Eu Lírico

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

O Eu lírico, Sujeito Lírico ou Eu poético é um conceito que designa a voz que se manifesta nos poemas.

Criada pelo poeta, essa voz apresenta as reflexões, sentimentos, sensações e emoções de um sujeito fictício que discursa em primeira pessoa (Eu).

Exemplos de eu-lírico

Ai Flores do Verde Pino, de Dom Dinis

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi há jurado!
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv'e sano
e será vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

EXPLICAÇÃO: Nessa canção trovadoresca de amigo, o eu lírico é feminino, enquanto o autor da cantiga é masculino.

A voz do poema surge de uma senhora (a entidade fictícia criada pelo escritor) que fala do seu amado. Entretanto, quem escreveu a poesia, ou seja, a pessoa real, é o escritor português Dom Dinis (1261-1325), conhecido como o “rei-poeta”.

A Porta, Vinicius de Moraes

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

EXPLICAÇÃO: Os exemplos mostram que o escritor escolhe qual personagem ele quer criar para dar voz ao seu poema. Faz isso quando opta por um eu lírico, que tanto pode ser masculino ou feminino, e até mesmo um objeto, como no poema acima, de Vinicius de Moraes.

Diferença entre eu lírico e poeta

Um dos maiores nomes da Literatura Portuguesa, Fernando Pessoa, nos chama a atenção para essa diferença entre o eu lírico e o poeta quando criou seus heterônimos.

Os heterônimos são pessoas inventadas pelo poeta, que têm sua própria personalidade e, assim, assinam os poemas. Os mais conhecidos heterônimos de Pessoa são: Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.

Mesmo que todos os poemas tenham sido escritos por Pessoa, muitos deles possuem personalidades distintas, as quais ele incorpora quando escreve.

Leia também: Gênero Lírico

Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.