Dom Casmurro

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Dom Casmurro é uma das maiores obras do escritor realista brasileiro Machado de Assis (1839-1908). Com 148 capítulos titulados, o romance foi publicado em 1899.

Personagens da obra

  • Bento Santiago (Bentinho): protagonista e narrador da história.
  • Capitu (Capitolina): vizinha e grande amor de Bento.
  • Dona Glória: mãe de Bento.
  • Pedro de Albuquerque Santiago: pai falecido de Bento.
  • José Dias: médico agregado na casa de Dona Glória.
  • Cosme: tio de Bento, advogado e irmão de Dona Glória.
  • Justina: prima de Dona Glória.
  • Senhor Pádua: pai de Capitu.
  • Dona Fortunata: mãe de Capitu.
  • Ezequiel de Souza Escobar: melhor amigo de Bento no seminário.
  • Sancha: amiga de Capitu e mulher de Escobar.
  • Capitolina: filha de Escobar e Sancha.
  • Pequeno Ezequiel: filho de Bento e Capitu.

Resumo da obra

O romance é narrado pelo próprio Bento Santiago, conhecido como Bentinho. Ele é um homem por volta dos seus 60 anos e que está disposto a contar sua história de amor por sua vizinha: Capitu. A trama tem como local a cidade do Rio de Janeiro durante o período do Segundo Império.

Bento começa a descrever sua história desde a infância e a intenção de sua mãe enviá-lo a um seminário para ele se tornar padre. Isso porque Dona Glória fez uma promessa de que faria um homem sacerdote.

Embora tenha tentado inverter a situação, Bento acaba indo para o seminário, no entanto, antes dá um beijo em Capitu. Além disso, promete se casar com ela.

Ali conhece seu melhor amigo, Escobar. Enquanto Bento estuda para ser padre, Capitu se aproxima de sua mãe, Glória.

Confusa com a promessa que havia feito, Glória pretende falar com o Papa para tirar o menino do seminário. Nesse momento, Escobar lhe oferece uma solução.

Como ela havia prometido que faria um menino sacerdote, não necessariamente tinha de ser seu filho. Assim, Bentinho sai do seminário e em seu lugar é enviado um escravo.

Mais adiante, Bento vai estudar Direito no largo São Francisco, na cidade de São Paulo. Depois de formado, ele casa-se com Capitu.

Seu amigo Escobar, casa-se com uma amiga do colégio de Capitu, Sancha, e com ela tem uma filha: Capitolina.

Durante muito tempo os casais saiam juntos e Capitu finalmente fica grávida. Decidem colocar o mesmo nome do amigo na criança em homenagem a ele.

Com a chegada do filho do casal, o pequeno Ezequiel, Bento começa a desconfiar de sua esposa. Isso porque seu filho é muito parecido fisicamente com seu grande amigo Escobar.

Num dos momentos da trama, seu grande amigo Ezequiel morre afogado. Bentinho permanece com a dúvida da traição de Capitu, o que gera diversas discussões entre eles.

Num momento de fúria e confusão, ele tenta matar a criança, mas por fim, Capitu entra na sala. Entretanto, Bentinho chega a dizer para o pequeno Ezequiel que ele não é seu pai.

Por fim, eles se separam e Bentinho vai para a Europa. De volta ao Brasil, torna-se cada vez mais amargurado e nostálgico por sua vida.

Capitu, por sua vez, acaba por falecer no exterior. Após a morte da mãe, o filho tenta uma reaproximação com seu pai, que o rejeita novamente.

Por fim, o filho do casal morre de febre tifoide numa expedição em Jerusalém. Bento constrói uma casa na antiga rua que vivia quando era criança e relembra dos momentos de sua vida.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: Dom Casmurro.

Análise da obra

Narrado em primeira pessoa, o protagonista Bento revela sua história de amor e o drama de sua vida ao se apaixonar por sua vizinha: Capitu.

O romance tem esse nome, pois o narrador recebe o apelido de “Dom Casmurro”, criado por um jovem poeta.

Nota-se, em muitas passagens, a ironia do autor e a crítica à sociedade brasileira da época. Temas como o amor, o ciúme, o caráter e a traição são destacados na obra de Machado.

A verdade é que, ao ler a obra o leitor fica na dúvida, pois em nenhum momento Capitu declara seu envolvimento com o amigo de Bentinho, Escobar.

Como Dom Casmurro é o protagonista e narrador da obra, não sabemos a que ponto a história foi manipula aos olhos dele.

Ou seja, a dúvida que paira é saber se a história relatada por ele trata-se de um verdadeiro adultério ou de um ciúme doentio por parte de Bento.

Machado de Assis conseguiu com grande maestria escrever um drama, unindo a uma história de amor e decepções.

Além disso, ele pretendeu abordar a questão de diferenças de classes sociais, uma vez que a família de Bento era abastada e a de Capitu era pobre.

Saiba mais sobre o tema: Capitu traiu Bentinho.

Filmes

Essa obra de Machado de Assis ganhou uma versão cinematográfica em 2003 com o nome de Dom. O roteiro e a direção foi realizada por Moacyr Góes.

Anteriormente, em 1968, foi lançado o filme Capitu também baseado na obra Dom Casmurro e dirigido por Paulo César Saraceni.

Trechos da obra

CAPÍTULO PRIMEIRO: DO TÍTULO

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos
.”

CAPÍTULO XLIII: VOCÊ TEM MEDO?

De repente, cessando a reflexão, fitou em mim os olhos de ressaca, e perguntou-me se tinha medo.
— Medo?
— Sim, pergunto se você tem medo.
— Medo de quê?
— Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar...
Não entendi. Se ela tem dito simplesmente: "Vamos embora!" pode ser que eu obedecesse ou não; em todo caso, entenderia. Mas aquela pergunta assim, vaga e solta, não pude atinar o que era.
— Mas... não entendo. De apanhar?
— Sim.
— Apanhar de quem? Quem é que me dá pancada?

CAPÍTULO CXXIII: OLHOS DE RESSACA

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.