a diferença que os quarenta anos vieram. Quarentona, solteirona. Gemeu-os consigo, logo de manhã, no dia em que os completou; não pôs fita nem rosa no cabelo. Nenhuma festa; tão-somente um discurso do pai, ao almoço, lembrando-lhe a vida de criança, anedotas da mãe e da avó, um dominó de baile de máscaras, um batizado de 1848, a solitária de um Coronel Clodomiro, várias coisas assim de mistura, para entreter as horas. D. Tonica mal podia ouvi-lo; metida em si mesma, ia roendo o pão da solitude moral, ao passo que se arrependia dos últimos esforços empregados na busca de um marido. Quarenta anos; era tempo de parar.

Nada disso lembrava agora ao major. Era sincero; achou que a casa de Rubião não tinha alma. E repetiu, ao despedir-se:

— Case-se, e diga que eu o engano.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.