História da Dança no Brasil

Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

No Brasil a dança tem muitas expressões. Na cultura popular, temos as danças indígenas e folclóricas. Já as formas mais eruditas, foram introduzidas por renomados bailarinos europeus por volta dos anos 1930 com as primeiras escolas de balé.

A dança é uma linguagem universal, um meio de expressão importante desde épocas remotas, assim como a música.

Essa manifestação artística consiste em uma coordenação estética de movimentos corporais, combinando os elementos plásticos, os grandes gestos ou posturas corporais em composição coerente e dinâmica.

A Dança Indígena

As danças mais conhecidas dos povos indígenas brasileiros são o toré, no Nordeste e o kuarup, realizadas no Alto Xingu, no Mato Grosso.

Dança indígena Kuarup.
Indígenas realizando a cerimônia do Kuarup. Autor: Noel Villas Bôas. Foto: wikimedia

As danças indígenas têm aspectos rituais e religiosos, podem ser para celebrar acontecimentos, marcar a puberdade, feitas em rituais fúnebres ou para espantar doenças.

A dança tem importante papel social, está relacionada à vida e aos costumes. Podem ser realizadas em grupo ou individualmente.

São comumente usados diversos instrumentos musicais, além de totens, amuletos e imagens, e também algumas máscaras, conforme o motivo do ritual.

Há relatos de autos produzidos pelos jesuítas no século XVI, que catequizavam e ensaiavam indígenas para apresentarem danças que nada se relacionavam com as tradições desses povos.

A Dança Clássica

No século XV surge o balé nas cortes da Itália, originado dos grandes bailes de rua se tornou um pequeno baile, o "balletto". Mais tarde, foi introduzido na França por uma rainha italiana e se difundiu por outros países europeus, como Inglaterra, Dinamarca e Rússia.

No século XVII, o balé deixa de acontecer nos salões e ocupa os palcos, quando surgiram os primeiros espetáculos de dança.

O balé passou por várias fases, tendo sido influenciado pelo romantismo no século XIX, assim como as outras artes.

No início desse século, teve grande importância a Companhia de Diaghilev, o Ballet Russo, que expandiu a influência russa pela Europa e Ocidente.

Na companhia atuou Vaslav Nijinsky (um dos melhores bailarinos conhecidos e autor de peças), além de Michel Fokine, Anna Pavlova e Balanchine. Esses bailarinos marcaram essa fase da dança clássica, que reunia uma brilhante técnica com certas inovações da época.

Primeiro Balé no Brasil

Segundo consta, o primeiro balé teria sido apresentado no Rio de Janeiro em 1813, no Real Theatro de São João, hoje João Caetano.

Um impulso importante ao balé brasileiro deve-se à visita de algumas companhias renomadas, como a de Diaghilev. Em 1913 e 1917 veio Nijinsky e depois Pavlova (1918 e 1919), que se apresentaram no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Maria Olenewa, primeira-bailarina da Companhia de Pavlova, acabou por se instalar no Rio de Janeiro. Ela conseguiu criar uma escola de balé clássico sob sua direção no Teatro Municipal, oficializada em 1930.

Outra escola foi fundada nesse período em Curitiba, por Tadeuz Morozowicz, a primeira do sul do país. Nessa época, vários bailarinos vindos de importantes companhias europeias se instalaram no Rio de Janeiro.

Os Balés Brasileiros

Os primeiros balés brasileiros buscaram criar identidade usando temas indígenas em suas apresentações. Assim como aconteceu em outras áreas, como o indianismo na literatura.

O espetáculo "Arirê e o Pássaro Ferido", assinado por Naruna Corder nos anos de 1930, foi um dos primeiros no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Nesse período, as escolas de balé não buscavam a excelência na dança, como nas escolas europeias. A ideia era introduzir uma atividade física e até mesmo dar noções de etiqueta às alunas (a maioria era da alta sociedade carioca).

Os espetáculos eram uma forma de apresentar o trabalho desenvolvido e, ao mesmo tempo educar o públicopouco acostumado com o bailado.

Primeira Instituição de Ensino Superior

Em 1956 foi criada a Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a primeira instituição oficial de ensino superior da dança no país.

Inicialmente dirigida por Yanka Rudzka, bailarina polonesa ligada ao expressionismo alemão. Rudzka desenvolveu um trabalho ligado à improvisação e ao candomblé, também com forte componente teórica.

Pela escola passaram nomes importantes da dança no Brasil, como Clyde Morgan, Dulce Aquino, Roger George, Lia Robatto, Teresinha Argolo, o casal Vianna, Graciela Figueroa, entre outros.

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A Dança Moderna

No final do século XIX acontece uma revolução no balé originando a dança moderna. Há uma nova preocupação com os movimentos executados, que se tornam mais livres, e se exploram outras possibilidades de trabalhos corporais que se utilizam de torções, contrações, quedas e improvisações.

A americana Isadora Duncan que dançava descalça com vestidos de seda, lembrando as dançarinas gregas, em contraposição às vestimentas tradicionais do balé, causou polêmica na época.

Duncan é considerada criadora da dança moderna, outros nomes importantes são Marta Graham, Émile Jacques-Dalcroze, Mary Wigman, Rudolf von Laban, entre outros.

A dança moderna foi introduzida no Brasil por bailarinos de renome que fugiam da Segunda Guerra Mundial. Luiz Arrieta, Maria Duschenes, Marika Gidali, Nina Verchinina, Oscar Araiz, Renée Gumiel e Ruth Rachou são alguns desses bailarinos que trouxeram ao país novas ideias.

A Dança Contemporânea

A dança contemporânea não se define em movimentos específicos. Diferente da dança clássica e da moderna, não possui um código que seja facilmente identificado, por isso, as vezes pode causar um estranhamento do tipo: "isso é mesmo dança?"

É resultado da influência de outras linguagens e utilização de técnicas, criando uma nova abordagem da dança, que vai além da habilidade corporal e da produção de coreografias.

Usa métodos como Laban, Contato-Improvisação, além de técnicas somáticas e de conscientização do corpo e movimento como Eutonia, Feldenkrais, Movimento Autêntico, Klauss Vianna (no Brasil), entre outras.

Ela se relaciona fortemente com o teatro e seus elementos, além de usar vídeo, fotografia e outras formas de comunicação.

Um exemplo de companhia de dança contemporânea brasileira é a Quasar Cia de Dança.

"Céu na Boca" -- Quasar Cia de Dança no Auditório Ibirapuera Ver no YouTube

O Casal Vianna

Klauss Vianna e sua mulher Angel, se conheceram na época de escola em Belo Horizonte. Estudaram nos anos 1940 no Balé de Belo Horizonte com Carlos Leite (discípulo de Olenewa). Começaram a lecionar na casa onde moravam.

Fundaram o Balé Klauss Vianna em 1959, que rompeu com a estética clássica. Mudaram para Salvador em 1962, para lecionar na UFBA, e em 1965 foram para o Rio de Janeiro, onde passaram a desenvolver profundamente o seu trabalho.

Klauss foi pioneiro na pesquisa e aplicação da técnica somática, além daquelas que criou como preparador corporal de atores, que lhe permitiram desenvolver um método próprio. É considerado o primeiro a usar o termo "expressão corporal" no Brasil.

Angel ao longo do seu desenvolvimento profissional, sempre se interessou pela relação corpo e mente, sendo referenciada por seu trabalho de dançaterapia e expressão corporal.

Ele criou o curso de Recuperação Motora e Terapia através do Movimento na sua escola. Já recebeu vários prêmios e homenagens pelo seu trabalho.

Primeira Escola de Dança Contemporânea

Em 1975 o casal fundou sua escola, primeiramente chamada de Centro de Pesquisa Corporal - Arte e Educação. Inauguraram assim, o primeiro curso de formação de bailarinos contemporâneos no Rio, atualmente chamada Escola e Faculdade Angel Vianna, que oferece cursos de graduação e pós-graduação.

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.