Colonização Espanhola na América: entenda como foi o processo

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

A colonização espanhola na América se caracterizou pela implementação de uma nova estrutura política, econômica e religiosa no continente americano.

Os espanhóis introduziram uma nova religião, idioma, organização econômica e social. Essas medidas impactaram profundamente as populações ameríndias existentes no território.

Por sua parte, os colonizadores levaram uma série de produtos desconhecidos para a Europa, como a batata, o milho e o chocolate. Além disso, as fronteiras do mundo conhecido se alargaram e se modificaram para sempre.

Após a conquista era preciso administrar o território americano. Afinal, os reis precisavam dominar mais regiões e mercados para legitimar sua existência. Igualmente, se queria expandir a fé católica.

O poder político garantia a difusão da fé, enquanto a Igreja Católica legitimava a apropriação dos territórios. Por sua parte, a burguesia financiava a tomada dos bens e riquezas em nome do rei.

Inicialmente, a Capitulação foi o instrumento que permitiu a execução desses interesses econômicos. Este instrumento estabelecia os direitos e deveres dos indivíduos autorizados a explorarem as novas terras.

Assim, estava especificado detalhes como o capital a ser empregado, as condições básicas da expedição e se definia o quanto de dinheiro seria destinado à Coroa e aos particulares.

Economia das colônias espanholas

Tributos nas colônias espanholas
Os indígenas tinham que pagar tributos aos espanhóis em forma de trabalho ou produtos

Ao estabelecerem-se na América, os espanhóis se depararam com populações organizadas e regidas por leis há muito consagradas. Por exemplo, entraram em contato com os Incas na região dos Andes e com os Astecas, na Mesoamérica.

Deste modo, além de introduzirem seus próprios meios de exploração do trabalho, como a encomienda, os colonizadores também se apropriaram de costumes locais para aproveitar a mão de obra indígena, como a mita.

O que foi a encomienda

A encomienda era uma instituição em vigor nos reinos de Castela e foi adaptada nas Índias (América).

A encomienda permitia ao encomendero, um fidalgo espanhol, a cobrar tributos na forma de trabalho ou de bens materiais à determinada população indígena. Em troca, o encomendero deveria evangelizá-las, cuidá-las e defendê-las.

As encomiendas eram normalmente vitalícias, mas não perpétuas para uma família. Os abusos cometidos por muitos encomenderos levou protestos ao rei, especialmente pelo frade dominicano Bartolomé de Las Casas.

De fato, a Coroa espanhola tentou aboli-la cinquenta anos após sua instituição, gerando revolta em vários pontos dos Vice-Reinos.

Além disso, a própria população indígena se rebelava contra este sistema. Um exemplo é a Revolta de Guarocuya (ou Revolta de Enriquillo, 1519-1533), líder indígena que lutou contra as imposições da encomienda na ilha da Hispaniola - atual Haiti e República Dominicana.

O que foi a mita

Principalmente no Vice-Reino do Peru, os colonizadores aproveitam a mita, um mecanismo existente na sociedade Inca, a fim de garantir o trabalho dos indígenas para seus propósitos.

A mita consistia num mecanismo de exploração do trabalho imposto pelos Incas em sociedades dominadas. Geralmente, tratava-se de ajudar na construção de templos e caminhos.

Os espanhóis se apropriaram desta mesma ideia para seus propósitos coloniais. Desta maneira, um número de indivíduos eram sorteados de cada comunidade indígena para trabalhar por um tempo determinado para os espanhóis. Em troca, deveriam receber proteção e um salário, normalmente uma quantia muito precária.

Esta, geralmente, consistia no emprego de parte da população na exploração de minas de prata durante um ano.

Embora o trabalho nas minas fosse regulado e deveria ser temporário, o fato é que o prazo não era respeitado e as duras condições de trabalho mataram muitos indígenas que foram empregados ali como mão de obra.

Administração da América Espanhola

Mapa hispano-americano
Aspecto do Vice-Reinos e Capitanias Gerais da América espanhola

Para controlar o vasto território que conquistara, os espanhóis criaram, inicialmente, dois Vice-Reinos, diretamente ligados à Coroa: o Vice-Reino da Nova Espanha e o Vice-Reino do Peru. Também foram estabelecidas algumas Capitanias Gerais em áreas econômicas e militares estratégicas, como a de Santo Domingo e a de Cuba.

Importante ressaltar que estes territórios eram considerados como uma própria extensão do reino espanhol, daí o nome de “vice-reino”.

A metrópole possuía as seguintes instituições para administrar a colônia:

Casa de Contratação

Órgão responsável pela administração do comércio e dos tributos relativos à América. Anotavam as mercadorias, provinham os pilotos de mapas de navegação e ainda exerciam a justiça. Inicialmente, tinha sua sede em Sevilha e, mais tarde, em Cádiz.

Conselho das Índias

Exercia funções políticas e auxiliava o rei a tomar decisões relativas aos seus domínios na América em termos de justiça, economia e até durante a guerra.

Real Audiência

Eram os tribunais de justiça estabelecidos nos Vice-Reinos e que julgavam os crimes cometidos por seus habitantes.

Vice-Reinos e Capitanias Gerais

Com as reformas iluministas empreendidas pelo rei Carlos III (1716-1788), no século XVIII, os vice-reinos foram desmembrados em quatro e foram criadas mais Capitanias Gerais.

O objetivo era encontrar uma forma de melhorar a administração colonial.

Vice-Reinos: territórios de grande extensão e população, eram os mais rentáveis para a Coroa espanhola. Estavam governados por um vice-rei. Eram eles: Vice-Reino da Nova-Espanha, Peru, Nova-Granada e Prata.

Capitanias Gerais: foram estabelecidas em zonas de maior conflito com a população indígena ou que eram alvo de ataques de piratas. Foram elas: Guatemala (que abarcava os atuais países de Guatemala, Honduras, El Salvador e Costa Rica), Cuba, Venezuela, Chile, Santo Domingo e Porto Rico.

Cargos políticos nas colônias espanholas

As colônias eram administradas por funcionários nomeados pelo próprio soberano.

  • Vice-Rei: era o cargo mais alto dentro desta estrutura e ocupado por um nobre ou fidalgo diretamente indicado pelo Rei. Possuía autoridade máxima e dele dependiam algumas Capitanias Gerais.
  • Capitão-Geral: título utilizado por quem estava à frente das Capitanias Gerais.
  • Governadores: auxiliavam o vice-rei ou o capitão-geral a administrar o território.
  • Cabildo: era uma espécie de conselho formado pelos proprietários e homens de destaque da municipalidade, inclusive o clero, e se reuniam num edifício de mesmo nome.

Sociedade nas colônias hispânicas

quadro pintado no México no século XVIII explicando a mestiçagem entre os povos
Série de quadros pintados no México no século XVIII explicando a mestiçagem entre os povos que habitavam as colônias hispano-americanas

A sociedade colonial na América espanhola estava marcada pela cor da pele. Com o passar do tempo, devido às uniões inter-raciais, o local de nascimento seria mais importante que o grau de mestiçagem. Assim temos:

Chapetones

Assim chamados os espanhóis recém-chegados nas colônias hispânicas. Ocupavam os altos cargos como Vice-Rei, Capitães Gerais, Governadores, Alcaides ou Intendentes (prefeitos), bispos e arcebispos, superiores de várias ordens religiosas.

No entanto, suas prerrogativas não eram hereditárias, pois se tivessem filhos nascidos fora da metrópole, estes seriam considerados criollos e não gozariam da mesma posição social que os progenitores.

Criollos

Eram os filhos de espanhóis nascidos na América. Não podiam ocupar os altos cargos administrativos, mas participavam do Cabildo e tinham uma posição social ainda privilegiada.

Os criollos exerciam várias atividades e eram profissionais, como advogados, comerciantes, mas também encomenderos, exploradores de minas, fazendeiros, etc.

Ao contrário do significado em língua portuguesa, a palavra criollo, em espanhol, não representa uma pessoa de cor negra. Indica aqueles brancos que nasceram na América e não no Reino da Espanha.

Negros escravizados

Os africanos escravizados eram trazidos por traficantes europeus que contavam com a participação de investidores espanhóis.

As pessoas escravizadas foram utilizadas como mão de obra para substituir a população indígena dizimada no Caribe e forçadas a trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, tabaco, cacau, algodão, dentre outros cultivos.

A escravidão negra não foi homogênea nos domínios espanhóis na América. Foi intensamente empregada na região caribenha, mas com menos força no Vice-Reino do Peru, por exemplo.

Indígenas

A colonização espanhola supôs o desaparecimento de grande parte da antiga forma de vida dos povos nativos.

A economia foi reorientada para o mercado externo e os indígenas trabalharam especialmente nas minas de prata, ouro e mercúrio, mas também eram empregados no serviço doméstico e na agricultura.

Somente no processo de conquista dos Astecas e dos Incas, centenas de milhares de indígenas foram mortos. Nesse processo, os espanhóis buscaram alianças com povos indígenas rivais e contaram com a disseminação de doenças inexistentes até então na América.

Com o passar do tempo, o idioma original foi sendo substituído pelo castelhano e a religião passou a ser o catolicismo. Igualmente, se desenvolveu uma religião que misturou crenças originárias dos ameríndios com as introduzidas pelo cristianismo.

Mesmo com todas essas mudanças, alguns costumes se mantiveram e outros se mesclaram, criando uma forma original de pensar e viver. Outros, infelizmente, foram perdidos ao longo deste processo.

Mestiços

Esta era uma sociedade em que a cor da pele influía em seu lugar na hierarquia social.

Segundo os costumes coloniais, a união entre um espanhol e uma indígena davam origem ao mestiço. Apesar disso, os mestiços eram aceitos porque eram criados num ambiente culturalmente branco.

Com o passar do tempo, indígenas, brancos, negros foram se unindo e gerando filhos. Isso provocou o surgimento de pessoas que não se encaixavam em nenhuma das categorias citadas acima.

Assim, passou a surgir uma série de palavras específicas para cada uma dessas uniões.

Era um modo de estabelecer novas categorias, mas ainda assim o status de cada mestiço era ambíguo e dependia de aspectos, como a força das relações pessoais do indivíduo, sua riqueza, sua cor da pele e seus costumes.

Países colonizados pela Espanha

São muitos os territórios que foram ocupados pelos espanhóis na América. Vejamos:

Uruguai, Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Panamá, Honduras, Cuba, República Dominicana, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala e México.

Além disso, os espanhóis povoaram algumas ilhas do Caribe que depois passaram às mãos de outros colonizadores, como Jamaica, Trindade e Tobago, Guadalupe ou São Cristóvão e Neves.

Igualmente, grande parte do que hoje se denomina Estados Unidos formava parte do Vice-Reino da Nova Espanha e englobava os atuais estados de Califórnia, Texas, Florida, Nevada, Colorado, Utah, Arizona, Texas, Oregon, Novo México, Washington, e partes de Idaho, Montana, Wyoming, Kansas, Oklahoma e Louisiana.

Para praticar:

Leia também:

Referências Bibliográficas

FREITAS NETO, José Alves de e TASINAFO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2006.

VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.