O que é narrador-personagem (tipos e exemplos)

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

O narrador-personagem é um tipo de narrador que participa da história e, por isso, recebe esse nome. Ele narra a história na 1.ª pessoa do singular ou do plural (eu, nós) e escreve a partir de sua interpretação da história, portanto, não tem conhecimento total sobre os outros personagens, mas uma visão limitada dos fatos.

A subjetividade é uma marca fundamental no narrador-personagem, uma vez que as opiniões transmitem as suas emoções.

Quando uma narração apresenta esse tipo de narrador, a história tem um tom de suspense, porque o leitor se envolve nas ações e descobertas que acompanham a visão do narrador.

Vale lembrar que a narração é um gênero textual que apresenta como estrutura a introdução, o desenvolvimento, o clímax e a conclusão.

O texto narrativo é formado pelo enredo, espaço, tempo, personagens e o narrador (foco narrativo).

Tipos de narrador-personagem

Dependendo da sua atuação e aparição na história, há dois tipos de narrador-personagem:

  1. Narrador-personagem protagonista, que é o personagem principal.
  2. Narrador-personagem testemunha, que é um personagem secundário.

Além do narrador-personagem, o narrador pode ser observador ou onisciente.

O narrador observador narra a história na 3.ª pessoa e não participa da história. Ele tem conhecimento de tudo o que acontece, mas não sabe tudo acerca de seus personagens.

O narrador onisciente sabe de tudo, inclusive os pensamentos e os sentimentos dos personagens da história, que é narrada na 3ª pessoa.

Exemplos de narrador-personagem

Exemplo 1: Memórias Póstumas e Brás Cubas, de Machado de Assis

Um dos narradores-personagens mais conhecidos é o narrador de Memórias Póstumas e Brás Cubas:

“Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.

Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.

Logo depois, senti-me transformado na Suma Teológica de São Tomás, impressa num volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéia esta que me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.

Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino.” (Capítulo VII - O Delírio)

Exemplo 2: Um Estudo em Vermelho, de Arthur Conan Doyle

Um exemplo bastante conhecido de narrador-personagem é o narrador das histórias de Sherlock Holmes. Em Um Estudo em Vermelho, o primeiro conto de Sherlock Holmes, o narrador-personagem é o seu fiel companheiro, o Sr. Watson. O Sr. Watson é o personagem secundário da história, ou seja, é o narrador testemunha:

“Talvez o leitor esteja me julgando um bisbilhoteiro incurável, porque confesso o quanto aquele homem espicaçava minha curiosidade e quantas vezes procurei romper todas as reticências presentes em tudo que dizia respeito a Sherlock Holmes. Antes de me julgar assim, porém, tenha presente o quanto minha vida carecia de objetivos e quão poucas coisas havia para despertar minha atenção. Minha saúde impedia que eu me aventurasse fora de casa, a menos que o tempo estivesse excepcionalmente bom. Não tinha amigos que pudessem me visitar, quebrando a monotonia de meus dias. Sob tais circunstâncias, desfrutava com ansiedade o pequeno mistério que cercava meu companheiro e passava a maior parte do tempo tentando decifrá-lo.”

Leia também:

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.