Quincas Borba

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Quincas Borba é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis. Publicado entre 1886 e 1891 na Revista Estação, a obra é composta de 201 capítulos curtos.

Ela faz parte da trilogia realista do escritor, ao lado de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro.

Personagens da obra

  • Rubião: professor, enfermeiro e protagonista da história. Ele é o herdeiro do filósofo Quincas Borba.
  • Cristiano Palha: esposo de Sofia e suposto amigo de Rubião, mas que afinal está somente interessado em sua fortuna.
  • Sofia Palha: esposa de Cristiano e que por fim, fica interessada em Carlos Maria. Ela apoia o marido em suas ações.
  • Carlos Maria: homem que desperta o interesse de Sofia e que por fim, casa-se com sua prima.
  • Maria Benedita: prima de Sofia e esposa de Carlos Maria.
  • Camacho: advogado, político e falso jornalista que também se aproveita da fortuna de Rubião.

Resumo da obra

O título do livro está relacionado com o filósofo Quincas Borba, que logo no início da história falece.

Com a morte dele, Pedro Rubião de Alvarenga, discípulo do filósofo e seu enfermeiro particular, é agraciado com uma grande herança.

Resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, num palacete no Botafogo. Antes, ele vivia numa fazenda na cidade mineira de Barbacena.

Além disso, Rubião fica encarregado de cuidar do cão de seu amigo, que também se chamava Quincas Borba.

Sendo assim, a obra narra a história de Rubião, ex-professor primário e enfermeiro, que resolve mudar sua vida provinciana passando a viver na cidade. Durante sua trajetória, ele conhece o casal Palha: Cristiano e Sofia.

A partir disso, ele começa a ter contato com diversas características que o levam a se tornar um “professor capitalista”.

Isso porque na sua ingenuidade, que estava ligada a vida simples que levava, Rubião foi visto como uma pessoa que facilmente poderia ser ludibriada. Assim, passa a conviver com seus novos “amigos”, o casal Palha.

Extasiado pela beleza e meiguice de Sofia, Rubião acaba por se interessar pela moça. Num momento, ele revela seu amor, porém é rejeitado pela personagem. Fiel a seu marido e suas ações, Sofia conta a Cristiano.

Mesmo sabendo, ele continua a relação com Rubião, uma vez que tinha interesses maiores, relacionados com sua fortuna.

Triste com a decisão de Sofia, Rubião, aos poucos, vai sendo acometido pela loucura. Ele crê ser Napoleão III e repete incessantemente a máxima de seu amigo falecido Quincas "Ao vencedor, as batatas".

Nas palavras de Quincas Borba:

"Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o carácter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas"

Por fim, Rubião foge para Barbacena e ali morre ele e o cão. Por outro lado, o casal Palha tornam-se ricos.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: Quincas Borba.

Análise da obra

Narrado em terceira pessoa, o narrador da obra possui uma posição imparcial sobre os fatos.

O romance tem como principal característica o foco nas relações sociais da época. Machado faz fortes críticas as relações humanas, por exemplo, o casamento por interesse.

Temas como interesse, traição, poder, aparência, loucura, ironia, imoralidade e falsidade são salientadas na obra de Machado.

Vale notar que na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba é citado pelo escritor. Por isso, Quincas Borba pode ser considerado (em partes) uma continuação de Brás Cubas.

Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora, em Barbacena.” (capítulo IV)

Nas duas obras, Machado menciona sobre a teoria filosófica do Humanitismo criada por Quincas.

Segundo o filósofo, esse conceito está relacionado com a exploração das pessoas e a falta de humanismo na construção das relações sociais.

Assim, nessa luta incessante pela sobrevivência, os ingênuos são manipulados pelos espertos. Sendo assim, os fracos padecem, e os fortes permanecem vivos e manipulando outros.

Trechos da obra

Para compreender melhor a linguagem utilizada no livro, confira abaixo alguns trechos:

Capítulo II

Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... — Bonita canoa! — Antes assim! — Como obedece bem aos remos do homem! — O certo é que eles estão no céu!

Capítulo XCV

Vou agarrá-la antes de chegar ao Catete, disse Rubião subindo pela Rua do Príncipe.

Calculou que a costureira teria ido por ali. Ao longe, descobriu alguns vultos de um e outro lado; um deles pareceu-lhe de mulher. Há de ser ela, pensou; e picou o passo. Entende-se naturalmente que levava a cabeça atordoada: Rua da Harmonia, costureira, uma dama, e todas as rótulas abertas. Não admira que, fora de si, e andando rápido, desse um encontrão em certo homem que ia devagar, cabisbaixo. Nem lhe pediu desculpa; alargou o passo, vendo que a mulher também andava depressa.”

Capítulo CCI

Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o titulo ao livro, e por que antes um que outro, — questão prenhe de questões, que nos levariam longe. Eia! chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”

Filme

Em 1987 foi lançado o longa-metragem Quincas Borba dirigido por Roberto Santos.

Exercícios de Vestibular com Gabarito

1. (ITA-SP) Em 1891, Machado de Assis publicou o romance Quincas Borba, no qual um dos temas centrais do Realismo, o triângulo amoroso (formado, a princípio, pelas personagens Palha-Sofia-Rubião), cede lugar a uma equação dramática mais complexa e com diversos desdobramentos. Isso se explica porque:

a) O que levava Sofia a trair Palha era apenas o interesse na fortuna de Rubião, pois ela amava muito o marido.
b) Palha sabia que Sofia era amante de Rubião, mas fingia não saber, pois dependia financeiramente dela.
c) Sofia não era amante de Rubião, como pensava seu marido, mas sim de Carlos Maria, de quem Palha não tinha suspeita alguma.
d) Sofia não era amante de Rubião, mas se interessou por Carlos Maria, casado com uma prima de Sofia, e este por Sofia.
e) Sofia não se envolvia efetivamente com Rubião, pois se sentia atraída por Carlos Maria, que a seduziu e depois a rejeitou.

Alternativa d: Sofia não era amante de Rubião, mas se interessou por Carlos Maria, casado com uma prima de Sofia, e este por Sofia.

2. (PUC-RS) No início de Quincas Borba, a personagem Rubião avalia sua trajetória, enquanto olha para o mar, para os morros, para o céu, da janela de sua casa, em Botafogo. Passara de .......... a capitalista ao ........... . Mas, no final do romance, o personagem acaba morrendo na miséria.
As lacunas podem ser correta e respectivamente preenchidas por:

a) jornalista – receber um prêmio
b) professor – receber uma herança
c) enfermeiro – se tornar comerciante
d) filósofo – investir em terras
e) enfermeiro – se casar com Sofia

Alternativa b: professor – receber uma herança

3. (UFRGS-RS) Assinale a alternativa correta em relação a Quincas Borba, de Machado de Assis.
a) O título do livro, como esclarece o narrador, refere-se ao filósofo Quincas Borba, criador do “Humanitismo”.
b) Quincas Borba é apenas um interiorano milionário explorado por parasitas sociais como Palha e Camacho.
c) Rubião é objeto de disputa amorosa entre a bela Sofia e Dona Tonica, filha do major Siqueira. d) Rubião, sócio do marido de Sofia, comete adultério com ela sem levantar suspeitas.
e) Ao fugir do hospital, Rubião retorna com Quincas Borba à sua cidade de origem, Barbacena.

Alternativa e: Ao fugir do hospital, Rubião retorna com Quincas Borba à sua cidade de origem, Barbacena.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.