Exercícios sobre o romance regionalista (com gabarito explicado)
Confira a seguir os exercícios sobre o romance regionalista com gabarito explicado. Treine seus conhecimentos e continue estudando.
Questão 1
O romance regionalista no Romantismo brasileiro tem como principal objetivo
a) exaltar a vida urbana e cosmopolita.
b) retratar o funcionamento político do Brasil Imperial.
c) descrever costumes, ambientes e tipos humanos de regiões específicas do país.
d) estabelecer comparações entre o romance regional europeu e o nacional.
e) criticar diretamente o processo de industrialização e aburguesamento das áreas rurais.
O romance regionalista romântico apresenta como núcleo central a representação de ambientes específicos do território brasileiro, evidenciando costumes, falares, paisagens e conflitos locais. Ao contrário das temáticas urbanas ou políticas, ele busca valorizar a cultura regional, contribuindo para a formação simbólica da identidade nacional por meio das particularidades de cada espaço.
Questão 2
Uma característica marcante do romance regionalista é:
a) a objetividade narrativa, a brutalidade sertaneja e o distanciamento emocional.
b) a presença de personagens-tipo ligados ao seu ambiente geográfico.
c) a valorização da burguesia industrial e de seus modos de vida.
d) o uso predominante de linguagem indígena.
e) a recusa de elementos sentimentais ou idealizados.
O romance regionalista constrói personagens que são “tipos regionais”, ou seja, figuras que sintetizam modos de agir, valores, falas e comportamentos característicos de um espaço específico. Eles representam o ambiente natural e cultural em que vivem, reforçando a ligação entre personagem e território, algo inexistente nas alternativas restantes.
Questão 3
Leia o trecho a seguir.
— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez.
— Boas-noites, dona, saudou Cirino.
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava o pulso à doente.
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca.
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.
Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado.
Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.
Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de tão gentil cliente.
— Então? - perguntou o pai.
- Febre nenhuma, respondeu Cirino, cujos olhos fitavam com mal disfarçada surpresa as feições de Inocência. — E que temos que fazer?
— Dar-lhe hoje mesmo um suador de folhas de laranjeira da terra a ver se transpira bastante e, quando for meia noite, acordar-me para vir administrar uma boa dose de sulfato.
Levantara a doente os olhos e os cravara em Cirino, para seguir com atenção as prescrições que lhe deviam restituir a saúde.
[...]
O trecho retirado de Inocência, de Visconde de Taunay, apresenta a detalhada descrição da jovem protagonista e a cena em que Cirino a observa durante o exame. Considerando a linguagem do fragmento e o estilo característico do Romantismo regional, é correto afirmar que o texto:
a) Apresenta características naturalistas ao enfatizar aspectos corporais com teor patológico e determinista, vinculando a aparência da jovem às condições ambientais.
b) Demonstra traços do Romantismo regional, como a idealização da figura feminina, o uso de linguagem altamente adjetivada e a valorização de elementos da vida sertaneja.
c) Desenvolve uma crítica às relações sociais do sertão, empregando uma linguagem seca e austera que recusa idealizações poéticas da paisagem e dos personagens.
d) Revela objetividade descritiva e distanciamento emocional, em consonância com o Realismo, que privilegia a observação imparcial das características físicas.
Inocência, de Visconde de Taunay, exemplifica o Romantismo regional ao retratar o interior brasileiro com forte ênfase na cor local, nos costumes e na paisagem sertaneja. O fragmento utiliza linguagem adjetivada, delicada e idealizadora, especialmente na pintura da protagonista, que surge como figura de pureza, ingenuidade e beleza etérea — elementos centrais da estética romântica.
O narrador constrói uma atmosfera de sensibilidade e lirismo, típicos do movimento. As alternativas A, C e D são inadequadas: não há objetividade realista (A), nem determinismo naturalista (C), nem crítica social pessimista que rejeite idealização (D). O foco recai sobre a descrição harmônica e romântica do cenário humano e regional.
Questão 4
Leia o excerto a seguir.
Idílios
Eram frequentes os encontros dos dois lindos pares de passeadores no Tanquinho.
Vinham semanas em que se repetiam todas as manhãs, a menos que as chuvas não permitissem, ou que Berta e Miguel fossem à casa das Palmas, o que sucedia regularmente aos domingos e dias de festa.
O amor, tão bonina dos prados, quanto rosa dos salões, quando o orvalham risos da mocidade; o amor puro e suave, como a cecém daquele prado, tinha já florido os corações que lhe respiravam pela manhã os agrestes perfumes.
Nem isto é mais segredo; e, pois, não se comete uma indiscrição em contar o que só não sabiam D. Ermelinda e seu marido.
Afonso, este namorava Berta às escâncaras, com o recacho e brinco próprios de seu gênio. Essa mesma sinceridade e desplante de seu afeto eram véu para ocultá-lo a olhos suspicazes. Quem o via sempre a gracejar com a menina, acreditava que isso não passava de travessura de moço folgazão sem tinta de malícia.
Linda, quando os olhos de Miguel pousavam-lhe na face, corava e sentia o tímido coração bater apressado. Não raro, o instinto de delicadeza que recebera de sua mãe, advertia-lhe da distância que separava dela o moço pobre e de mesquinha condição.
O amor, porém, é contagioso, com especialidade na solidão, onde a alma tem necessidade de uma companheira, e quando de todo não a encontra, divide-se ela própria para ser duas: uma, esperança; outra, saudade.
As confidências do irmão; as longas e constantes conversas a propósito do mesmo tema, sempre novo; os episódios singelos do idílio, arrufos ou encantadores segredos; essas asas fagueiras do amor roçavam a todo o instante o coração da moça e deixavam-no impregnado de ternura afetuosa. Entretanto Miguel não se apercebia disso. Acreditava sim, que Linda o tinha em estima por causa de Berta, e dispensava com ele o trato ameno e gentil, inspirado pela bondade d’alma e fina educação.
[...]
No capítulo “Idílios”, de Til, José de Alencar apresenta o desabrochar dos afetos juvenis em um ambiente marcado por imagens naturais que dialogam com a experiência sensível dos personagens. Considerando o trecho e o contexto do Romantismo regional brasileiro, assinale a alternativa que melhor explica a relação entre a descrição da natureza e o título do capítulo.
a) A paisagem é utilizada de modo objetivo, funcionando apenas como cenário físico para os encontros, sem estabelecer relações de sentido com os estados emocionais dos personagens.
b) A presença de metáforas naturais e referências florais integra a paisagem ao campo afetivo da narrativa: a natureza suaviza, acompanha e simboliza o despertar amoroso, justificando o título “Idílios” como expressão romântica de ternura e convivência bucólica no espaço rural.
c) As descrições naturais evidenciam uma leitura crítica do sertão, estabelecendo paralelos entre os elementos da paisagem e as desigualdades sociais, o que aproxima o capítulo de tendências realistas posteriores.
d) O título “Idílios” indica uma tentativa de reconstituir modelos clássicos, de modo que o ambiente natural é descrito com equilíbrio formal e distanciamento, priorizando convenções herdadas da poesia pastoril antiga.
A narrativa utiliza imagens naturais (“bonina”, “prados”, “perfumes agrestes”) como metáforas que acompanham e intensificam o clima afetivo da cena. A natureza não é cenário neutro, mas componente simbólico que traduz a delicadeza das vivências amorosas. Isso se articula diretamente ao título “Idílios”, que, longe de retomar formas clássicas, é ressignificado pelo Romantismo regional como expressão de convivência simples, emocional e bucólica no interior brasileiro. As demais alternativas não reconhecem essa dimensão simbólica que constitui um dos elementos característicos da estética alencariana.
Questão 5
Leia o trecho a seguir.
Cabeleira podia ter vinte e dois anos. A natureza o havia presenteado com formas robustas. Sua fronte era estreita, os olhos pretos e doces, o nariz pouco desenvolvido, os lábios finos como os de um menino. É de notar que a fisionomia deste jovem, velho na prática do crime, tinha uma expressão de insinuante e jovial inocência.
Joaquim, que contava o dobro da idade de seu filho, era baixo, corpulento e menos feito que o Teodósio, o qual, com mais anos, sabia dar, quando queria, à cara estúpida e de cor parda uma aparência de bestial simplicidade que só uma vista perspicaz e acostumada a ler no rosto as ideias e os sentimentos íntimos poderia descobrir a mais refinada hipocrisia.
[...]
No trecho de O Cabeleira, Franklin Távora apresenta uma caracterização minuciosa das figuras de Cabeleira, Joaquim e Teodósio, destacando traços físicos e expressivos que compõem o universo sertanejo. Considerando as características do regionalismo romântico brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) A caracterização de Joaquim e Teodósio privilegia o determinismo biológico, aproximando o texto do Naturalismo, pois a aparência de ambos é apresentada como consequência inevitável do ambiente bruto da caatinga.
b) A descrição de Cabeleira evidencia a tendência realista de decompor psicologicamente a personagem, rejeitando idealizações e privilegiando a análise objetiva da criminalidade no sertão.
c) A construção física e expressional de Cabeleira combina aparência juvenil e inocente com a vida criminosa já consolidada, recurso típico do regionalismo romântico, que busca complexificar figuras sertanejas e inserir nuances morais dentro de um quadro marcado pela cor local.
d) O trecho exemplifica o ideal romântico de herói perfeito, dotado de beleza ética e física, reforçando a valorização sentimental do criminoso como figura moralmente redentora e idealizada.
Franklin Távora, representante do regionalismo romântico do Norte, busca retratar o sertão e suas figuras com forte marca de cor local, combinando elementos românticos (como o uso de adjetivação, contrastes expressivos, dramaticidade) com um olhar mais crítico, atento às tensões sociais e à violência da região. No trecho, Cabeleira é descrito como jovem de traços inocentes, o que contrasta com sua vida criminosa — recurso que revela ambivalência moral, complexificando a figura do cangaceiro. Isso é típico do regionalismo romântico, que não idealiza totalmente, mas também não adota o determinismo naturalista.
Questão 6
Uma função simbólica importante do romance regionalista para o projeto literário do Romantismo brasileiro foi:
a) Enfatizar a superioridade moral da elite urbana.
b) Construir uma identidade nacional a partir das particularidades regionais.
c) Propagar ideais iluministas importados da Europa.
d) Rejeitar por completo qualquer referência à cultura popular.
e) Promover o modelo burguês europeu como ideal social.
O regionalismo contribui diretamente para o projeto romântico de consolidação da identidade nacional, mostrando que o Brasil é formado por múltiplas culturas locais que, juntas, constroem uma imagem ampla do país. As outras alternativas sugerem elitismo, eurocentrismo ou afastamento cultural, incompatíveis com o movimento.
Questão 7
Leia o excerto a seguir.
Sentou-se no chão e suspendeu o cadáver para o colocar sobre os joelhos. Um galho da árvore, que com sua folhagem havia abrigado a moça durante a noite, afastou-lhe o lencinho branco que lhe envolvia o pescoço e indiscretamente descobriu, aos olhos do desolado amante, seus seios virgens.
Ao vê-los, soltou este nova exclamação de dor. A chama que Luísa, para salvar Florinda do incêndio, atravessara na noite anterior havia deixado uma só ferida no lugar onde a natureza tinha-a dotado com um cofre de graças e perfeições.
— Queimada! Oh!, Luisinha, que sofrimento não foi o teu! Que dores não suportaste em silêncio, desgraçada criança! E como fico eu sem ti, meu amor? Ai de mim, Luisinha! Ai de mim!
O ânimo forte, que sempre se mostrara inteiro e imóvel, agora agitado por comoções tão violentas, dobrou-se enfim e deu larga prova da fragilidade humana. Dos olhos do bandido irrompeu uma torrente de lágrimas. Soluços, como animal bravio, escaparam de seu peito e ecoaram pela imensidade ainda em grande parte adormecida. Havia quinze anos que esses olhos não choravam diante dos mais tristes e lastimosos espetáculos.
[...]
No trecho de O Cabeleira, a reação do bandido diante do sofrimento e da morte de Luisinha revela uma construção narrativa que articula elementos da sensibilidade romântica com o cenário rústico do sertão. Considerando as características do regionalismo romântico brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) A dor do Cabeleira manifesta uma crítica direta à religiosidade sertaneja, pois suas lágrimas expressam arrependimento moral e condenação espiritual, desarticulando qualquer traço romântico na composição da cena.
b) A cena recusa qualquer forma de sentimentalismo romântico, apresentando a morte de Luisinha de maneira seca e objetiva, coerente com a postura documental típica do Naturalismo.
c) A morte de Luisinha é tratada como um acontecimento corriqueiro, reforçando a opção estética de Franklin Távora por minimizar conflitos emocionais e privilegiar o dinamismo da ação narrativa em detrimento da psicologia dos personagens.
d) A comoção extrema do Cabeleira, que após quinze anos volta a chorar, revela o esforço do regionalismo romântico em humanizar figuras sertanejas rudes, evidenciando a tensão entre violência e sentimento, enquanto a morte de Luisinha assume contornos idealizados, próximos do martírio feminino recorrente no Romantismo.
A alternativa D expressa adequadamente a articulação entre sentimentalismo romântico e rusticidade sertaneja. O choro do Cabeleira, após longa aridez emocional, humaniza o bandido e revela interioridade complexa — recurso frequente no regionalismo romântico, que não reduz o sertanejo à brutalidade pura. Ao mesmo tempo, a morte de Luisinha é descrita com tom idealizado, aproximando-a de um modelo feminino sacrificial típico da estética romântica.
Saiba mais em:
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre o romance regionalista (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-o-romance-regionalista-com-gabarito-explicado/. Acesso em: