Favelização no Brasil

A favelização no Brasil é um processo histórico, comum e resultado da segregação socioespacial das cidades. A favelização é uma forma de urbanização, reflexo da exclusão social e territorial e da má gestão dos espaços urbanos.

"Favelizar” é aumentar o número de moradias precárias (barracos) em uma determinada região, formando conjuntos habitacionais conhecidos como "favelas". Elas surgem em áreas de ocupação irregular (públicas ou privadas) e formam núcleos populacionais densamente povoados.

Histórico da favelização no Brasil

O processo de favelização no Brasil remete ao século XIX e ocorre até os dias atuais. De forma geral, pode-se dividir da seguinte forma:

• Pós abolição da escravatura (1888): os escravizados foram libertos, porém não receberam nenhum tipo de suporte para conseguir trabalho digno ou moradia de qualidade. Instalaram-se em áreas vazias e de risco, como encostas de morro e proximidades de rios e córregos;
• Pós Guerra de Canudos e o Morro da Providência (1897): ao final da Guerra de Canudos, o governo da época prometeu moradia aos soldados quando retornassem ao Rio de Janeiro. Isso não ocorreu e os soldados instalaram-se no Morro da Providência, no centro da cidade;
• Industrialização e êxodo rural (1930-1950): o governo Vargas inicia o processo de industrialização do Brasil e intensifica a urbanização. O êxodo rural produz o crescimento rápido e sem planejamento das cidades brasileiras, aumentando o processo de favelização;
• Período Militar (1960-1980): a Revolução Verde intensificou o êxodo rural. Neste período também foram realizadas remoções, destruindo morros e realocando a população de baixa renda em conjuntos habitacionais;
• Pós 1990 até os dias atuais: verticalização das favelas, crescimento nas cidades médias e nas periferias das grandes metrópoles.

Causas da favelização

As principais causas da favelização são:

1. Desigualdade social: a população de classe mais baixa não consegue arcar com os custos de vida na chamada "cidade formal";
2. Macrocefalia Urbana: o crescimento desordenado das cidades ajuda a produzir a favelização pois concentra estruturas e serviços em apenas um local;
3. Especulação imobiliária: áreas centrais e melhor estruturadas custam mais caro e acabam por expulsar a população de baixa renda;
4. Falta de planejamento e de políticas habitacionais: o planejamento urbano muitas vezes é aquém do crescimento urbano e populacional. Além disso, as políticas habitacionais são descontínuas e não são efetivas;
5. Migração campo-cidade: mesmo em menor número do que em outros períodos, essa migração ainda ocorre, aumentando a população das cidades;
6. Informalidade no trabalho: a falta de renda estável muitas vezes não permite que parte da população acesse crédito e financiamento para moradias formais.

Características da favelização

O crescimento urbano desigual é causa e, ao mesmo tempo, característica da favelização. Algumas áreas recebem infraestrutura e investimentos, enquanto outras são excluídas deste processo.

As favelas, em sua grande maioria, estão localizadas em áreas que não são propícias à habitação, como encostas de morro e margens de rios. Algumas são construídas em áreas abandonadas, terrenos baldios, várzeas e mangues.

A falta de infraestrutura básica é uma das características mais aparentes das favelas. A falta de saneamento básico, iluminação pública, transporte, saúde e educação são alguns exemplos da carência desses locais.

As moradias são construídas pelos próprios moradores de forma improvisada. Ao mesmo tempo em que isso pode ser perigoso pela insegurança das edificações, também demonstra a criatividade e resiliência da população que ali vive.

O trabalho da população de favela é marcado, em sua maioria, pela informalidade. Serviços sem carteira assinada, comércio ambulante ou "bicos" são as principais formas de trabalho dessa população.

A ausência do Estado nesses locais abre brechas para o conflito de domínio do território entre milícias, traficantes e facções armadas que aterrorizam a população local.

Mesmo com todas essas adversidades, não se pode esquecer que a favela também é um local de resistência, potência cultura e comunidade.

Favela como potência

Apesar dos problemas citados, que prejudicam a vida dos moradores de favela, não se pode deixar de citar a cultura, criatividade, inteligência e potência econômica das favelas.

A luta política nas favelas é uma de suas principais representações positivas. Os coletivos de juventude, as associações de moradores, as lideranças de mulheres negras e a cultura de participação e decisão popular são alguns exemplos importantes.

A economia circular dentro das favelas é fortíssima. Segundo levantamento do Data Favela (julho/2025), as favelas brasileiras movimentam cerca de 300 bilhões de reais por ano, ultrapassando o consumo de 22 estados do país.

Inúmeras expressões culturais e de arte nasceram nas favelas: o samba, o funk, o grafite, o passinho, o audiovisual independente, dentre outros. Muitas vezes as pessoas consomem essas formas de cultura sem perceberem sua verdadeira origem.

As soluções inventadas pela favela para contornar a falta de infraestrutura são inteligentes e funcionais. As cozinhas coletivas, hortas urbanas, mapeamento realizados pela própria comunidade e redes de wi-fi criadas pelos próprios moradores são só alguns desses exemplos.

Favelas em números

• De acordo com o Censo 2022 do IBGE, o Brasil possui 12.348 favelas e comunidades urbanas, distribuídas em 656 municípios;
• Nessas 12.348 favelas vivem 16.390.815 pessoas, que corresponde a 8,1% da população brasileira;
• A região Sudeste, encabeçada por Rio de Janeiro e São Paulo, é a que mais concentra número de favelas;
• A região Centro-Oeste possui menos favelas em escala nacional, porém vem apresentando crescimento expressivo nas periferias de Brasília, Goiânia e Cuiabá;
• A maior favela do país é a Rocinha, no Rio de Janeiro, com 72.021 moradores.

Estratégias para lidar com a favelização

Para lidar com a favelização e evitar o aumento dessas áreas é preciso atuar em diferentes frentes.

As políticas habitacionais precisam ser acessíveis, com financiamentos realistas e foco em integração urbana.

Para as favelas que já existem é preciso pensar num plano de urbanização dessas áreas, levando infraestrutura e serviços.

A regularização fundiária é outro ponto importante, pois torna legal a posse do terreno, permitindo direitos aos moradores.

O planejamento urbano deve ser participativo, ouvindo da população de favelas quais são suas reais necessidades. Lembrando que as favelas não são iguais e sua diversidade precisa ser respeitada na tomada de decisões.

Controlar a especulação imobiliária e trazer de volta o Estado para produtor e executor de políticas públicas.

Prevenir desastres com obras de engenharia e mapeamento de áreas de risco.

Todos esses pontos passam pelas políticas de inclusão social, pois sem elas não é possível diminuir as diferenças socioeconômicas da população de favela.

Para praticar: Exercícios sobre favelização (com gabarito explicado)

Leia também:

• Desigualdade Social no Brasil
• Macrocefalia urbana: entenda o que é e suas causas (com exercício)
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