Exercícios sobre o futurismo na literatura (com respostas explicadas)
Confira a seguir os exercícios sobre o futurismo na literatura. Treine seus conhecimentos e continue praticando.
Questão 1
A Dona Branca Clara
Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho do Ciúme
Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas horas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Oswald de Andrade
O poema utiliza uma estrutura inusitada que subverte expectativas da poesia tradicional. Considerando os princípios do Futurismo na literatura, especialmente no contexto do início do século XX, a característica que melhor exemplifica uma afinidade entre o poema e esse movimento é
a) a presença de elementos afetivos e ingredientes simbólicos, que demonstra o retorno à sensibilidade poética e à contemplação sentimental.
b) a associação entre sentimentos e medidas culinárias, que resgata a oralidade popular e a cultura doméstica.
c) a quebra da linearidade narrativa e a fusão entre o banal e o metafísico, que rememora as tendências passadistas.
d) a linguagem direta, a estrutura não convencional e a experimentação formal do poema, que refletem a ruptura estética com o passado.
e) o uso de metáforas culinárias e a suavidade do tom poético, que aproximam o texto da literatura de vanguarda russa.
O poema "A Dona Branca Clara", de Oswald de Andrade, adota uma estrutura que imita uma receita culinária, mas aplicada a sentimentos e estados subjetivos. Essa escolha já rompe com os modelos tradicionais da poesia lírica, e essa subversão formal, ao mesclar o prosaico (cozinhar) com o simbólico (desejo, melancolia, ciúme), está em linha com o espírito das vanguardas europeias do início do século XX, especialmente o Futurismo, que defendia a rejeição do passado, a valorização da linguagem cotidiana, da velocidade, da técnica e da inovação estética.
Questão 2
Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!
Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.
Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?
Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita…
Tem graça: não tens luz eléctrica.
Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!
Álvaro de Campos – Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. – 153.
O Futurismo foi um movimento artístico e literário do início do século XX que exaltava o progresso, a técnica, a velocidade, a energia das cidades e a modernidade. No poema de Álvaro de Campos, o verso que exprime tais aspectos é:
a) "Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!"
b) "Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim."
c) "Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!"
d) "São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia."
e) "Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?"
A alternativa D destaca a imagem do "tictac visível", uma metáfora que materializa o som mecânico do relógio e sugere a presença intensa da máquina e do tempo cronológico, uma marca da modernidade e da vida urbana exaltada pelo Futurismo. Já as demais alternativas evocam nostalgia (A), introspecção (B), emoções noturnas e existenciais (C e E), que se aproximam mais do Simbolismo ou do Expressionismo, e não do impulso moderno e dinâmico futurista.
Questão 3
[...] Centenas de chaminés se empavesam de fumo, numa festa de bandeiras ondulantes, desfraldadas em honra da energia industrial do paulista. Onde se levantavam as tabas de Caiuby e de João Ramalho, o reduto dos arranha-céus rimava, entre as paralelas das ruas, o bizarro poema de cimento armado das grandes metrópoles modernas.Viadutos acrobáticos davam saltos sobre as depressões do terreno, amarrando a cidade com suas articulações de aço. Parques, eternizando a primavera, engalanavam a Babel buliçosa e imensa. Nervos de fios elétricos, cruzados, emaranhados, punham o ritmo febricitante da veiculação moderna nas ruas de asfalto e de granito, onde uma população ativa, construtiva, operosa, erguia, na livre terra americana, um dos mais belos monumentos de cultura e de civilização do universo. [...]
DEL PICCHIA, M. O despertar de São Paulo (Episódios do século XVI e do século XX na terra bandeirante). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933.
O Futurismo foi um movimento artístico e literário que valorizava a ruptura com o passado, a exaltação do progresso, da técnica e da vida urbana moderna. No trecho de Del Picchia, publicado em 1933, observa-se
a) a convivência entre elementos indígenas e modernos, sugerindo uma conciliação harmoniosa entre tradição e inovação, característica essencial do Futurismo.
b) o uso de metáforas relacionadas à natureza, demonstrando que o Futurismo valorizava o equilíbrio ecológico e o retorno a uma vida mais simples.
c) a linguagem grandiosa e imagética do trecho, visando celebrar a energia industrial e a modernidade urbana.
d) a crítica à transformação da cidade, denunciando a mecanização do cotidiano e a desumanização da vida moderna, o que se opõe ao ideal futurista.
e) a visão nostálgica do passado indígena, reforçando a valorização da memória coletiva e dos aspectos patológicos do urbanismo.
A alternativa C é a correta porque identifica a principal característica do Futurismo presente no texto: a celebração da modernidade urbana e industrial por meio de uma linguagem enfática e visual. O texto glorifica os arranha-céus, os fios elétricos, os viadutos e a energia construtiva do povo como símbolos do progresso técnico. As demais alternativas distorcem o papel da tradição (A e E), confundem metáforas naturais com ideologia ecológica (B), ou interpretam o texto como crítica, quando, na verdade, ele é celebratório (D).
Questão 4
Leia o trecho a seguir.
[...]
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega de uma mulher possuída.Atirem-me
para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
O masoquismo através de maquinismos!
Ó tranways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo.
[...]
No trecho de Álvaro de Campos, o eu lírico expressa uma entrega intensa à experiência do mundo moderno e mecanizado. Essa postura está profundamente relacionada aos princípios do Futurismo, movimento que influenciou parte da obra do heterônimo. Na visão futurista do eu lírico, a
a) máquina é vista como uma inimiga da subjetividade humana, responsável pela destruição dos sentimentos e da imaginação.
b) convivência com as máquinas gera no eu lírico um desejo de retorno à natureza e à simplicidade da vida pré-industrial.
c) violência das imagens expressa uma crítica ao ritmo brutal das cidades e à alienação tecnológica provocada pela industrialização.
d) aproximação física e emocional com as máquinas revela uma entrega quase sensual à modernidade e ao progresso.
e) presença das máquinas é tratada com estranhamento e assombro, refletindo o desconforto automatização do sujeito.
A alternativa D é a correta, pois traduz com precisão o espírito do poema e do Futurismo: a máquina é celebrada como símbolo de potência, prazer e entrega total. O desejo de fusão com os trens, fornalhas e navios não é irônico nem crítico, mas afirmativo, exaltando a energia, a velocidade e o erotismo mecânico.
Questão 5
PAISAGEM n. 1
Minha Londres das neblinas finas!
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas.
Há neve de perfumes no ar.
Faz frio, muito frio…
E a ironia das pernas das costureirinhas
parecidas com bailarinas…
O vento é como uma navalha
nas mãos dum espanhol. Arlequinal!…
Há duas horas queimou Sol.
Daqui a duas horas queima Sol.
[...]
Mário de Andrade
Os versos do poema Paisagem n. 1 apresentam uma visão fragmentada, sensorial e dinâmica da cidade, com imagens que mesclam clima, movimento e uma certa estranheza poética do cotidiano urbano. Essa abordagem aproxima-se de produções do movimento futurista nas artes plásticas, que buscavam representar o ritmo moderno e a multiplicidade das experiências urbanas.
Assinale a alternativa que apresenta uma obra futurista cujos princípios visuais podem ser associados aos versos do poema:
a)
b)
c)
d)
e)
A obra Arranha-céus e túneis expressa de maneira visual o mesmo impulso modernista que perpassa o poema: a valorização do espaço urbano, da verticalidade, da velocidade e da técnica. O poema de Mário de Andrade funde imagens sensoriais da cidade, como as "dez mil milhões de rosas paulistanas", a "neve de perfumes" e as "pernas das costureirinhas", com uma atmosfera de deslocamento e multiplicidade de estímulos. A obra antecipa visualmente a cidade do futuro, com linhas verticais, túneis, trânsito dinâmico e sobreposição de planos, criando uma sintonia entre a modernidade arquitetônica e o lirismo urbano presente no poema.
Questão 6
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[...]
No poema de Álvaro de Campos, o verso “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!” apresenta um recurso expressivo que
a) reforça o distanciamento crítico do eu lírico em relação ao barulho industrial, sugerindo incômodo e angústia diante da máquina.
b) evoca o som repetitivo e mecânico das engrenagens, criando uma imagem sensorial que aproxima o eu lírico da vibração e do ritmo das máquinas, como exalta o Futurismo.
c) cria uma atmosfera de melancolia ao representar a monotonia da vida urbana moderna, oposta ao entusiasmo futurista.
d) simboliza a confusão mental do eu lírico diante do excesso de estímulos visuais e sonoros da cidade.
e) indica uma ruptura com o uso tradicional da linguagem poética, mas sem relação com o movimento futurista ou sua visão da técnica.
A alternativa B é a correta porque a onomatopeia “r-r-r-r-r-r-r” imita o som das engrenagens em movimento, funcionando como uma tradução sonora do universo mecânico. Esse recurso dá musicalidade e ritmo industrial ao poema e intensifica o êxtase sensorial do eu lírico diante das máquinas, aspecto fundamental do Futurismo, que celebra a velocidade, a energia e o poder da técnica. As outras alternativas leem a onomatopeia de forma equivocada ou descolada do contexto entusiástico e sensorial típico do movimento.
Saiba mais sobre o assunto em: Futurismo.
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre o futurismo na literatura (com respostas explicadas). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-o-futurismo-na-literatura-com-respostas-explicadas/. Acesso em: