Incas: império, economia e sociedade

Thiago Souza
Thiago Souza
Professor de Sociologia, Filosofia e História

Os incas foram uma das mais importantes civilizações do mundo, assim como os astecas e os maias.

Originalmente os incas eram um clã da tribo dos quíchuas, localizado na região de Cusco, no Peru. A partir do século XII, porém, iniciaram a formação de um vasto império cuja capital era Cusco.

Hoje, essas terras compreendem o Peru, a Colômbia, o Equador, o oeste da Bolívia, o norte do Chile e o noroeste da Argentina.

O termo "inca", que hoje designa um povo e um império, originalmente significava "chefe", título dado aos imperadores e aos nobres. Apenas os chefes eram assim chamados.

Economia inca

A economia inca era baseada no trabalho coletivo e adaptado à idade de cada um. O alicerce da economia era a agricultura, desenvolvida especialmente na zona montanhosa dos Andes.

Os incas criavam lhamas, que serviam para o transporte; alpacas e a vicunhas, das quais obtinham a lã e a carne. No litoral, as populações viviam principalmente da pesca.

Para prestar conta dos impostos recolhidos e controlar a produção, era usado o quipu, que significa "nó" em quéchua. O quipu consistia em um cordão, no qual estava presa uma série de pequenos cordões coloridos, pendurados em forma de franja e com vários nós.

Acredita-se que cada um desses nós correspondia a quantidade de tributos que cada comunidade deveria pagar.

Império Inca: território e estradas

Em três séculos, os incas construíram um poderoso império através de seus exércitos e sua capacidade de negociação. Com tropas bem organizadas e disciplinadas, uma grande quantidade de nações indígenas se tornaram seus vassalos, ou seja, se tornaram seus subordinados.

Para controlar seu imenso território, abriram duas grandes estradas: uma no litoral, e outra nas montanhas. Essas estradas cortavam o território de norte a sul e eram interligadas por transversais de leste a oeste. A principal unia as cidade de Cusco e Quito (Equador) e media cerca de 2.400 quilômetros.

Ao longo desses caminhos havia guaritas com mensageiros, chamados “Chasquis”, especialmente treinados para correr o mais rápido possível levando recados importantes do imperador para outras partes do território.

Desta maneira, os incas tinham um sistema de comunicação eficiente e que os permitia saber o que acontecia nos seus domínios.

Sociedade inca

A sociedade inca era hierarquizada em várias camadas sociais.

O Inca, filho do deus do Sol, misto de deus e imperador, reunia centenas de tribos sob sua autoridade. O imperador era o guardião dos bens do Estado, especialmente da terra e submetia a sociedade ao rigor de suas decisões.

Para essa civilização, o imperador era considerado um deus, portanto, tudo o que dizia deveria ser acatado. Geralmente, casava-se com uma irmã, que era vista como a encarnação de Mama Quilla, a principal deusa feminina.

Abaixo do imperador estavam seus parentes, os nobres, e os escolhidos para ocupar os postos de comando, como governadores de províncias, chefes militares, juízes e sacerdotes.

A camada seguinte era formada de funcionários públicos e trabalhadores especializados, como ourives, marceneiros, pedreiros, etc. Na base da hierarquia estavam os agricultores.

Havia também os escravos, que eram obtidos através da guerra ou também como forma de punição, caso algum povo não se submetesse às ordens incaicas. Eles eram destinados aos trabalhos nas regiões de mais difícil acesso.

Leia mais em: Maias, Incas e Astecas.

Agricultura inca

A distribuição de terras era feita conforme o tamanho da família. Quanto mais filhos, mais terras. Assim, ninguém tinha problema de alimentar sua prole.

Para aumentar as áreas cultiváveis, os incas criaram um engenhoso sistema de terraços - espécie de degraus construídos ao longo das montanhas e sustentados por paredes de pedras - que se estendiam pelas encostas íngremes.

As terras estatais eram cultivadas por todos e a produção armazenada para sustentar a nobreza, os sacerdotes e os militares. Os excedentes eram estocados em armazéns instalados ao longo de todo o império e repartidos à população em tempos de carência ou calamidades.

Para melhorar a produtividade da terra eram usados dois recursos: a adubação, feita com esterco de lhama e de pássaros; e a irrigação, através de tanques e canais. O sistema de terraços também facilitava a irrigação e o aproveitamento da água, recurso escasso em alguns pontos da cordilheira do Andes.

Agricultura inca em terraços sustentados por pedras
Exemplos de terraços de cultivo inca em Machu Picchu (Peru)

Política inca

Calcula-se que o Império Inca tinha por volta de 2.000.000 de km², uma população estimada em cerca de 8 a 12 milhões de pessoas espalhadas por 200 povos diferentes e cuja capital era Cusco.

Para dar coesão a este enorme império, se impôs um idioma – o quéchua – e se estabeleceu o culto ao deus Sol, Inti.

Igualmente, todos deveriam trabalhar para o sustento da família e isso garantia que tivessem comida e roupas. Claro que o Imperador e seus nobres tinham privilégios, mas na sociedade inca ninguém passava fome e todos tinham uma ocupação.

Religião e deuses incas

A religião marcava a vida e a cultura inca. Adoravam diversos deuses, que, em geral, eram associados a elementos da natureza, como o sol, a lua, o rio, a chuva, etc.

As divindades recebiam oferendas, inclusive sacrifício humano, e esperavam dos deuses um retorno em forma de chuva, proteção e boas colheitas. Em homenagem a Inti, o deus Sol, foi construído um grande templo em Cusco, no Peru.

Viracocha (ou Wiracocha): deus criador e fundacional. Aquele que emergiu em forma humana das águas do lago Titicaca para ordenar os homens sem leis. Organizou o mundo em três níveis, deu função a cada um dos povos, criou as planta e animais. Uma vez terminada sua missão, saiu caminhando pelo mar.

Inti (ou Apu Inti): identificado como o deus Sol que seria o “servo de Viracocha”. Os fiéis acudiam a Inti para pedir boas colheitas e o fim das doenças. Sua energia alimentava a terra e seus seres que nela habitavam. Sua companheira e irmã era Mama Quilla, identificada com a lua, que eram pais dos imperadores incas.

Mama Quilla: deusa relacionada com a lua e principal deidade feminina. Era servida por uma classe sacerdotal de mulheres e sua importância era enorme em todos os assuntos femininos como os nascimentos, casamentos, fertilidade, os ciclos das colheitas, etc. Irmã e esposa de Inti e de cuja união nasceram os imperadores incas.

Pachamama: não é propriamente uma deusa criadora. Seu nome significa pacha – terra e mama, mãe. É um mito entendido em toda a América, pois se trata da própria terra, dos cultivos e pastos. A Pachamama era reverenciada com uma parte das colheitas ou dos animais que pastavam. Assim se estabelecia uma relação de reciprocidade entre os fiéis.

Cultura e arte inca

A grandiosidade da arquitetura e da engenharia dos incas se apresentam através de palácios, casas, templos, fortalezas, pontes, túneis, estradas, canais e aquedutos.

Os incas não tinham escrita, mas eles transmitiam suas ideias e conhecimentos através da oralidade e dos desenhos.

A arte funerária com suas máscaras e oferendas também chegou até nós e permite conhecer mais sobre as habilidades artísticas deste povo.

Veja também: Arte Inca

Arquitetura inca

A arquitetura precisou adaptar às edificações aos tremores frequentes. Por isso, vemos casas horizontais que acompanhavam os abalos sísmicos e assim permaneciam em pé. Igualmente, as pedras eram talhadas e encaixadas uma nas outras sem necessidade de cimento.

No Peru, especialmente em Cusco, é possível visitar lugares que guardam vestígios da cultura inca como Macchu Picchu e o Vale Sagrado.

Machu Picchu: situada a 2400 metros de altitude, Machu Picchu não foi encontrada pelos colonizadores; só foi revelada em 1911, por um pesquisador norte-americano, Hiram Bingham.

Machu Picchu, signfica “montanha velha”. Possui duas grandes zonas: a agrícola, com seus terraços de cultivo e a religiosa. Nesta podemos contemplar o Templo do Sol, o Templo do Condor e rocha sagrada.

Tratava-se, provavelmente, de uma llaqta e santuário religioso. Uma llaqta é uma povoação temporária onde grupos de pessoas deve cumprir a “mita”, ou seja: o trabalho que era um tributo ao Estado.

Vale Sagrado: reúne uma série de cidades como Sacsayhuamán, Ollantaytambo e Písac com as casas edificadas com pedras talhadas especialmente para este fim. Ali se conservam costumes ancestrais, como realizar transações comerciais pelo sistema de trocas.

Fim do Império Inca

O Império Inca começou a se desagregar no final do século XV, ao enfrentar várias rebeliões internas.

Neste preciso momento, chegam os espanhóis, que se aliam aos inimigos dos incas e terminam por conquistá-los em 1533. O imperador Atahualpa foi executado e após sua morte, os incas se refugiaram nas montanhas, onde resistiram até 1571, quando foi capturado e morto o último líder – Tupac Amaru.

Seu neto, Tupac Amaru II, liderou a última insurreição inca, mas também foi assassinado.

Veja também: Colonização espanhola

Incas, Maias e Astecas

Incas, maias e astecas são as três civilizações mais importantes do mundo.

Desenvolveram-se na América Latina e chegaram a um grau de desenvolvimento comparado aos gregos ou aos egípcios. Possuíam um calendário sofisticado, exércitos, um sistema de tributos e cobranças que lhes permitiram dominar os povos vizinhos. Construíram cidades e pirâmides cujas ruínas sobrevivem até hoje e são testemunho concreto do esplendor desta civilização.

Da mesma forma não eram perfeitos: possuíam escravos, realizavam sacrifícios humanos e as mulheres eram usadas como moeda de troca em caso de guerra e negociações de paz.

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Referências Bibliográficas

Revivendo tempos incaicos. IN: PORTUGAL, AR. O ayllu andino nas crônicas quinhentistas [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 208 p. Disponível em: https://books.scielo.org/id/btxhx/pdf/portugal-9788579830006-04.pdf

Thiago Souza
Thiago Souza
Graduado em História e Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.