Ciganos: quem são, a cultura e origem deste povo

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

Entendemos por ciganos um grupo de pessoas que são tradicionalmente nômades, divididos em comunidades que circulavam pela Europa. Os ciganos estão longe de constituir um povo único e homogêneo, e são divididos em várias etnias.

Também são conhecidos como “Rom” ou "Roma" e ao longo da história Ocidental foram marginalizados e vítimas de preconceito por conta do seu modo de vida, considerado suspeito e incompatível com o modo de vida tradicional.

Origem do povo cigano

Uma das dificuldades em conhecer a história dos chamados ciganos é que, grande parte da documentação sobre o assunto foi escrita por não-ciganos. Esses testemunhos são marcados por preconceitos, estereótipos e desconhecimento sobre essa população.

Outro desafio é saber qual o lugar de origem dos ciganos. Atualmente, considera-se que o subcontinente indiano, especialmente ao norte dos atuais Paquistão e Índia, seja a terra natal mais provável. Dali teriam passado à Pérsia, ao Egito, e também ao continente europeu.

O primeiro documento que atesta a presença dos ciganos na Espanha é de 1425, quando um grupo recebe uma carta de proteção do Papa Martinho V para cruzar o território a fim de peregrinar a Santiago de Compostela.

Ciganos
Os ciganos se fixaram pela Europa, especialmente nos Balcãs

Onde vivem os ciganos?

Os países onde vivem o maior número de ciganos são os Estados Unidos (1.000.000), Brasil (800.000) e Espanha (710.000).

No entanto, são em países como Sérvia, Bulgária, Eslovênia e Romênia que se verifica a maior proporção de ciganos na população.

Povo cigano no Brasil

Os ciganos chegaram ao Brasil ainda no século XVI. As autoridades de Portugal viam nos seus territórios ultramarinos uma oportunidade de se livrar desses indivíduos que eram considerados “indesejados”.

Os ciganos estabeleceram-se em praticamente todo o território nacional, com destaque particular para a Bahia.

Atualmente, existem três grandes grupos ciganos no País. O primeiro, oriundos de Portugal e Espanha, que mantém o dialeto caló. O segundo, o Rom, que utiliza o romani, e são oriundos especialmente do Leste Europeu. Finalmente, os Sintis, da Alemanha e da França, após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Segundo os dados do IBGE, em 2010 havia cerca de 800 mil ciganos no Brasil. Boa parte já não vive como nômades e estão fixos numa região.

Cultura cigana

Cultura cigana
Ciganas dançando em honra a Santa Sara, no Rio de Janeiro

Por serem nômades, os ciganos foram incorporando hábitos e costumes das regiões onde estavam. No entanto, é possível identificar traços comuns que compõem a cultura cigana.

Os ciganos acabaram exercendo ofícios que podiam ser desempenhados em todos os lugares. Por isso, os homens eram ferreiros, comerciantes, músicos, cuidadores de cavalo e gado.

Nas comunidades ciganas, as mulheres, além de ligadas à criação dos filhos, realizavam trabalhos como costureiras, rendeiras e artistas. Também se dedicavam à leitura das mãos e de baralho para predizer o futuro.

Os valores como a fidelidade à família e ao clã, e os casamentos entre si, são outras características marcantes entre os ciganos.

Romani - língua cigana

Os ciganos desenvolveram o idioma romani, também chamado romanês.

Como grande parte de seus falantes permaneceram analfabetos, trata-se de uma língua majoritariamente ágrafa (não-escrita) e ensinada oralmente, pelas famílias ciganas. Há etnias que o falam com desenvoltura, mas outros, apenas conhecem algumas palavras.

Religião cigana

É importante frisar que os ciganos não têm uma religião no sentido estrito do termo. Eles possuem um conjunto de crenças e princípios, mas não existe a figura de um deus (ou de deuses) em concreto, nem hierarquia religiosa.

Os ciganos adotavam a religião do território por onde circulavam. Desta maneira, encontramos ciganos católicos, ortodoxos, evangélicos, espíritas e muçulmanos.

Entre os católicos ciganos é grande a devoção em torno a Santa Sara de Kali, que teria sido amparada por ciganos, no sul da França.

Na religião umbanda existem as "entidades ciganas" que seriam os espíritos de ciganos já falecidos.

Dança cigana

A dança cigana é resultado da mescla de vários elementos, mas foi na Espanha que ela ganhou força.

Os ciganos dançavam nos seus acampamentos, nas festas, acompanhados de instrumentos musicais, canto e palmas. Tanto as mulheres quanto os homens dançavam no meio da roda.

Desta maneira, a dança cigana é forte e bastante expressiva, pois todo o corpo participa dos movimentos. Entre as mulheres, há o costume de dançarem descalças, com longas saias e ricamente enfeitadas com joias.

Dentre todos os elementos associados à cultura cigana, o flamenco é a que tem maior expressão ao nível mundial.

Preconceito contra os ciganos

Os ciganos foram historicamente alvo de preconceito na Europa e este comportamento passou para as Américas.

Um dos motivos pelos quais sempre foram mal vistos era o seu estilo de vida. Eram nômades, numa sociedade sedentária; não possuíam leis escritas, numa época em que todos as tinham. Igualmente, apesar de aceitarem o cristianismo, praticavam certas práticas condenadas pela Igreja, como a adivinhação do futuro.

Assim surgiu todo o tipo de preconceito contra este povo, classificando-os de trapaceiros e ladrões, formando um estigma que contribuiu para a exclusão social dos ciganos.

Estereótipos ciganos

Da mesma forma que existem estereótipos para nordestinos, negros, judeus, gordos e qualquer pessoa que não se encaixe em determinado padrão, há uma infinidade de ideias preconcebidas contra os ciganos.

Uma das mais comuns é que os ciganos roubavam crianças e há numerosas lendas de bebês que sumiram depois da passagem de um grupo cigano numa cidade. Temos que considerar, porém, que por ser um povo marginalizado e vítima de preconceito, acabavam acusados independentemente de provas deste crime.

Outra acusação muito comum era que os ciganos roubavam e mentiam. Ainda que episódios deste tipo eventualmente acontecessem, é importante reforçar que o preconceito contra os ciganos aumentava as versões, acusações e narrativas do gênero. Além disso, entre eles, há códigos de honra severos que impedem a desonestidade.

Portanto, esses estereótipos são distorcidos e não se tratam de características inerentes a este povo.

Perseguição aos ciganos

Os ciganos foram perseguidos durante a formação das Monarquias Nacionais na Europa, pois aqueles que não eram católicos eram expulsos. Essa medida atingiu igualmente judeus e muçulmanos.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os ciganos foram perseguidos e confinados em campos de concentração nazistas. Calcula-se que 250 mil ciganos tenham sido mortos neste período, especialmente na Croácia, onde a população quase foi exterminada.

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Referências Bibliográficas

CAIRUS, Brigitte Grossmann. A construção das identidades ciganas no Brasil. Revista USP, n. 117, abr./maio/jun. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/especial/revista-usp-117-a-construcao-das-identidades-ciganas-no-brasil/ (Último acesso em 28/05/2024).

CORTÉS, Ismael e FERNÁNDEZ, Caytano. Long, sad history of Roma in Spain. Le Monde diplomatique, maio 2015. Disponível em: https://mondediplo.com/2015/05/13Roma (Último acesso em 28/05/2024).

DA MOTA, Atico Villas-Boas. The Gypsies of Brazil. In UNESCO Courier, XXXVII, 10, p.32-33 1984. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000061290 (Último acesso em 28/05/2024).
TEIXEIRA, Rodrigo Corrêa. História dos Ciganos no Brasil. Recife: Núcleo de Estudos Ciganos, 2008.

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.