Exercícios sobre poesia social (com gabarito explicado)
Confira a seguir os exercícios sobre poesia social. Teste seus conhecimentos e continue estudando.
Questão 1
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/11/09/sergio-vaz-poesia-para-mim-e-quando-ela-desce-do-pedestal-e-beija-os-pes-da-comunidade/. Acesso em: 17 jun. 2025.
A manchete a seguir foi extraída de uma entrevista com o poeta da periferia Sérgio Vaz, um dos principais representantes da poesia social no Brasil. Nesse contexto, infere-se que o conceito de poesia social presente na fala de Vaz
a) valoriza a linguagem rebuscada como forma da classe periférica ascender ao cânone literário.
b) defende a permanência da poesia em espaços elitizados como forma de preservar sua tradição.
c) critica o uso da poesia como instrumento de alienação nas comunidades periféricas.
d) concebe uma poesia engajada, acessível e voltada para a valorização das vozes marginalizadas.
e) associa a literatura periférica a uma poesia de menor valor e, portanto, fora do pedestal literário.
A fala de Sérgio Vaz expressa claramente a ideia de uma poesia que abandona o elitismo (“desce do pedestal”) para se aproximar da realidade e das necessidades da comunidade, especialmente das periferias.
Essa concepção está alinhada com o conceito de poesia social ou marginal, que busca dar voz a grupos historicamente excluídos e transformar a arte em ferramenta de conscientização, resistência e valorização cultural.
Ao afirmar que a poesia “beija os pés da comunidade”, o autor defende uma literatura acessível, engajada e enraizada no cotidiano popular, rompendo com modelos tradicionais e excludentes.
Questão 2
Texto I
Carta a Stalingrado
[...]
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.
Rosa do Povo (1945). In Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa. Rio de janeiro, Editora Nova Aguilar, 1983
Texto II
Navio Negreiro
[...]
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
[...]
ALVES, Castro. O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007.
Os textos I e II são respectivamente assinados por Carlos Drummond de Andrade e Castro Alves, importantes poetas da literatura brasileira. Embora suas obras estejam distanciadas temporalmente e seus contextos históricos sejam distintos, os poemas aproximam-se por:
a) tratarem de eventos distantes da realidade nacional, sem conexão com os problemas sociais do Brasil.
b) explorarem a temática da resistência e da opressão a partir de uma perspectiva lírica e subjetiva, afastando-se do engajamento político.
c) utilizarem-se da poesia como instrumento de crítica e consciência social, ressignificando acontecimentos históricos para promover reflexão coletiva.
d) assumirem uma linguagem simbólica que privilegia aspectos formais e estilísticos em detrimento de uma posição ideológica clara.
e) abordarem os conflitos humanos exclusivamente do ponto de vista individual e emocional, com foco no sofrimento íntimo dos poetas.
Ambos os poemas exemplificam como a poesia pode assumir um papel ativo na crítica social e na reflexão histórica: Castro Alves denuncia com veemência a brutalidade da escravidão no século XIX, enquanto Drummond, em pleno século XX, expressa solidariedade internacional e resistência frente ao fascismo e à guerra. Em contextos distintos, os dois autores transformam a poesia em voz política e instrumento de mobilização da consciência coletiva.
Questão 3
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
— porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
GULLAR, Ferreira. Antologia poética. Rio de Janeiro: Fontana/Summus, 1977.
Durante o regime militar brasileiro, muitos escritores utilizaram a poesia como forma de resistência e denúncia social. A composição dá visibilidade a temas como a fome, a exploração do trabalho e a exclusão social, deslocando o foco da experiência íntima para o coletivo. A opção estética adotada por Gullar nesse poema contribui para:
a) recuperar a função da poesia como expressão de sentimentos universais, priorizando a beleza estética acima de qualquer viés temático.
b) ironizar a linguagem da burocracia estatal e dos meios de comunicação, utilizando formas fixas e linguagem rebuscada para criticar a repressão.
c) reafirmar o papel tradicional da poesia lírica, ao exaltar figuras idealizadas e universais como metáforas do sofrimento social.
d) confrontar os limites convencionais da poesia, ao empregar linguagem bruta, cotidiana e antipoética, revelando um engajamento com questões sociais urgentes.
e) dissolver o conteúdo político do texto em imagens oníricas e simbólicas, o que inviabiliza qualquer leitura comprometida com a realidade histórica.
O poema de Ferreira Gullar rompe com a tradição lírica ao empregar uma linguagem crua, cotidiana e direta, que dialoga com a realidade social e política do Brasil durante a ditadura militar. Ao dizer que “o poema, senhores, não fede nem cheira”, o eu lírico critica a ineficácia de uma poesia descomprometida com a vida concreta e denuncia a exclusão das classes trabalhadoras do espaço artístico e simbólico. Essa opção estética reforça o caráter de poesia social, que abandona o idealismo e o sentimentalismo em favor de um discurso engajado, que busca provocar reflexão crítica sobre a desigualdade, a opressão e a censura vigentes.
Questão 4
Porém, cabe destacar, a poesia não se trata da narração de fatos, mas, de uma escrita recheada de questionamentos que servem como base para o entendimento e crítica do cotidiano e da vida social, é o ponto de encontro entre a produção histórica e o fazer poético, dialogando, os dois modos de olhar o mundo atribuir-lhe significado. [...]
SILVA, Eloi; SOUSA, Jenaquiela; SOARES, Deivanira. A poesia como reflexo da sociedade. Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. In.: Suplemento: Anais da XIV JNLFLP. v. 25 n. 75. 2019.
O texto aborda uma concepção de poesia social que pode ser verificada nos versos:
a)
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, no silêncio e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
[...]
Olavo Bilac
b)
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
[...]
Conceição Evaristo
c)
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
[...]
Carlos Drummond de Andrade
d)
O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo.
Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos.
O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir.
Me recuso (sic) a viver num mundo sem sentido.
Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido.
[...]
Paulo Leminski
e)
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
[...]
Gregório de Matos Guerra
O enunciado afirma que a poesia, segundo a concepção apresentada pelo texto, não é uma simples narração de fatos, mas sim uma forma de escrita que questiona, critica o cotidiano e a vida social, sendo um ponto de encontro entre a história e o fazer poético, atribuindo significados ao mundo.
Os versos de Conceição Evaristo evidenciam exatamente essa proposta: uma poesia engajada socialmente, que denuncia a opressão histórica vivida por mulheres negras no Brasil.
A referência à voz da avó que ecoa obediência aos brancos e à mãe que ecoa revolta nas cozinhas alheias traz uma carga crítica sobre o racismo estrutural, a opressão de gênero e a desigualdade social.
Questão 5
Marginália II
eu, brasileiro, confesso
minha culpa meu pecado
meu sonho desesperado
meu bem guardado segredo
minha aflição
eu, brasileiro, confesso
minha culpa meu degredo
pão seco de cada dia
tropical melancolia
negra solidão:
aqui é o fim do mundo
aqui é o fim do mundo
ou lá
aqui o terceiro mundo
pede a bênção e vai dormir
entre cascatas palmeiras
araçás e bananeiras
ao canto da juriti
aqui meu pânico e glória
aqui meu laço e cadeia
conheço bem minha história
começa na lua cheia
e termina antes do fim
[...]
NETO, Torquato. Marginália II. In: Os últimos dias de paupéria: do lado Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos Suplemento: Anais da XIV JNLFLP 473 de dentro. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: M. Limonad, 1982. Disponível em: https://escritas.org/pt/t/13128/marginalia-ii. Acesso em: 17 Jun. 2025.
O poema Marginália II, de Torquato Neto, traz um eu-lírico que se reconhece como sujeito social imerso nas contradições de sua realidade. Ao confessar “minha culpa”, “meu pecado” e “meu degredo”, o texto sugere não apenas uma angústia individual, mas também uma crítica latente às condições históricas e sociais do país. A justaposição de elementos como “pânico e glória”, “laço e cadeia” e “tropical melancolia” contribui para
a) expor o destino trágico e inevitável da experiência de vítima em que o eu-lírico se coloca.
b) celebrar o território nacional, compondo um tom predominantemente ufanista no poema.
c) construir o efeito de ambiguidade que atravessa a experiência do eu-lírico.
d) reforçar o tom épico do poema de modo a elevar o eu-lírico ao posto de um símbolo de resistência.
e) estabelecer tom religioso e confessional como forma de solucionar os conflitos do eu-lírico.
O poema Marginália II apresenta um eu-lírico que revela uma identidade marcada por contradições. Ao unir imagens opostas como “pânico e glória”, “laço e cadeia”, o texto constrói uma percepção ambígua da realidade brasileira, especialmente do “terceiro mundo”, onde convivem aspectos naturais exuberantes e profundas mazelas sociais. Assim, a confissão do eu-lírico não se limita a um desabafo pessoal, mas reflete uma crítica social embutida em uma linguagem poética rica em tensões.
As demais alternativas simplificam ou desviam esse efeito, propondo leituras redentoras, épicas ou fatalistas que não se sustentam diante da complexidade do texto.
Questão 6
Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira.
[...]
Ferreira Gullar
O poema “Agosto 1964”, de Ferreira Gullar, remonta a um período de forte repressão política no Brasil, especialmente após o golpe militar de 1964. Ao abordar o cotidiano do eu-lírico em meio ao transporte público, ao trabalho e à repressão, o texto contrapõe elementos da vida moderna e urbana à perda de ideais estéticos e políticos da juventude. A poesia aparece como uma resposta possível ao contexto de violência e silenciamento, ainda que sob vigilância e risco.
No poema, a postura do eu-lírico diante da realidade opressiva se constrói a partir da(o)
a) desencanto com a arte e a vida, levando à renúncia completa de seus sonhos e à aceitação da dominação.
b) alienação cotidiana, evidenciada pela indiferença ao ambiente urbano e pela apatia diante das injustiças sociais.
c) lamento nostálgico pelos ideais revolucionários abandonados em nome da sobrevivência e da rotina mecânica.
d) denúncia crítica das opressões e da valorização da poesia como resistência simbólica frente à injustiça.
e) rejeição da realidade concreta, substituída por devaneios poéticos que escapam do cenário político do país.
O poema apresenta um eu-lírico que, embora cansado e oprimido (“fatigado de mentiras”, “salário injusto”, “tortura”), não se rende à alienação nem ao conformismo.
A despedida de ideais artísticos e movimentos literários (“adeus, Rimbaud [...] concretismo, neoconcretismo”) indica uma transição da arte pela arte para uma poesia engajada, que “responde a inquérito policial-militar” e se mantém viva como forma de resistência.
A última estrofe reafirma essa postura ao afirmar que, mesmo diante do horror, é possível criar: “retiramos algo e com ele construímos um artefato / um poema / uma bandeira”. As demais alternativas falham ao sugerir rendição, apatia, nostalgia pura ou escapismo, leituras que não captam a dimensão crítica e afirmativa do texto.
Para mais exercícios:
Exercícios sobre a poesia marginal (com gabarito explicado)
Exercícios de literatura para o 3º ano do Ensino Médio (com gabarito)
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre poesia social (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-poesia-social-com-gabarito-explicado/. Acesso em: