Conquista de Ceuta

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

A Conquista de Ceuta ocorreu em 1415 e simboliza o começo da expansão ultramarina portuguesa.

O objetivo da Coroa, impulsionada pela burguesia, era se apoderar da cidade que recebia as caravanas de mouros que transportavam ouro, marfim, especiarias e escravos.

Expansão Marítima Portuguesa

Quando o rei Dom João I (1351-1433) assumiu o trono português, em 1385, o reino enfrentava dificuldades financeiras. Portugal encarava a falta de produtos agrícolas, mão de obra e sua moeda se encontrava desvalorizada.

A insuficiência de metais preciosos influenciou na edição de uma lei, em 1402, que proibia a exportação do ouro, pois sem o metal, não era possível cunhar moedas.

Por isso, o rei começou a buscar alternativas para a crise econômica. Uma das ideias foi a de expandir o reino para o Mediterrâneo e não para a Europa.

Assim, influenciado pelos filhos, começa construir uma enorme armada a fim de conquistar a praça de Ceuta.

Conquista de Ceuta mapa
No mapa, vemos em laranja, os territórios muçulmanos; em vermelho, a rota do ouro; em verde, das especiarias; em azul, a rota utilizada pelos mercadores venezianos e genoveses.

Causas

Vários motivos foram considerados para a escolha de Ceuta. Inclusive chegou a se cogitar a conquista do Emirado de Granada. A garantia do apoio da Coroa de Castilha contribuiu para que Ceuta fosse escolhida. Além disso:

  • Ceuta era uma rica localidade junto ao Estreito de Gibraltar, ponto de encontro das caravanas que vinham do Oriente e um meio de chegar aos mercados de cereais do Marrocos;
  • Seria uma forma de ajudar a superar a crise econômica
  • Conquistando Ceuta, todos os setores da sociedade portuguesa seriam envolvidos na esperança de benefícios;
  • Possibilitaria a expansão da fé cristã em território muçulmano.

Política Interna

A nação lusa estava em paz, e unificada em torno a um rei, diferente da maioria dos vizinhos ainda em guerra. De todas as maneiras, as conquistas ultramarinas canalizavam o espírito guerreiro da nobreza e ajudavam a manter a concórdia nas fronteiras.

Portugal contava com uma posição geográfica que favorecia a busca de rotas alternativas pelos mares para a compra de mercadorias.

A burguesia enxergava vantagens comerciais devido à posição estratégica da cidade. Já a nobreza, pensava em aumentar suas possessões e títulos; enquanto o clero, imaginava conquistar mais almas. Para o povo, a crença era em mais trabalho.

Diante de tantas vantagens e necessidades foi iniciado o processo de conquista de Ceuta.

Expedição

A expedição partiu de Lisboa dia 25 de julho de 1415. Estava constituída por uma frota de 212 embarcações e destas 59 eram galés, 33 naus e mais 12 embarcações de pequeno porte.

Foram embarcados:

  • 7.500 cavaleiros
  • 500 besteiros (os que manejavam a besta, uma arma de arco e flecha)
  • 21.000 soldados a pé

No dia 22 de agosto de 1415, tomaram a cidade e a saquearam durante a noite.

Imediatamente, começou a transformação da urbe de Ceuta. Houve a substituição dos símbolos muçulmanos pelos de cristãos e a mesquita foi transformada numa igreja.

A Coroa portuguesa deixou 2,7 mil homens que ficaram sob o comando de Dom Pedro de Meneses (1370-1437), primeiro governador de Ceuta.

Conquista de Ceuta
O Infante Dom Henrique na Conquista de Ceuta, painel de azulejos, na cidade do Porto

Ocupação

O que a Coroa e a burguesia imaginavam, contudo, não ocorreu. Conquistar Ceuta pressionou mais ainda os cofres portugueses, sendo preciso contrair empréstimos para pagar a incursão e retribuir o apoio espanhol.

Além de tudo, a cidade, agora, precisava ser mantida, protegida e até alimentada, pois sua produção de trigo era insuficiente.

Em 1419, por exemplo, os exércitos do Sultanato do Marrocos e do Emirado de Granada tentam reconquistar a cidade e lhe impõe um cerco durante um mês. Posteriormente, as caravanas, que tanto lucro davam ao local, foram desviadas para outras cidades costeiras.

Embora houvesse tantos elementos desfavoráveis, os portugueses resolveram permanecer em Ceuta.

Mesmo com todos os problemas, Portugal continuaria a investir nas navegações. O passo seguinte foi ocupar as ilhas de Madeira, em 1419, e posteriormente, o Arquipélago dos Açores, em 1427.

No entanto, vários nobres se mostravam indecisos com a política de expansão ultramarina por conta da falta de recursos e da baixa densidade demográfica portuguesa.

O impasse perdurou até 1433, quando os Infantes Dom Henrique e Dom Fernando (1402-1443), e mais conde de Arraiolos, Dom Fernando de Portugal, insistem em prosseguir com as expedições marítimas. Neste ínterim, o rei Dom João I morre e sobe ao trono o seu filho, Dom Duarte.

Desta maneira, o rei Dom Duarte I (1391-1438) aprovou uma incursão para a tomada do Tânger (Marrocos) em outubro de 1437.

Em combate, o Infante Dom Fernando foi feito refém pelos marroquinos e sua vida negociada em troca da entrega de Ceuta.

O impasse gera tensão na corte com partidários de ambos os lados. Sem acordo, Dom Fernando morreu no cativeiro, Ceuta continuou em posse de Portugal.

Curiosidades

  • Ceuta passou a mão dos espanhóis em 1668 após o fim da União Ibérica e permanece espanhola até hoje.
  • A influência portuguesa se faz sentir na arquitetura, nos brasões e na devoção a Nossa Senhora de África.
  • Na estação de São Bento, na cidade do Porto, em Portugal, existe um enorme painel de azulejo sobre a conquista de Ceuta. Isto se deve porque a maioria das embarcações usadas na expedição saíram dos estaleiros da região.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.