Umbanda

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

A Umbanda é uma religião afro-brasileira, surgida em 1908, fundada por Zélio Fernandino de Moraes. É marcada fusão de elementos de diferentes tradições espirituais e culturais, principalmente africanas, indígenas e europeias.

Baseia-se em três 3 conceitos fundamentais: Luz, Caridade e Amor.

Para entender a Umbanda em profundidade, é necessário abordar sua história, seus princípios, suas práticas e como ela se diferencia de outras religiões de matriz africana, como o Candomblé.

Neste conteúdo você vai encontrar:

Origem da umbanda

A umbanda é uma religião surgida nos subúrbios do Rio de Janeiro.

Em 15 de novembro de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, nascido em São Gonçalo/RJ, teria incorporado o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Este espírito o teria ajudado a criar a religião de Umbanda.

Rapidamente, ela se espalhou por todo Brasil e outros países da América Latina.

Suas crenças misturam elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo. Por isso, para muitos estudiosos, a Umbanda seria uma espécie de candomblé sem sacrifícios de animais, algo que seria mais aceito pela população branca e urbana da época.

Ainda adquiriu conceitos do kardecismo, que estava chegando ao país, como o de “evolução” e “reencarnação”.

Também tem Jesus como referência espiritual e é possível encontrar sua imagem em lugar destacado nos altares das casas ou de terreiros de umbanda.

Principais características da umbanda

A Umbanda é caracterizada por ser uma religião sincrética, ou seja, ela une elementos de várias tradições:

  • Catolicismo: presença de santos e orações comuns no catolicismo.
  • Espiritismo kardecista: crença na comunicação com os espíritos e reencarnação.
  • Candomblé e religiões africanas: culto a orixás e reverência aos ancestrais.
  • Elementos indígenas: culto a espíritos da natureza, especialmente os caboclos.

A Umbanda também prega a caridade, a evolução espiritual através da reencarnação e o respeito pelas entidades espirituais.

Local de culto da umbanda

Umbanda

Celebração de Umbanda realizada na beira de uma lagoa

O local para a realização das cerimônias da umbanda chama-se Casa, Terreiro ou Barracão. Igualmente, são feitas várias celebrações ao ar livre, junto à natureza, em rios, cachoeiras ou na praia.

Essas cerimônias são presididas por um “pai” ou “mãe”, um sacerdote que dirige os ritos e comanda a casa. Também é responsável por ensinar a doutrina e os segredos da umbanda aos seus discípulos.

Orixás e entidades da umbanda

Orixás

Os orixás encontrados na Umbanda são: Oxalá, Xangô, Iemanjá, Ogum e Oxossi, Oxum, Iansã, Omulú e Nanã.

Aqui listamos as principais entidades que se manifestam na Umbanda.

Caboclos: espíritos de índios que voltam ao mundo terreno para ajudar pessoas com problemas de saúde.

Pretos-velhos: pessoas trazidas da África para serem escravizados no Brasil. Apesar de terem sofrido em vida, agora são espíritos ditos evoluídos que dão ótimos conselhos a quem os procuram.

Baianos: pessoas que viveram na Bahia e que escolheram serem guias e ajudar a quem precisa. Trabalham com emprego, saúde, força moral.

Marinheiros/Marujos: em algumas regiões, essa linha não existe. Trabalham com limpeza psicológica, física, espiritual, e sempre falam a verdade. Estão sempre balançando porque vem do mar; tiveram uma vida sofrida, mas de muito aprendizado.

Erês: são os espíritos infantis. Risonhos, adoram brincar. Consolam os aflitos, os pais e mães e, às vezes, cometem algumas travessuras.

Malandros: são aquelas pessoas tiveram que usar de sua esperteza para sobreviver. Um dos mais conhecidos é Zé Pelintra. Ficou órfão de pai e mãe e, para sobreviver, começou a realizar pequenos roubos e trapaças. Cuida das mulheres viciadas, das maltratadas, das prostitutas, esquecidas.

Pomba-gira: são mulheres que em vida lutaram contra a situação opressora feminina e por isso, agora ajudam àquelas que passam por problemas. Uma delas foi Maria Padilha, amante do rei Dom Pedro I de Castela (1334-1369), retratada como mulher sensual, bem-vestida e sedutora.

Há também outras entidades como os Boiadeiros, Ciganos, Orientais, etc.

Para exercer o trabalho espiritual, os responsáveis pela ligação entre o mundo espiritual e material, os médiuns, irão receber (incorporar) estas entidades e assim ajudar o consulente.

Deste modo, percebemos que a Umbanda alcança um equilíbrio entre o sincretismo e as religiões afro-brasileiras.

Cerimônias da umbanda

Nestes locais realizam-se sessões de “passe”, em que a entidade reorganiza o “campo energético astral” da pessoa.

Igualmente são feitas sessões de “descarrego”, quando é captada a energia negativa da pessoa e transferida para os fundamentos do templo. Note que não é permitido qualquer tipo de remuneração por esses trabalhos espirituais.

As vestes mais usadas nestas cerimônias são brancas, porque essa é a cor neutra que agrada todos os orixás e guias.

Na Umbanda não se pratica o sacrifício de animais e se celebra rituais de batizado, consagração e casamento.

Pontos de umbanda

Os pontos de umbanda são cantigas para louvar, chamar e se despedir do orixá e as linhas de entidades.

Acompanhadas por instrumentos de percussão como o atabaque, é importante conhecer o ritmo de cada orixá/entidade. Este aprendizado começa na infância do iniciado. Igualmente, é preciso saber uma infinidade de canções.

Os pontos de umbanda e do candomblé influenciaram diretamente a música popular brasileira através de sua musicalidade e o uso dos instrumentos.

Símbolos da umbanda

Símbolos

Símbolos de Exu, o mensageiro entre o mundo terreno e espiritual

Antes de iniciar as cerimônias na Umbanda é comum uma pessoa iniciada riscar o chão com símbolos diversos: estrelas, cruzes, tridentes, traços retos ou curvos, etc.

Estes podem variar conforme a casa de Umbanda, mas o sentido é o mesmo: chamar as entidades que vão ser trabalhadas, garantir a chegada dos guias a serem incorporados, homenagear os orixás, trazer bons fluidos e energias aos participantes.

É preciso observar que estes traços são apenas alguns dos muitos símbolos que existem na Umbanda.

Crenças da umbanda

A umbanda é uma religião monoteísta, onde existe o conceito de um Deus supremo, denominado Olorum” ou “Oxalá”. Creem na imortalidade da alma, na reencarnação e nas leis kármicas.

Acreditam em orixás, personificações de elementos da natureza e de energia, e em guias espirituais, que podem se incorporar durante certas cerimônias e vir à Terra para ajudar as pessoas que necessitam.

Os guias são denominados “entidades” e cada orixá possui uma linha de entidades que o auxilia.

História da umbanda

Umbanda

A cantora Clara Nunes foi uma das divulgadoras da Umbanda no Brasil e no mundo

A Umbanda foi confundida durante muito tempo com a “macumba carioca” ou "Quimbanda". Em 1905, João do Rio (1881-1921), publica suas reportagens que resultaram no livro "As Religiões do Rio" e menciona ritos onde se incorporava espíritos de caboclos e preto-velhos.

Muitos terreiros nasceram do kardecismo, tal como a “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade”, em 1908. Mais adiante, entre os anos de 1920 e 1930, a repressão às religiões africanas levou a união de várias casas e terreiros.

Era necessário organizar e uniformizar o culto umbandista, padronizando algumas diretrizes doutrinárias para evitar perseguições. Naquela época, era usual a utilização do termo "espírita" como forma de evitar a perseguição às novas religiões afro-brasileiras.

Contudo, para legitimar-se, a Umbanda buscou se “desafricanizar” e embranquecer. Para tanto, em 1939, surge a primeira Federação de Umbanda, a União Espiritista de Umbanda do Brasil (UEUB), quando a origem da Umbanda foi estabelecida no Oriente ou na África Oriental.

Por outro lado, no contexto da Ditadura Militar (1964-1985), a Umbanda irá servir como instrumento de legitimação para o projeto nacionalista. Assim, a religião ganha as manchetes de jornais e revistas.

Por fim, durante a década de 80, com a ascensão das igrejas neopentecostais, as religiões de matriz africana voltam a ser alvo de ataques por parte de alguns fiéis.

Atualmente, a Lei 11.635 de 27 de dezembro de 2007, torna esse o "Dia Nacional de Combate ao Preconceito Religioso" e passa a proteger as religiões de matrizes africanas.

Diferenças entre umbanda e candomblé

Embora Umbanda e Candomblé compartilhem a veneração aos orixás e a forte influência africana, elas possuem diferenças significativas:

  • Origem: o Candomblé tem raízes mais profundas nas tradições africanas trazidas pelos escravizados ao Brasil, especialmente da Nigéria, Angola e do Benin. A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, que surge no século XX e incorpora elementos de outras culturas.
  • Culto aos Orixás: no Candomblé, os orixás são figuras centrais do culto e podem "baixar" nos médiuns para se manifestar durante os rituais. Na Umbanda, os orixás são reverenciados, mas geralmente não se manifestam diretamente. Em vez disso, outras entidades (como os caboclos e pretos-velhos) fazem a comunicação com o mundo espiritual.
  • Práticas e Rituais: o Candomblé é mais ritualístico e segue uma estrutura de culto mais rígida, onde cada orixá tem sua própria dança, música e oferendas específicas. Na Umbanda, os rituais são mais flexíveis e muitas vezes misturam elementos cristãos, espíritas e africanos.
  • Visão de Exu: no Candomblé, Exu é um dos orixás mais poderosos, responsável pela comunicação entre os mundos. Na Umbanda, Exu é visto como uma entidade de proteção, que trabalha para equilibrar energias, mas não é considerado um orixá.

Hino da umbanda

Apesar da Umbanda variar de acordo com cada região do Brasil e de cada casa/terreiro, ao menos uma canção é muito popular: o Hino da Umbanda.

Composta por José Manoel Alves (letra) e Dalmo da Trindade Reis (música) foi oficializada como hino em 1961.

Refletiu a Luz Divina
Com todo seu esplendor
É do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar

A Umbanda é paz e amor
É um mundo cheio de Luz
É a força que nos dá vida
É a grandeza que nos conduz

Avantes, filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá

Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá

Temos mais textos sobre o assunto para você:

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.