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Exercícios sobre a poesia marginal (com gabarito explicado)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir os exercícios sobre a poesia marginal. Teste seus conhecimentos sobre a Geração Mimeógrafo e continue estudando.

Questão 1

Às margens do círculo editorial dominante na década de 1970, a vertente literária recebeu o cunho de marginal devido ao modelo de produção independente dos poetas, que rejeitavam a publicação de suas obras por grandes editoras para distribuí-las de formas alternativas. Em meio ao cenário de repressão imposto pela ditadura militar brasileira e ao movimento de contracultura, esses autores ficaram conhecidos como “geração mimeógrafo”, já que utilizavam mimeógrafos para copiar e reproduzir seus poemas e, assim, encontrar maneiras de driblar a censura, expressar resistência política e manifestar suas críticas à sociedade. Na busca pela marginalidade, elementos como a linguagem coloquial, o resgate da cultura popular, o humor sarcástico e o desprezo pelas formas poéticas tradicionais eram aliados dos artistas.

COSTA, Mirela. Livro revela as origens da poesia marginal de Ana Cristina Cesar. In.: Jornal da USP. São Paulo, 2025. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/livro-investiga-as-origens-da-poesia-marginal-de-ana-cristina-cesar/.

Considerando o contexto histórico e os elementos formais da literatura marginal, avalie as afirmações a seguir:

I. A escolha pelo mimeógrafo como meio de reprodução foi meramente prática e estética, sem implicações ideológicas.

II. A linguagem informal e o tom provocador usados por esses autores serviam como forma de resistência e aproximação com o público marginalizado.

III. A recusa em publicar por grandes editoras estava associada a uma postura crítica frente ao mercado editorial e ao controle cultural promovido pela ditadura.

IV. Apesar do contexto político repressivo, os autores marginais buscavam o afastamento de posicionamentos ideológicos, mantendo-se à margem do que não fosse liberdade.

Está correto o que se afirma em:

a) Apenas I e IV

b) Apenas II e III

c) Apenas I, II e III

d) Apenas II, III e IV

e) I, II, III e IV

Gabarito explicado

As afirmações II e III estão corretas porque refletem o espírito da literatura marginal como forma de resistência política e cultural durante a ditadura militar brasileira.

A linguagem informal e o tom provocador aproximavam os autores de um público excluído pelas elites culturais, enquanto a recusa em publicar por grandes editoras demonstrava uma crítica direta ao sistema editorial tradicional e à censura institucionalizada.

Já as afirmações I e IV estão incorretas, pois ignoram o caráter ideológico da escolha pelo mimeógrafo e o engajamento político dos autores; ao contrário de uma neutralidade, esses escritores assumiam posições críticas e buscavam romper com as normas estéticas e sociais vigentes.

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Questão 2

[...]
Eu tenho uma ideia.
Eu não tenho a menor ideia.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde.
Autobiografia. Não, biografia.
Mulher.
Papai Noel e os marcianos.
Billy the Kid versus Drácula.
Drácula versus Billy the Kid.
Muito sentimental.
Agora pouco sentimental.
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o seu amor de ontem.
[...]

CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

O poema apresenta uma série de frases fragmentadas, construídas em tom coloquial e com referências tanto ao cotidiano carioca quanto à cultura pop estrangeira — como em “Billy the Kid versus Drácula” e “Papai Noel e os marcianos”. Essa composição desconexa, que transita entre o banal, o irônico e o sentimental,

a) revela um desejo de alinhamento com a tradição literária anglo-americana, comum entre os autores da literatura marginal.

b) ironiza os padrões culturais hegemônicos e reflete a atitude irreverente da literatura marginal frente à cultura de massa.

c) evidencia a rejeição completa da realidade brasileira, característica central da literatura marginal.

d) rompe com os princípios da literatura marginal, que valorizava a métrica tradicional e a clareza linear do discurso.

e) nega o princípio de oralidade e linguagem popular defendido pelos autores da geração mimeógrafo.

Gabarito explicado

A alternativa B é a única que reconhece corretamente o uso irônico e crítico da cultura pop no poema como parte da estética da literatura marginal. Ao mesclar referências globais com o cotidiano brasileiro e utilizar uma linguagem informal e fragmentada, o poema subverte tanto os modelos literários tradicionais quanto a cultura de massa, criando um discurso de resistência. Essa irreverência, aliada à crítica social e ao experimentalismo formal, é típica da geração mimeógrafo.

Questão 3

Texto I

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida
[...]

Carlos Drummond de Andrade

Texto II

“Letʼs play that”

quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

[...]
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
letʼs play that

Torquato Neto

Ambos os poemas, embora distanciados temporal e estéticamente, apresentam uma figura de anjo e uma reflexão sobre o nascimento como símbolo de entrada no mundo. A leitura comparativa dos textos, acena para o fato de que

a) os dois poemas adotam o mesmo tom introspectivo e valorizam a harmonia com o mundo moderno, propondo uma visão otimista da existência.

b) ambos os poemas rejeitam qualquer vínculo com contextos políticos e se concentram exclusivamente em questões existenciais e espirituais.

c) o poema de Drummond representa a rejeição da linguagem poética tradicional, enquanto o de Torquato Neto retoma o simbolismo religioso de maneira reverente.

d) Torquato Neto atualiza e subverte o anjo de Drummond com ironia e rebeldia, aproximando seu poema da literatura marginal e do movimento de contracultura.

e) o uso de expressões em inglês em Torquato Neto demonstra um distanciamento da realidade brasileira, ao contrário do engajamento nacionalista presente em Drummond.

Gabarito explicado

Torquato Neto parodia e atualiza o célebre anjo de Drummond, transformando-o em um “anjo muito louco”, com “asas de avião”, símbolo de modernidade, rebeldia e irreverência. O verso “vai bicho desafinar o coro dos contentes” é um convite à transgressão e à resistência, o que alinha o poema à estética da literatura marginal, que rompe com os cânones poéticos, valoriza a linguagem informal e incorpora elementos da cultura de massa e da contracultura. A referência a Drummond é evidente, mas serve como ponto de partida para uma crítica mais direta, urbana e política.

Questão 4

Contranarciso

em mim
eu vejo
o outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente centenas
o outro
que há em mim é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

Paulo Leminski

Considerando os temas e os valores estéticos presentes no poema, bem como o contexto histórico envolto à Geração Mimeógrafo, é correto assumir que o poema

a) rompe com o ideal do artista isolado a partir da fusão do sujeito à vivência compartilhada.

b) reforça a valorização do individualismo moderno ao propor uma arte intimista.

c) distancia-se da literatura marginal a partir de versos regulares e escrita erudita.

d) expressa o narcisismo individualizante típico da geração mimeógrafo.

e) adere ao estilo parnasiano ao centrar-se na perfeição estética e nas referências mitológicas

Gabarito explicado

O poema "Contranarciso", de Paulo Leminski, apresenta uma clara ruptura com a imagem do artista isolado e introspectivo, ao propor que a identidade do "eu" está profundamente ligada ao "outro". Essa perspectiva de coletividade, de múltiplas vozes e da vivência compartilhada, se alinha com os valores da Geração Mimeógrafo e da literatura marginal, que buscavam romper com a elitização da arte e dar voz às experiências periféricas e coletivas. A linguagem simples, os versos livres e a proposta de comunhão também reforçam essa estética acessível e inclusiva.

Questão 5

Texto I

O poeta marginal

Em meio às ondas da hora
e às tempestades urbanas
conectarei as palavras
que trovarão novas trovas
Lerei poemas na esquina,
darei presentes de grego;
a cochilar com Homero,
farei negócios da China.
Exporei tudo na rede
Sem ganhar nem um vintém:
A vaidade, a fome, a sede,
certo truque, rara mágica.
Que não se engane ninguém:
ser um poeta é uma África.

Antônio Cícero (1945-2024).

Texto II

PERGUNTA: “Ser poeta é uma África.” Eis o desfecho de “O poeta marginal”, do livro Porventura (2012). O texto abre e cita diversos autores, ou sugere, a dialogar com rastros de grandes poetas. O que é ser poeta?
ANTONIO CÍCERO: Seria preciso saber o que é a própria poesia para saber o que é um poeta. Mas jamais se conseguiu definir adequadamente a poesia. Ela é, como se dizia antigamente, um “je ne sais quoi”, isto é, um “não sei quê”.

Extraído de: Entrevista: Antonio Cícero. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Entrevista-Antonio-Cicero

Embora Antonio Cícero negue-se a responder a pergunta feita pelo entrevistador, o último verso do poema “O poeta marginal”

a) sugere que ser poeta é viver em um lugar geográfico distante e isolado onde o intimismo possa florescer.

b) critica o continente africano, associando-o ao isolamento e à pobreza para ilustrar a situação da geração marginal.

c) reforça a ideia de que o poeta deve se limitar a temas exóticos e distantes.

d) indica que o poeta marginal deve estar completamente separado da realidade social.

e) explora a ideia de que ser poeta implica em uma experiência complexa, rica em diversidade, resistência e multiplicidade cultural.

Gabarito explicado

O verso “ser um poeta é uma África” funciona como uma metáfora poderosa que destaca a complexidade, diversidade cultural e histórica, assim como a resistência frente a adversidades, características frequentemente associadas à África. Nesse sentido, o poeta marginal se identifica com essa multiplicidade e força simbólica, afirmando uma identidade que é ao mesmo tempo rica, plural e resistente, o que está alinhado ao espírito da literatura marginal, marcada por heterogeneidade, contestação e reinvenção estética.

Questão 6

Câmara de ecos

Cresci sob um teto sossegado
meu sonho era um pequenino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.
Agora, entre meu ser e o ser alheio,
A linha de fronteira se rompeu.

Waly Salomão. Algaravias: câmara de ecos (1996).

O poema “Câmara de ecos” apresenta uma reflexão sobre o sujeito e sua relação com o outro. Levando em consideração os aspectos constitutivos do poema, entende-se que a lírica do poeta marginal Waly Salomão

a) defende a ideia de uma identidade estável e autônoma, isolada do mundo externo.

b) exalta a supremacia do “sonho próprio” em detrimento da convivência social e da alteridade.

c) revela a transformação do Eu diante da interação com o outro, indicando que a identidade é fluida e construída na relação.

d) valoriza a ciência e o treinamento como formas de fortalecer a individualidade do Eu frente ao outro.

e) aceita a presença do outro dentro do Eu, valorizando o método da relação a partir de uma atitude cientificista.

Gabarito explicado

O poema evidencia a superação da fronteira entre o “ser” próprio e o “ser” do outro, apontando para a dissolução das fronteiras fixas da identidade e a construção do Eu a partir da alteridade. Essa perspectiva está em consonância com a reflexão sobre o sujeito como descentrado, que se define em relação ao outro, rejeitando uma visão estática e isolada do Eu.

Para mais exercícios:

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Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.