Expansão Marítima Europeia

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História

A expansão marítima europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVIII, quando alguns povos europeus partiram para explorar o oceano que os rodeava.

Estas viagens estão inseridas no contexto da Revolução Comercial e resultaram no encontro de culturas diferentes, na exploração colonial dos territórios chamados pelos europeus do Novo Mundo e na interligação dos continentes.

Expansão ultramarina

As primeiras grandes navegações dos europeus permitiram a superação das barreiras comerciais da Idade Média, o desenvolvimento da economia mercantil e o fortalecimento da burguesia.

A necessidade do europeu lançar-se ao mar resultou de uma série de fatores sociais, políticos, econômicos e tecnológicos.

A Europa saía da crise do século XIV e as monarquias nacionais eram levadas a novos desafios que resultaram na expansão para outros territórios.

Veja no mapa abaixo as rotas empreendidas em direção ao ocidente pelos navegadores e o ano das viagens:

Expansão Marítima Europeia
Rota das viagens

A Europa atravessava um momento de crise, pois comprava mais do que vendia. No continente europeu, a oferta principal era de madeira, pedras, cobre, ferro, estanho, chumbo, lã, linho, frutas, trigo, peixe, carne.

Os países do Oriente, por sua vez, dispunham de açúcar, ouro, cânfora, sândalo, porcelanas, pedras preciosas, cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengibre, unguentos, óleos aromáticos, drogas medicinais e perfumes. Tais produtos eram muito mais valorizados economicamente do que os disponíveis até então na Europa.

Cabia aos árabes o transporte dos produtos até a Europa em caravanas realizadas por rotas terrestres. O destino eram as cidades italianas de Gênova e Veneza, que serviam como intermediárias para a venda das mercadorias ao resto do continente.

Outra rota disponível era pelo Mar Mediterrâneo, monopolizada por Veneza. Por isso, era necessário encontrar um caminho alternativo, mais rápido, seguro e, principalmente, econômico.

Paralela à necessidade de uma nova passagem, era preciso solucionar a crise dos metais na Europa, onde as minas já davam sinais de esgotamento.

Uma reorganização social e política também impulsionava a busca de mais rotas. Eram as alianças entre reis e burguesia que formaram as monarquias nacionais.

O capital burguês financiou a infraestrutura cara e necessária para a expansão marítima europeia. Afinal, era preciso navios, armas, navegadores e mantimentos.

Os burgueses pagavam e recebiam em troca a participação nos lucros das viagens. Este foi um modo de fortalecer os Estados nacionais e submeter a sociedade a um governo centralizado.

No campo da tecnologia foi necessário o aperfeiçoamento da cartografia, da astronomia e da engenharia náutica.

Os portugueses tomaram a dianteira deste processo através da chamada Escola de Sagres. Ainda que não fosse uma instituição do modo que conhecemos hoje, serviu para reunir navegadores e estudiosos sob o patrocínio do Infante Dom Henrique (1394-1460).

A expansão marítima portuguesa

A expansão marítima portuguesa começou através das conquistas na costa da África e se expandiu para os arquipélagos próximos. Experientes pescadores, eles utilizaram pequenos barcos à vela, como o barinel, para explorar o entorno.

Mais tarde, desenvolveram e construíram as caravelas e naus, embarcações de maior porte e tecnologia náutica, a fim de poderem ir mais longe com mais segurança.

A precisão náutica foi favorecida pela utilização de instrumentos como a bússola e o astrolábio. Surgida na China, a bússola já era utilizada pelos muçulmanos desde o século XII e tem como finalidade apontar para o norte (ou para o sul). Por sua vez, o astrolábio é utilizado para calcular as distâncias, tomando como medida a posição dos corpos celestes.

No mapa a seguir é possível ver as rotas empreendidas pelos portugueses:

Expansão Marítima Europeia
As navegações portuguesas na África foram denominadas Périplo Africano

Somados à tecnologia náutica e à necessidade econômica de explorar o Oceano, havia ainda a motivação religiosa de disseminar e impor a fé católica para os povos conquistados neste processo.

As condições políticas eram bastante favoráveis. Portugal foi a primeira nação a criar um Estado nacional associado aos interesses mercantis, através da Revolução de Avis (1383-1385).

Em paz, enquanto outras nações guerreavam, houve uma coordenação central para as estimular e organizar as incursões marítimas. Estas seriam essenciais para suprir a falta de mão de obra, de produtos agrícolas e metais preciosos.

O primeiro sucesso português nos mares foi a Conquista de Ceuta, em 1415. Sob o pretexto de conquista religiosa contra os muçulmanos, os portugueses dominaram o porto que era o destino de várias expedições comerciais árabes.

Assim, Portugal estabeleceu-se na África, mas não foi possível interceptar as caravanas carregadas de escravizados, ouro, pimenta e marfim que paravam em Ceuta. Os árabes procuraram outras rotas e os portugueses foram obrigados a procurar novos caminhos para obter as mercadorias que tanto aspiravam.

Na tentativa de chegar à Índia, os navegadores portugueses foram contornando a África e se estabelecendo na costa deste continente. Criaram feitorias, fortes, portos e pontos para negociação com os nativos.

A essas incursões deu-se o nome de Périplo Africano e tinham o objetivo de obter lucro através do comércio. Não havia o interesse em colonizar ou organizar a produção de algum produto nos locais explorados.

Em 1431, os navegadores portugueses chegaram às ilhas dos Açores e, mais tarde, ocuparam a Ilha da Madeira e Cabo Verde. O Cabo do Bojador foi atingido em 1434, numa expedição comandada por Gil Eanes. O comércio de escravizados africanos já era uma realidade em 1460, com retirada de pessoas do Senegal até Serra Leoa.

Foi em 1488 que os portugueses chegaram ao Cabo da Boa Esperança, sob o comando de Bartolomeu Dias (1450-1500). Esse feito constitui-se como uma das mais importantes marcas das conquistas marítimas de Portugal, pois desta maneira se encontrou uma rota para o Oceano Índico em alternativa ao Mar Mediterrâneo.

Entre 1498, o navegador Vasco da Gama (1469-1524) conseguiu chegar a Calicute, nas Índias, e aí estabelecer negociações com os chefes locais.

Dentro deste contexto, a esquadra de Pedro Álvares Cabral (1467-1520), se afasta da costa da África a fim de confirmar se havia terras por ali. Desta maneira, chega nas terras onde seria o Brasil, em 1500.

Expansão marítima espanhola

A Espanha unificou grande parte do seu território com a queda de Granada, em 1492, com a derrota do último reino árabe na Península Ibérica. A primeira incursão espanhola ao mar resultou na popularmente chamada descoberta da América, pelo navegador italiano Cristóvão Colombo (1451-1506).

Apoiado pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Colombo partiu em agosto de 1492 com as caravelas Nina e Pinta e com a nau Santa Maria rumo a oeste, em busca de uma nova rota para as Índias. No entanto, acabou chegando às terras do atual Continente Americano em outubro do mesmo ano.

Dois anos depois, o Papa Alexandre VI aprovou o Tratado de Tordesilhas (1494), que dividia as terras descobertas e por descobrir entre espanhóis e portugueses.

Expansão marítima francesa

Por meio de uma crítica ao Tratado de Tordesilhas feita pelo rei Francisco I, os franceses se lançaram em busca de territórios ultramarinos. A França saía de um período conturbado, resultante da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e das lutas do rei Luís XI (1461-1483) contra os senhores feudais.

A partir de 1520, os franceses passaram a fazer expedições, chegando ao Rio de Janeiro e Maranhão, de onde foram expulsos pelos portugueses. Na América do Norte, chegaram à região hoje ocupada pelo Canadá e o estado da Louisiana, nos Estados Unidos.

No Caribe, se estabeleceram no Haiti e na América do Sul, na Guiana Francesa.

Expansão marítima inglesa

Os ingleses, que também estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos, Guerra das Duas Rosas (1455-1485) e conflitos com senhores feudais, também queriam buscar uma nova rota para as Índias passando pela América do Norte.

Assim, ocuparam o que hoje são partes dos territórios dos Estados Unidos e Canadá. Igualmente, ocuparam ilhas no Caribe, como a Jamaica e as Bahamas. Na América do Sul, se estabeleceram na atual Guiana.

Os métodos empregados pelo país eram bastante agressivos, incluindo o estímulo à pirataria contra a Espanha, com a anuência da rainha Elizabeth I (1558-1603) por meio dos chamados corsários.

Os ingleses também atuaram fortemente no tráfico de escravizados e ocuparam várias ilhas no Pacífico, colonizando as atuais Austrália e Nova Zelândia.

Expansão marítima holandesa

A Holanda se lançou na conquista por novos territórios a fim de melhorar o próspero comércio que dominavam. Conseguiram ocupar vários territórios na América, estabelecendo-se no atual Suriname e em ilhas no Caribe, como Curaçao.

Na América do Norte, chegaram a fundar a cidade de Nova Amsterdã, mas foram expulsos pelos ingleses que a rebatizaram de Nova Iorque.

Igualmente, tentaram arrebatar o nordeste do Brasil durante a União Ibérica (1580-1640), mas foram repelidos pelos espanhóis e portugueses. No Pacífico, ocuparam o arquipélago da Indonésia e ali permaneceram por três séculos e meio.

Vídeo sobre a expansão marítima

EXPANSÃO MARÍTIMA: As Grandes Navegações Que Mudaram o Mundo! Ver no YouTube

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Navegações Portuguesas: causas e datas da expansão

Referências Bibliográficas

CROWLEY, Roger. Conquistadores: como Portugal forjou o primeiro império global. Tradução Helena Londres. São Paulo: Planeta, 2016.

BUENO, Eduardo. A Viagem do Descobrimento: um olhar sobre a expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.