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Exercícios sobre a terceira geração do Romantismo (com gabarito explicado)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir exercícios sobre a Geração Condoreira do romantismo brasileira. Treine seus conhecimentos e estude sobre o assunto.

Questão 1

Leia o trecho abaixo, do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves.

"Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

[...]
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

ALVES, Castro. "O navio negreiro" (1869)

Considerando as características da terceira geração romântica (ou geração condoreira), no trecho acima, o verbo "dançar":

a) tem aspecto exclusivamente literal, referindo-se à alegria espontânea dos escravizados durante a travessia, em contraste com o sofrimento descrito nos versos.

b) expressa, ao mesmo tempo, o movimento forçado imposto pelos açoites e uma crítica sarcástica ao prazer sádico dos opressores diante do sofrimento alheio.

c) é meramente estético, sem conexão com a denúncia social típica da terceira geração romântica.

d) é empregado de forma irônica para valorizar a cultura africana, ignorando os aspectos violentos da escravidão.

e) serve para exaltar o espírito festivo dos marinheiros, foco principal da terceira geração romântica.

Gabarito explicado

Na terceira geração romântica, a poesia é marcada pelo engajamento social e político.

Castro Alves, conhecido como o "poeta dos escravos", usa a palavra "dançar" com forte carga irônica e múltiplos sentidos: ela evoca o movimento corporal forçado pelos castigos físicos, mas também denuncia a crueldade dos senhores e marinheiros, que transformam o sofrimento dos escravizados em espetáculo. Assim, o termo ganha sentido figurado e crítico, revelando a dor encoberta por uma falsa aparência de festa ou controle.

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Questão 2

DESIDERIUM

Quero voltar ao meu ninho,
Onde não devo morrer
Das roseiras entre o espinho,
Nos destroços do moinho
Rolas ouvindo gemer;

Ao meu ninho, alevantado
Por mim mesmo à beira-mar,
Do vento aos sopros vibrado,
Da vaga aos sons embalado –
Oh, meu formoso solar!

Ao viver contemplativo
Do meu norte do equador –
Que saudades! que saudades!
Dos meus anjos vindo às tardes;
À Vitória toda em flor!

[...]

Sousândrade. "Desiderium".

O poema de Sousândrade distancia-se das temáticas da segunda geração romântica, também conhecida como geração byroniana. Um exemplo desse distanciamento pode ser notado pela(o):

a) uso de pontos de exclamação para exprimir emoção.

b) liberdade formal que modifica a métrica regular do poema.

c) temática solar e avessa ao elogio da morte.

d) nostalgia da infância que recupera a tradição do escapismo.

e) proposta contemplativa que intensifica o spleen romântico.

Gabarito explicado

A segunda geração romântica (ou byroniana) é marcada pelo pessimismo, pela idealização da morte como libertação, e pelo tom sombrio e introspectivo. Já o poema de Sousândrade, embora melancólico, expressa nostalgia e saudade ligadas à terra natal, à luz, à natureza, ao "formoso solar". Ou seja, ele se afasta do tom mórbido e soturno dos ultrarromânticos, adotando uma perspectiva mais luminosa e afetiva, sem exaltar a morte.

Questão 3

A UMA ESTRANGEIRA

Às vezes estremecias...
Era de febre? Talvez...
Eu pegava-te as mãos frias
P’ra aquetá-las em meus beijos...
Oh! Palidez! Oh! desejos!
Oh! longos cílios de Inês

Na proa os nautas cantavam;
Eram saudades?... Talvez!
Nossos beijos estalavam
Como estala a castanhola...
Lembras-te acaso, espanhola?
Acaso lembras-te, Inês?

[...]

ALVES, Castro. "A uma estrangeira"

O poema de Castro Alves, representante da geração condoreira da poesia romântica, estabelece diálogo com a geração ultrarromântica. Isso acontece porque o poema de Alves

a) aborda a temática do amor impossível a partir da memória da amada.

b) utiliza expressões típicas do byronismo para relatar uma experiência amorosa.

c) retoma os cantos abolicionistas ao retratar a história dos navegadores.

d) propõe a idealização da figura amada enquanto flerta coma ideia de morte.

e) recupera o lirismo melancólico comum aos escritores do spleen.

Gabarito explicado

Castro Alves, embora seja um expoente da terceira geração romântica (condoreira), voltada para causas sociais como a abolição da escravidão, neste poema particular (“À uma estrangeira”) trabalha a lírica amorosa. Assim, ele constrói uma experiência amorosa concreta, vivida, com beijos, lembranças sensoriais e cenário realista, afastando-se da relação de amor impossível típica da segunda geração. Contudo, ele faz usos de termos como "pálida", comuns aos poetas ultrarromânticos.

Questão 4

Texto I

O talento do poeta superou a dificuldade; com uma sagacidade, que eu admiro em tão verdes anos, tratou a história e a arte por modo que, nem aquela o pode acusar de infiel, nem esta de copista. [...]

É a homenagem do poeta ao cidadão. Mas, consorciando os sentimentos pessoais aos dos seus personagens, é inútil distinguir o caráter diverso dos tempos e das situações. Os sucessos que em 1822 nos deram uma pátria e uma dinastia, apagaram antipatias históricas que a arte deve reproduzir quando evoca o passado.

ASSIS, Machado. Obra Completa de Machado de Assis, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, vol. III, 1994. Resposta a uma carta de José de Alencar. Publicada originalmente no Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 01/03/1868.

Texto II

O convento para ele é o refúgio único e santo às almas sequiosas de paz, revestidas de virtude. A voz do poeta é grave, a expressão sombria, o espírito ascético. Não hesita em clamar contra o século, a favor do mosteiro, contra os homens, a favor do frade.

ASSIS, Machado. Crítica literária. São Paulo: Ed. Brasiliense Ltda, 1959.

A partir da leitura dos trechos críticos de Machado de Assis, publicados em periódicos do século XIX, é possível observar sua postura diante de duas tendências poéticas de seu tempo: o condoreirismo e o byronianismo. Com base nisso, assinale a alternativa que melhor expressa o teor das críticas machadianas.

a) No Texto I, Machado de Assis censura o condoreirismo por sua visão excessivamente racionalista da história, que despreza a emoção do povo; no Texto II, condena o byronianismo por sua linguagem simplificada e popular, pouco condizente com a elevação do espírito poético.

b) No Texto I, critica-se a apropriação do sentimento patriótico pelo poeta condoreiro, que ignora as nuances históricas em prol de uma exaltação generalizada; no Texto II, critica-se o byronianismo por não representar com fidelidade o heroísmo brasileiro, preferindo mitos europeus decadentes.

c) No Texto I, Machado aponta como positivo o viés condoreiro de realizar uma leitura crítica de aspectos históricos da sociedade; no Texto II, destaca-se o tom ascético e artificial da poesia ultrarromântica, que idealiza o sofrimento e recusa o mundo.

d) Em ambos os textos, Machado defende o equilíbrio entre emoção e razão como marcas do bom estilo, elogiando o condoreirismo por seu apelo moral e o byronianismo por sua introspecção filosófica, apesar de apontar alguns excessos em ambos.

e) No Texto I, Machado valoriza a intervenção do poeta como cidadão na formação da consciência histórica nacional, mas no Texto II rejeita o byronianismo por sua inclinação política revolucionária, incompatível com os valores conservadores do autor.

Gabarito explicado

No Texto I, Machado tece crítica positiva ao poeta condoreiro, no caso, Castro Alves. Na visão do autor, é a criticidade do poeta condoreiro que permite realizar certa revisão histórica tomada por um nacionalismo crítico. Já no Texto II, o autor aponta o tom ascético, sombrio e exageradamente idealizado da poesia de viés byroniano, que transforma o convento em símbolo de pureza inatingível e nega o século e a humanidade em nome de uma espiritualidade artificial.

Questão 5

“A Guerra do Paraguai (1864-1870) intensificou o genocídio negro ao enviar tropas de escravizados aos fronts e postergou as discussões sobre a abolição da escravidão, além de ter exacerbado mazelas sociais e impactado a vida econômica das províncias.” Nesse momento, a poesia castroalvina passa a “representar a memória traumática da escravidão, afirmando a humanidade do indivíduo escravizado de modo a afastá-lo da condição de mercadoria”, afirma Giovanna.

CAPUTO, Gabriela. Direito humano à liberdade é constante na obra de Castro Alves. In: Jornal da USP. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/direito-humano-a-liberdade-e-constante-na-obra-de-castro-alves/

O texto aponta para imagens que podem ser vistas nos versos:

a)
Perdão, meu filho... se matar-te é crime
Deus me perdoa... me perdoa já.
A fera enchente quebraria o vime...
Velem-te os anjos e te cuidem lá.

b)
O fazendeiro criara filhos
Escravos escravas
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas
Mas um dia trocou

c)

Entram na tua casa a seus contratos
Frades, Sargentos, Pajens, e Mulatos
Porque é tua vileza tão notória
Que entre os homens não achas mais que escória:

d)
Amigo Doroteu, és pouco esperto
as fazendas que pinto não são dessas
que têm para as culturas largos campos
e virgens matarias, cujos troncos

e)

Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.

Gabarito explicado

A alternativa correta é a letra A. Os versos são retirados da obra de Castro Alves e fazem referência direta a uma mãe que tira a vida do próprio filho para poupá-lo da escravidão (uma imagem extrema que denuncia a brutalidade do sistema escravocrata). Essa passagem expressa a memória traumática da escravidão ao mostrar que, diante da mercantilização completa da vida negra, a morte pode ser percebida como único gesto possível de humanidade e proteção.

Questão 6

O PRÍNCIPE AFRICANO

“Bela escrava da minha alma,
Do teu príncipe senhora,
Adeus — a ilha m’espera,
Já desponta a rubra aurora.”

“Não, ó príncipe, não fujas
Da sombra da tamareira:
Só contigo, como é doce
Descansar nesta ribeira!

Olha, a praia é tão deserta,
Tão deserto este areal...
Vejo o mar leão sanhudo
Com sua juba de cristal.”

[...]

"Ele já vê-se em caminho,
A vida na morte está;
Mas, vê-se vivo: m’espera!
Brada “ó alma de Nydah!”

Ninguém sabe aonde o junco
Acaso fora encostar —
Naufragado, em terra imiga,
Pelas costas de além mar:"

[...]

Sousândrade. O Príncipe Africano. IN: Harpas Selvagens. (1857)

Com base no trecho e nos recursos estilísticos de Sousândrade, é correto afirmar que o autor:

a) retoma a exaltação amorosa típica do Romantismo, idealizando a figura da escrava como símbolo da pureza inatingível.

b) constrói um lirismo linear, voltado à saudade e à natureza bucólica, em tom semelhante ao da segunda geração romântica.

c) utiliza imagens simbólicas e tensiona convenções românticas, como a idealização amorosa e a passividade feminina, ainda que apresente final trágico.

d) reforça a estrutura cavaleiresca do amor cortês, com o príncipe representando a autoridade do amante sobre a amada.

e) adere ao exotismo romântico orientalista, com apelo à sensualidade e à fuga da civilização moderna.

Gabarito explicado

Sousândrade não adere plenamente às fórmulas românticas típicas da segunda geração. Assim, usa elementos como “príncipe negro” e “escrava” (em oposição à figura da "virgem pálida), levando-os a realização amorosa plena e exaltando o papel ativo da figura feminina que tem voz e convida o "príncipe". No entanto, encaminha o poema à tragédia, como forma de crítica à escravidão, responsável por separar os amantes.

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Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.