Filosofia Contemporânea: o que é, as principais características e pensadores

Thiago Souza
Thiago Souza
Professor de Sociologia, Filosofia e História

A Filosofia Contemporânea se desenvolveu a partir do final do século XVIII e tem como marco a Revolução Francesa, em 1789.

Note que a chamada "filosofia pós-moderna", ainda que para alguns pensadores seja autônoma, foi incorporada a filosofia contemporânea, reunindo os pensadores das últimas décadas.

Contexto Histórico

Esse período é marcado pela consolidação do capitalismo gerado pela Revolução Industrial Inglesa, que tem início em meados do século XVIII.

Com isso, torna-se visível a exploração do trabalho humano, ao mesmo tempo que se vislumbra o avanço tecnológico e científico.

Nesse momento são realizadas diversas descobertas. Destacam-se:

  • a eletricidade;
  • o uso de petróleo e do carvão;
  • as invenções da locomotiva;
  • automóvel;
  • avião;
  • telefone;
  • telégrafo;
  • fotografia;
  • cinema;
  • rádio, entre outros.

As máquinas substituem a força humana e a ideia de progresso é disseminada em todas as sociedades do mundo.

Por conseguinte, o século XIX reflete a consolidação desses processos e as convicções ancoradas no progresso tecnocientífico.

Já no século XX, o panorama começa a mudar, refletido numa era de incertezas, contradições e dúvidas geradas pelos resultados inesperados.

Os acontecimentos desse século foram essenciais para formular essa nova visão do ser humano. Merecem destaque as guerras mundiais, o nazismo, a bomba atômica, a guerra fria, a corrida armamentista, o aumento das desigualdades sociais e a degradação do meio ambiente.

Assim, a filosofia contemporânea reflete sobre muitas questões sendo que a mais relevante é a "crise do homem contemporâneo".

Nesse caso, as incertezas e as contradições tornam-se os motes dessa nova era: a era contemporânea.

O que foi a Escola de Frankfurt

Surgida no século XX, em 1920, a Escola de Frankfurt foi formada por pensadores do “Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt”.

Pautada nas ideias marxistas e freudianas, essa corrente de pensamento formulou uma teoria crítica social interdisciplinar.

Ela aprofundou em temas diversos da vida social nas áreas da antropologia, psicologia, história, economia e política.

Sobre seus pensadores, merecem destaque os filósofos: Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jürgen Habermas.

Indústria Cultural

A Indústria Cultural foi um termo criado pelos filósofos da Escola de Frankfurt Theodor Adorno e Max Horkheimer. O intuito era analisar a indústria de massa veiculada e reforçada pelos meios de comunicação.

Segundo eles, essa “indústria do divertimento” massificaria a sociedade, ao mesmo tempo que homogeneizaria os comportamentos humanos.

Principais características da filosofia contemporânea

As principais características e correntes filosóficas da filosofia contemporânea são:

  • Marxismo: essa corrente de pensamento surge no contexto das revoluções industriais, tendo Karl Marx e Friedrich Engels como seus grandes expoentes.
  • Positivismo: Auguste Comte e Émile Durkheim desenvolveram seus métodos científicos baseados em uma tentativa de neutralidade apresentada por essa corrente.
  • Racionalismo: a valorização do uso da razão passou por um momento importante, tendo como pano de fundo o processo de industrialização. A produção industrial valorizou e necessitou da ciência na busca pelo lucro.
  • Utilitarismo: corrente de pensamento que avalia a moralidade de determinadas ações baseado nas consequências que ela produz para a sociedade de forma quantitativa.
  • Pragmatismo;
  • Cientificismo: valorização do pensamento científico na tomada de decisões, em detrimento do pensamento religioso ou do uso de emoções.
  • Niilismo: concepção filosófica baseada na impossibilidade da certeza de algo concreto na construção do conhecimento.
  • Idealismo: corrente filosófica que defende o embate de ideias na construção de pensamento filosóficos.
  • Liberdade: essa ideia ganhou força com as ideias iluministas, no que tangia questões relacionadas ao pensamento, as crenças religiosas e também a economia.
  • Existencialismo: corrente filosófica que tem como foco a reflexão sobre questões inerentes a existência humana, como a angústia e a autoimagem.
  • Fenomenologia: corrente filosófica que analisa os fenômenos como formas de compreender o mundo.
  • Subjetividade: em contraponto ao Positivismo, que prega uma busca científica pela neutralidade, a subjetividade valoriza o eu dentro do processo racional.
  • Sistema Hegeliano: método filosófico do idealista Hegel, muito questionado por pensadores posteriores, como Marx.
  • Materialismo dialético: método de análise social utilizado por Marx e Engels, que defende a existência de um conflito de classes gerando tensões e mudanças nas sociedades ao longo da história.

Principais filósofos contemporâneos

Friedrich Hegel (1770-1831)

Filósofo alemão, Hegel foi um dos maiores expoentes do idealismo cultural alemão, e sua teoria ficou conhecida como “hegeliana”.

Baseou seus estudos na dialética, no saber, na consciência, no espírito, na filosofia e na história.

Esses temas estão reunidos em suas principais obras:

  • Lições sobre História da Filosofia (1805)
  • Fenomenologia do Espírito (1807)
  • Princípios da Filosofia do Direito (1820)

Dividiu o espírito (ideia, razão) em três instâncias: espírito subjetivo, objetivo e absoluto.

Já a dialética, segundo ele, seria o movimento real da realidade que teria de ser aplicada no pensamento.

Ludwig Feuerbach (1804-1872)

Filósofo materialista alemão, Feuerbach foi discípulo de Hegel, embora mais tarde, tenha adotado uma postura contrária de seu mestre.

Além de criticar a teoria de Hegel em sua obra “Crítica da Filosofia Hegeliana” (1839), o filósofo criticou a religião e o conceito de Deus. Segundo ele, o conceito de Deus é expresso pela alienação religiosa.

Seu ateísmo filosófico influenciou diversos pensadores dentre eles Karl Marx.

Arthur Schopenhauer (1788-1860)

Filósofo alemão e crítico do pensamento hegeliano, Schopenhauer apresenta sua teoria filosófica baseada na teoria de Kant. Nela, a essência do mundo seria resultado da vontade de viver de cada um.

Para ele, o mundo estaria repleto de representações criadas pelos sujeitos. A partir disso, as essências das coisas seriam encontradas por meio do que ele chamou de “insight intuitivo” (iluminação).

Sua teoria foi marcada também pelos temas do sofrimento e do tédio.

Søren Kierkegaard (1813-1855)

Filósofo dinamarquês, Kierkegaard foi um dos precursores da corrente filosófica do existencialismo.

Dessa maneira, sua teoria esteve pautada nas questões da existência humana, destacando a relação dos homens com o mundo e ainda, com Deus.

Nessa relação, a vida humana, segundo o filósofo, estaria marcada pela angústia de viver, por diversas inquietações e desesperos.

Isso somente poderia ser superado com a presença de Deus. No entanto, está assinalada por um paradoxo entre a fé e a razão e, portanto, não pode ser explicada.

Auguste Comte (1798-1857)

Na “Lei dos Três Estados” o filósofo francês Comte aponta para a evolução histórica e cultural da humanidade.

Ela está dividida em três estados históricos diferentes: estado teológico, estado metafísico e estado científico ou positivo.

O positivismo, baseado no empirismo, foi uma doutrina filosófica inspirada na confiança do progresso científico e seu lema era “ver para prever”.

Essa teoria se opôs aos preceitos da metafísica citada na obra “Discurso sobre o Espírito Positivo”.

Karl Marx (1818-1883)

Filósofo alemão e crítico do idealismo hegeliano, Marx é um dos principais pensadores da filosofia contemporânea.

Sua teoria é denominada de "marxista". Ela abrange diversos conceitos como o materialismo histórico e dialético, a luta de classes, os modos de produção, o capital, o trabalho e a alienação.

Ao lado do teórico revolucionário Friedrich Engels, publicaram o “Manifesto Comunista”, em 1948.

Segundo Marx, o modo de produção material da vida condiciona a vida social, política e espiritual dos homens, analisada em sua obra mais emblemática, “O Capital”.

Georg Lukács (1885-1971)

Filósofo húngaro, Lukács baseou seus estudos no tema das ideologias. Segundo ele, elas têm a finalidade operacional de orientar a vida prática dos homens, que por sua vez, possuem grande importância na resolução dos problemas desenvolvidos pelas sociedades.

Suas ideias foram influenciadas pela corrente marxista e ainda, pelo pensamento kantiano e hegeliano.

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Filósofo alemão, o niilismo de Nietzsche está expresso em suas obras em forma de aforismos (sentenças curtas que expressam um conceito).

Seu pensamento passou por diversos temas, desde religião, artes, ciências e moral, criticando fortemente a civilização ocidental.

O mais importante conceito apresentado por Nietzsche foi o de “vontade de potência”, impulso transcendental que levaria a plenitude existencial.

Além disso, analisou os conceitos de “apolíneo e dionisíaco” baseado nos deuses gregos da ordem (Apolo) e da desordem (Dionísio).

Edmund Husserl (1859-1938)

Filósofo alemão que propôs a corrente filosófica da fenomenologia (ou ciência dos fenômenos) no início do século XX. essa teoria está baseada na observação e descrição minuciosa dos fenômenos.

Segundo ele, para que a realidade fosse vislumbrada a relação entre sujeito e objeto deveria ser purificada. Assim, a consciência é manifestada na intencionalidade, ou seja, é a intenção do sujeito que desvendaria tudo.

Martin Heidegger (1889-1976)

Heidegger foi filósofo alemão e discípulo de Husserl. Suas contribuições filosóficas estiveram apoiadas nas ideias da corrente existencialista. Nela, a existência humana e a ontologia são suas principais fontes de estudo, desde a aventura e o drama de existir.

Para ele, a grande questão filosófica estaria voltada para a existência dos seres e das coisas, definindo assim, os conceitos de ente (existência) e ser (essência).

Jean Paul Sartre (1905-1980)

Filósofo e escritor francês existencialista e marxista, Sartre focou nos problemas relacionados com o “existir”.

Sua obra mais emblemática é o “Ser e o Nada”, publicada em 1943. Nela, o “nada”,uma característica humana, seria um espaço aberto, no entanto, baseada na ideia da negação do ser (não-ser).

O “nada” proposto por Sartre faz referência a uma caraterística humana associada ao movimento e as mudanças do ser. Em resumo, o “vazio do ser” revela a liberdade e a consciência da condição humana.

Bertrand Russel (1872-1970)

Bertrand Russel foi filósofo e matemático britânico. Diante da análise lógica da linguagem, buscou nos estudos da linguística a precisão dos discursos, do sentido das palavras e das expressões.

Essa vertente ficou conhecida como "Filosofia Analítica" desenvolvida pelo positivismo lógico e a filosofia da linguagem.

Para Russel, os problemas filosóficos eram considerados "pseudoproblemas", analisados à luz da filosofia analítica. Isso porque não passariam de equívocos, imprecisões e mal-entendidos desenvolvidos pela ambiguidade da linguagem.

Ludwig Wittgenstein (1889-1951)

Filósofo austríaco, Wittgenstein colaborou com o desenvolvimento da filosofia de Russel, de forma que aprofundou seus estudos na lógica, na matemática e na linguística.

De sua teoria filosófica analítica, sem dúvida, os “jogos de linguagem” merecem destaque, donde a linguagem seria o “jogo” aprofundado no uso social.

Em resumo, a concepção da realidade é determinada pelo uso da língua cujos jogos da linguagem são produzidos socialmente.

Theodor Adorno (1903-1969)

Filósofo alemão e um dos principais pensadores da Escola de Frankfurt. Ao lado de Max Horkheimer (1895-1973), Adorno criou o conceito de Indústria Cultural, que está refletido na massificação da sociedade e em sua homogeneização.

Na “Crítica da Razão”, os filósofos apontam que o progresso social, reforçado pelos ideais iluministas, resultou na dominação do ser humano.

Juntos, publicaram a obra “Dialética do Esclarecimento”, em 1947. Nela, eles denunciaram a morte da razão crítica que levou a deturpação das consciências pautadas num sistema social dominante da produção capitalista.

Walter Benjamin (1892-1940)

Filósofo alemão, Benjamin demostra uma postura positiva em relação aos temas desenvolvidos por Adorno e Horkheimer, sobretudo da Indústria Cultural.

Sua obra mais emblemática é “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”. Nela, o filósofo aponta que a cultura de massa, disseminada pela Indústria Cultural, poderia trazer benefícios e servir como um instrumento de politização. Isso porque ela permitiria o acesso da arte à todos os cidadãos.

Ainda assim, foi crítico em outros pontos, principalmente no que diz respeito a repetibilidade das imagens.

Jürgen Habermas (1929-)

Filósofo e sociólogo alemão, Habermas propôs uma teoria baseada na razão dialógica e na ação comunicativa. Segundo ele, seria uma maneira de emancipação da sociedade contemporânea.

Essa razão dialógica surgiria dos diálogos e dos processos argumentativos em determinadas situações.

Nesse sentido, o conceito de verdade apresentado pelo filósofo é fruto das relações dialógicas e, portanto, é denominado de verdade intersubjetiva (entre sujeitos).

Michel Foucault (1926-1984)

Filósofo francês, Foucault buscou analisar as instituições sociais, a cultura, a sexualidade e o poder.

Segundo ele, as sociedades modernas e contemporâneas são disciplinares. Assim, elas apresentam uma nova organização do poder, que, por sua vez, foi fragmentado em “micropoderes”, estruturas veladas do poder.

Para o filósofo, o poder na atualidade engloba os diversos âmbitos da vida social e não somente o poder concentrado no Estado. Essa teoria foi esclarecida em sua obra “Microfísica do Poder”.

Jacques Derrida (1930-2004)

Filósofo francês nascido na Argélia, Derrida foi um crítico do racionalismo, propondo a desconstrução do conceito de “logos” (razão).

Assim, ele cunhou o conceito de “logocentrismo” baseado na ideia de centro e que inclui diversas noções filosóficas como o homem, a verdade e Deus.

A partir dessa lógica de oposições, Derrida apresenta sua teoria filosófica destruindo o “logos”, que, por sua vez, auxiliou na construções de “verdades” indiscutíveis.

Karl Popper (1902-1994)

Filósofo austríaco, naturalizado britânico, dedicou seu pensamento ao racionalismo crítico. Crítico do princípio indutivo do método científico, Popper formulou o Método Hipotético Dedutivo.

Nesse método, o processo de pesquisa considera o princípio da Falseabilidade a essência da natureza científica. A Sociedade Aberta e Seus Inimigos e A Lógica da Pesquisa Científica são as suas obras mais conhecidas.

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Referências Bibliográficas

MARCONDES, Danilo; FRANCO, Irley. Dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

Thiago Souza
Thiago Souza
Graduado em História e Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.