Tráfico Negreiro

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

O tráfico negreiro representa a fase em que os negros africanos foram trazidos da África para serem escravos.

O comércio de negros africanos como escravos foi uma das principais atividades comerciais dos países dominantes no período de 1501 a 1867.

Comércio África-América

A prática era gerenciada por seis nações: Inglaterra, Portugal, França, Espanha, Países Baixos e Dinamarca.

A justificativa comercial para sustentar a exploração de escravos africanos era que somente com os escravos seria possível manter os baixos preços de produtos como açúcar, arroz, café, anil, fumo, metais e pedras preciosas.

Tráfico de Escravos
"Comerciante mineiro barganha no mercado de escravo no Rio"

O tráfico negreiro foi responsável pelo deslocamento forçado de 12,5 milhões de pessoas da África e calcula-se que um terço foi para a América Portuguesa. Esse foi o maior deslocamento involuntário de pessoas durante toda a história.

Do total, 12,5% não conseguiram completar a travessia porque morriam ainda nos navios devido às más condições de higiene que permitiam a proliferação de doenças ou aos castigos aplicados para coibir revoltas.

Esta prática comercial da escravidão se constituiu no mais importante objetivo de interação entre europeus e africanos, antes afastados pelo poderio do mar.

A descoberta do Novo Mundo possibilitou a ampliação da produção de diversos produtos requisitados pela Europa, contudo, a mão de obra disponível era insuficiente.

As populações indígenas encontradas no novo território, mesmo permanecendo cativos, entraram em colapso em consequência do extermínio físico e das doenças em certos territórios.

Já os imigrantes livres ou mesmo os prisioneiros enviados de maneira forçada para a América nunca foram suficientes para preencher as necessidades da produção.

Foi o trabalho forçado e não remunerado do africano que garantiu ao consumidor europeu o acesso aos metais preciosos, açúcar, café e outros produzidos nas colônias.

Escravos Africanos

A explicação para o uso da mão de obra africana forçada nas colônias é alvo de diversas correntes de pesquisas históricas.

No início justificava-se que os negros eram inferiores, que haviam perdido uma guerra e assim poderia ser escravizados.

Também houve a crença que o negro africano foi escravizado porque o índio não se deixou escravizar ou porque morreu de doenças trazidas pelos colonizadores.

A escravidão era uma instituição presente nas sociedades africanas, mas não tinha fins comerciais, e representava dominação e poder do mais forte sobre o fraco.

Nos meandros das sociedades africanas, o domínio europeu também foi favorecido pelos africanos que vendiam escravos para os colonizadores.

Os inimigos eram a única "mercadoria" que eles tinham para oferecer e assim, poder comprar os valiosos objetos trazidos pelos europeus.

Em posse de vigorosa tecnologia náutica, os europeus transportavam os africanos de maneira forçada até o outro continente e lhes negava o direito à própria vida. Estes eram entregues aos futuros proprietários nas fazendas de açúcar e café.

Rotas

Os escravos cativos foram transportados por diversas rotas saindo da África. Antes mesmo do início da exploração comercial em larga escala, havia rotas para a Europa pelas ilhas do Atlântico e Mar Mediterrâneo.

Estes teriam sido os primeiros a partirem forçosamente para a América para trabalhar nas plantações de açúcar.

Tráfico de Escravos rota mapa
Rotas do tráfico negreiro da África para a América

O setor açucareiro absorveu 80% dos negros retirados da África. Havia dois pontos, o norte, de expedições que partiam da Europa e da América do Norte; e o sul, partindo do Brasil.

Os portos que mais recebiam negros estavam localizados no Rio de Janeiro, em Salvador (BA) e Recife; na Inglaterra destacam-se Liverpool, Londres e Bristol. Na França, a cidade de Nantes era um importante local de venda de escravizados. Juntos, esses portos foram responsáveis por receber 71% dos escravos.

Os principais pontos de partida na África estavam localizados em Senegâmbia, Serra Leoa, Costa do Barlavento, Costa do Ouro, Golfo do Benim e, principalmente, a África Centro-Ocidental.

Oceano Índico

O comércio Atlântico não era o único tráfico de escravos africanos. Já no século I d.C. eram trazidos escravizados pelo deserto do Saara, vindos da costa oriental africana.

Estes cativos tinham como destino a escravatura no norte da África, no Médio Oriente, para o qual seguiam viagem através do Oceano Índico.

A maioria deste comércio estava nas mãos de mercadores muçulmanos que abasteciam os reinos muçulmanos com escravos para os serviços domésticos e a concubinagem.

Proibição

A proibição do tráfico de escravos começou na própria Europa após o início de uma batalha ideológica. Há historiadores, contudo, que apontam os elevados preços da mão de obra escrava como justificativa para o fim da exploração em um período de crescente industrialização.

Os debates para o fim do tráfico negreiro começaram na Inglaterra, mesmo com os auspiciosos lucros da prática. Em 1807, o tráfico de negros foi considerado ilegal por ingleses e, no mesmo ano, pelo governo dos Estados Unidos.

O governo da Inglaterra passou a coibir diretamente o tráfico a partir de 1810, empregando 10% da esquadra marítima na interceptação de navios negreiros.

Por sua vez, o governo brasileiro só agiu posteriormente em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós, mas somente em 1888 aboliu a escravidão.

Brasil

O Brasil foi responsável por 40% do comércio de negros para exploração de mão de obra escrava. Dos cerca de 12,5 milhões de pessoas exploradas, 5,8 milhões desembarcaram no país, segundo alguns estudos.

O comércio na era colonial começou em 1560 como maneira de garantir trabalhadores na monocultura do açúcar. A demanda era elevada e em 1630, o Brasil era o principal fornecedor de açúcar para a Europa.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.